Voluntariado Internacional: sim ou não?
Há neste blog um post (bem antigo) chamado «Guia de voluntariado Internacional». Na altura, quando estava na faculdade, fiz vários projectos de voluntariado fora de Portugal, com tartarugas marinhas na Grécia, com focas na Holanda e com animais marinhos no Brasil.
Em todos os casos, paguei um valor que me pareceu justo e que cobriu alojamento e, nalguns casos, alimentação. Estamos a falar de um valor que nunca ultrapassou os 350-450 euros por 4-6 semanas.
Na altura, tinha uma percepção boa (e algo ingénua) do voluntariado internacional. Num workshop de escrita, conheci uma rapariga que tinha feito voluntariado com crianças num país do sudeste asiático. O objetivo era ensinar-lhes inglês mas, na prática, acabavam a ensinar-lhes coisas básicas de higiene. A cada duas semanas os voluntários mudavam. Ou seja, aquelas crianças conheciam um voluntário que estava na sua sala de aulas todos os dias, afeiçoavam-se e algumas semanas depois, despediam-se e conheciam um novo.
Mas não é só no voluntariado com crianças que há situações dúbias. Um projecto na África do sul com leões que “namorei” durante muito tempo era, na realidade, uma fachada onde os voluntários pagavam para tomar conta de leões bebés (quem não quereria tal tarefa?) que eram reproduzidos para depois serem vendidos para serem caçados. O projecto vendia-se, no entanto, como um projecto de conservação e as pessoas envolvidas esquivavam-se de responder a muitas perguntas dos voluntários.
Hoje em dia, há muitas empresas (até em Portugal) que “vendem” experiências de voluntariado internacional. Tornou-se um negócio. Pedi valores numa dessas empresas antes de escrever este texto e, por 1000-2000 euros por 2-4 semanas (sem voos) podem ter uma destas experiências. O projecto faz questão de dizer que não se está a pagar para fazer voluntariado, mas sim pelo alojamento e refeições, além de uma parte ser doada para a organização. Mas, a não ser que o alojamento seja num bom hotel (imagino que não), onde é que está o breakdown dos custos para se perceber para onde vai exactamente este dinheiro?
Não sou contra o voluntariado internacional, mas acho que:
Só faz sentido se o voluntário puder efetivamente acrescentar valor no período de tempo que tem disponível (estar duas semanas a ensinar inglês a crianças que nunca aprenderam inglês na vida tem impacto?)
Só faz sentido se o projecto for ético (a melhor forma de contornar isto é pesquisar pelo projecto no google e ler relatos de voluntários ou contactar diretamente o projecto e fazer perguntas - se forem pouco transparentes nas respostas, podem estar a esconder alguma coisa)
Só faz sentido se os valores pedidos forem justos, se estivermos a falar de associações e houver transparência em relação ao destino dos valores pagos
Só faz sentido se não for um disfarce para exploração laboral - como acontece, por exemplo, neste caso em Portugal e que está muito presente em plataformas como a workaway onde os “voluntários” acordam trabalhar x horas por dia em empresas privadas (como quintas ou escolas de surf) a troco, por exemplo, de estadia e alimentação
Continuo a achar que há espaço para o voluntariado internacional, mas também acho que há muitas coisas que são, hoje em dia, vendidas como “voluntariado” mas que, na realidade, não o são. Infelizmente, as boas intenções não chegam para garantir que não estamos a participar nalguma coisa de que nos vamos arrepender mais tarde.