Sabrina de Nick Drnaso: a novela gráfica sobre a loucura do mundo em que vivemos
Ninguém sabe o que aconteceu a Sabrina. Desapareceu. A resposta é divulgada numa cassete de vídeo, enviada às redacções de órgãos de comunicação social, o que dá origem a um frenesim.
Rapidamente, se multiplicam as teorias da conspiração sobre o que terá realmente acontecido a Sabrina. Se esta novela gráfica tivesse lugar no mundo real (e, de certa forma, tem) haveria uma thread no reddit, uma hashtag no Instagram, no Twitter e no Tiktok e toda uma rede de pessoas ligadas a tentar perceber o que aconteceu com Sabrina. A julgar cada comentário feito pela sua família. A avaliar cada gesto das entrevistas de familiares e amigos.
Esta rede somos todos nós. Talvez por isso Sabrina consiga ser uma novela gráfica que, ou se adora ou se odeia. É difícil enfrentar a perversidade que ultrapassa estas páginas e toca o mundo em que vivemos.
No meio do turbilhão, Teddy (o namorado de Sabrina) e Sandra (a irmã de Sabrina) vivem completamente isolados no seu luto e na sua dor, apesar de estarem no centro da rede. Sozinhos na aceitação da tragédia que lhes virou a vida do avesso.
Enquanto o resto do mundo não consegue tirar os olhos da história como os carros que param para ver um acidente na estrada, e não consegue deixar de aderir a teorias da conspiração porque a verdade, nua e crua, a de que coisas horríveis acontecem todos os dias e a todas as horas, pode ser demasiado difícil de aceitar.
Nunca estamos imunes à tragédia. E talvez seja mais fácil, encontrar uma comunidade na internet e tentar juntar as peças do puzzle e procurar uma qualquer justificação para algo que não tem qualquer justificação possível.
Não gostei muito do traço de Sabrina, tem uma simplicidade que faz lembrar aqueles panfletos que ninguém lê nos aviões e que trazem instruções de segurança. Mas acredito que seja propositado. O propósito da história não está nas imagens, está no barulho que rodeia o silêncio dos personagens.
E não consigo deixar de referir que chegamos ao fim sem saber quase nada de Sabrina. Ela que desapareceu. Ela que deu o mote ao frenesim de uma multidão que, mesmo sem intenção, a fez desaparecer ainda mais.