Um quarto só seu de Virginia Woolf
No último sábado, assisti à sessão do clube de leitura Heróides para a discussão do livro da Virginia Woolf «Um quarto só seu».
Este livro é uma coleção de ensaios sobre a condição da mulher e foi aqui que Woolf escreveu que, para escrever ficção «uma mulher tem de ter dinheiro e um quarto só seu».
Porque é que os homens bebiam vinho e as mulheres água? Porque é que um sexo era tão próspero e outro tão pobre? Que efeito tem a pobreza na ficção? Que condições são necessárias para a criação de obras de arte?
Woolf começa o livro com uma série de perguntas e vai tentando responder ao longo dos seus ensaios.
Já não foi a primeira vez que assisti a este clube do livro, embora tenha sido a primeira vez que consegui efetivamente ler o livro de que se ia falar, e gostei muito. As intervenções acrescentam muito à discussão do livro e, nos comentários, partilharam-se artigos e histórias.
Um deles foi este estudo que achei particularmente interessante (ou preocupante). Foi pedido a crianças do Reino Unido que desenhassem uma série de profissões. No final, 81% desenharam enfermeiras mulheres e 80% desenharam banqueiros homens. Quando se perguntou às crianças o que queriam ser quando crescessem, as raparigas responderam profissões como enfermagem e ensino e os rapazes ser bombeiro, polícia ou jogador de futebol.
Em 2016, quando Hillary Clinton era candidata à presidência dos Estados Unidos, fez-se um estudo semelhante. Foi pedido a crianças que desenhassem um líder político. Mais de 80% desenharam um homem e apenas 15% uma mulher. Das crianças que desenharam homens, 47% desenharam figuras políticas conhecidas dos Estados Unidos (como Donald Trump ou Barack Obama). Das que desenharam mulheres, só 19% conseguiram desenhar uma mulher da política americana (como Hillary Clinton, Michelle Obama ou Elizabeth Warren).
Como mostra este estudo, quanto mais mulheres se tornam visíveis na política e aparecem na comunicação social, maior a quantidade de raparigas que têm a intenção de ser politicamente ativas.
(E nós, que descemos o número de mulheres no parlamento nas últimas legislativas?)
Enfim, o livro de Março do clube é o «Holocausto brasileiro» de Daniela Arbex e as inscrições são online.