Um cão no meio do caminho de Isabela Figueiredo
Gosto que a sinopse deste livro diga pouco sobre ele. «Um cão no meio do caminho» conta-nos a história de um homem e uma mulher que sofrem, cada um à sua maneira, de solidão.
O livro começa com dois vizinhos, José Viriato, que vive a vida a recolher o lixo dos outros e a vendê-lo e da misteriosa vizinha Beatriz. O acaso junta-os e a pergunta deste livro é o que resulta quando se juntam duas solidões.
A memória é a mais poderosa base de dados. Ela regista as experiências dos sentidos, os diálogos e as vivências. Regista o que queremos guardar e o que gostávamos de esquecer. Por vezes, arranjamos estratégias para fugirmos à memória. Criamos informação que encaixamos no lugar do que pretendemos eliminar, mas por debaixo da toalha está sempre a verdade palpitando como um órgão saudável. A memória de cada um é o seu bilhete de identidade íntimo.
Foi o primeiro livro de Isabela Figueiredo que li que me foi recomendado, na mesma semana, por duas pessoas diferentes e, por isso, tinha as expectativas altas. Mas, ainda assim, saí surpreendida. Que livro!
A liberdade não era um valor permanente nem absoluto. Não havia um único ser humano livre. Nem os viajantes sem destino. Todos temos uma prisão, por vezes, secreta. Aquilo que ainda não se realizou. Aquilo que nunca deveria ter acontecido. Prisões simbólicas que as nossas almas habitam no silêncio.
Não só recomendo, como quero ler tudo o que Isabela Figueiredo já publicou.
Aproveitem também para ver uma entrevista com a autora no Instagram Os livros da lena.