Tudo o que ficou por dizer de Celeste Ng
«Tudo o que ficou por dizer» é o primeiro livro de Celeste Ng, autora de «Pequenos fogos em todo o lado», um livro de que gostei muito. Tal como no pequenos fogos, demorei algum tempo a acostumar-me com a história e com os personagens e, a partir daí, li o livro em poucos dias.
Celeste Ng tem uma escrita de que gosto muito. É fluida mas pensada, racional, cheia de detalhes e pormenores. Escreve sem pressa, construindo as personagens e a história aos poucos. Afinal, não há motivo para pressa porque, tal como no pequenos fogos, este livro também começa pelo fim. Desde o primeiro capítulo que sabemos que Lydia morreu. Os seus pais e irmãos estão perdidos, e querem saber como e porquê.
Talvez as comparações sejam um bocadinho injustas e talvez seja mais injusto ainda ter pensado que este livro, por ser bem menos conhecido que o pequenos fogos, seria menos interessante. Mas, na verdade, achei o contrário. Gostei muito de pequenos fogos mas fiquei rendida a este livro. Ao longo dos capítulos, a autora vai tecendo uma teia para explicar a morte de Lydia. Uma teia que passa por todos os personagens e que vai revelando aquilo que têm de mais humano– as suas falhas, as expetativas que os outros têm sobre eles, os seus medos, os sonhos abandonados e os desejos que todos temos de ser aceites, compreendidos, valorizados.
Este é um livro sobre uma família que tal como diria Tólstoi é infeliz à sua maneira. Mas é também verdade que cada família tem as suas próprias complexidades e é isso que este livro traz à tona e que há de comum entre todos nós.