Trevor Noah: Back to abnormal tour
Quatro anos depois de ter lido e adorado o livro do Trevor Noah, fui ver um espectáculo de stand-up da tour “Back to Abnormal”, em Dublin.
Para começar, os bilhetes estavam à venda no Ticketmaster. O espectáculo era de 2020, foi adiado para 2022 por causa do que todos sabemos, e só havia bilhetes que tinham sido devolvidos e estavam em “resell”. Se abrisse o site do Ticketmaster num dia havia bilhetes a 50 euros. No dia seguinte, estavam a 300. No outro, estavam a 100. Os mesmos bilhetes! Sem nenhum tipo de critério.
Não me admira que o John Oliver tenha feito um episódio que é uma espécie de exposé das práticas pouco éticas desta empresa.
Inicialmente, pensei que o stand-up pudesse não ser muito interessante porque, a julgar por vídeos que vão sendo publicados no Youtube de tours anteriores, uma boa parte dos shows são sobre o local em si, neste caso sobre a Irlanda, e podiam não me fazer muito sentido.
Acho que Trevor acabou por ter a vida facilitada na Irlanda. Noah nasceu na África do sul e foi depois viver para os Estados Unidos. Em comum, a Irlanda e a África do sul têm o facto de terem sido ambas colonizadas pelos ingleses. E se ele aproveitou isso! Desde o sotaque dos irlandeses e a sua simpatia, até ao snobismo da família real britânica, uma boa parte do stand-up andou em torno das diferenças entre britânicos e irlandeses.
Esta tour foi adiada pela pandemia. E a pandemia foi, provavelmente, o tema em que as pessoas mais se riram com uma espécie de culpa própria.
Quantos de nós não dizíamos nos idos tempos de 2019, o quão bom seria termos mais tempo? Muita gente sonhava passar mais tempo com a família. Quantos pais não queriam ficar em casa com os filhos (e depois só queriam que as escolas abrissem)? Quantas pessoas não sonhavam trabalhar em casa (e depois passaram dois anos a maldizer o zoom)?
A pandemia deu-nos tudo isto e não foi nada como sonhávamos. É caso para dizer: Be carefull with what you wish.
O stand-up foi incrível. Imagino que seja pouco provável Trevor passar por Portugal, mas adorava que isso acontecesse.
Foi hora e meia que passou a voar e acabou tarde. Não havia ubers nem táxis. Em Dublin, conseguem chamar um táxi pela aplicação da uber e fica metade do valor de um uber. No entanto, às sextas e sábados à noite, os carros preferem ficar a recolher pessoas na rua (porque há muita gente na rua) e não perder parte do valor para a App.
Acontece que os táxis tinham de se pagar em dinheiro, não havia multibancos e só tinha 10 euros. A coisa lá se resolveu a correr para um táxi que estava a largar algumas pessoas e, depois de uma explicação demasiado longa sobre só ter uma nota de 10 euros, o taxista perguntou:
- Where are you from?
- I’m from Portugal.
- Você é de Portugal? Então pode falar português porque eu sou do Brasil. Dez euros tá ótimo.
Já disse que adorei Dublin?