Shuggie Bain de Douglas Stuart
«Shuggie Bain» atraiu-me, em primeiro lugar porque estava na biblioteca (viva as bibliotecas!), e em segundo lugar, porque a história se passa em Glasgow, na Escócia, um país que me interessa muito e que visitei este ano. Nessa visita, quando fui a um pub havia um panfleto dos bombeiros de Edimburgo a pedir às pessoas que, se bebessem demasiado, não fossem fumar para a cama, pelo risco de incêndio. Quão grave tem de ser o alcoolismo num país para se ter de deixar este aviso?
Mas, voltando ao livro. Aqui acompanhamos a vida de Shuggie, que cresce nos anos 80 num bairro social em Glasgow, com dois irmãos mais velhos, já adolescentes, uma mãe alcoólica e um pai maioritariamente ausente.
A escrita de Stuart Douglas é muito bela. Por um lado, o retrato que faz da classe operária da Escócia naquela altura é muito realista. Depois, há qualquer coisa de quase doce na forma como escreve sobre este personagem que nos faz querer continuar a ler.
Shuggie tem uma vida difícil. É uma criança diferente das outras, que gosta de brincar com póneis e detesta jogar à bola e é gozado por isso. É muito protetor da mãe, de uma forma dolorosa para o leitor que tem de acompanhar a forma como esta criança tenta tomar conta da mãe alcoólica dia após dia, muitas vezes, faltando à escola para o fazer e sentindo-se culpado quando as coisas correm mal.
Fiquei curiosa sobre se havia traços autobiográficos nesta história e descobri coisas interessantes. Apesar do livro não ser autobiográfico, Stuart (o autor) cresceu numa família pobre em Glasgow, o pai saiu de casa quando ele tinha apenas quatro anos e ele e os dois irmãos mais velhos foram criados por uma mãe alcoólica com problemas de saúde mental.
Além disso, o autor demorou 10 anos a escrever este livro que foi rejeitado por mais de 40 editores! Stuart acredita que as histórias de operários têm pouca representação na literatura (o que é verdade), daí a falta de interesse em publicar o livro. Quando, finalmente, foi publicado em 2020, ganhou o Booker Prize.
E foi bem merecido, porque é um livro duro, importante e fabuloso, cheio de personagens inesquecíveis. Agora quero ler "Um lugar para Mungo", o segundo livro do autor.