O tempo passa a correr
No outro dia, fui fazer um exame médico. Como era de noite, estava só eu e uma senhora de idade.
Perguntou-me se ainda tinha avós e, quando disse que não, se ainda tinha pais, que idade tinham e o que faziam. Respondi e depois perguntei-lhe se tinha filhos e netos.
Disse-me que veio há 50 anos de África com 4 filhos (portanto, deduzo que no pós 25 de Abril). Lá, trabalhava como administrativa mas, assim que regressou a Portugal e com 4 filhos pequenos, não conseguiu voltar a trabalhar. Só os filhos já davam muito trabalho. Disse, orgulhosa, a profissão de cada um, que já tinha netos e até bisnetos. Mas que, estando todos bem encaminhados, já só se queria ir embora.
Percebia-se que a velhice lhe estava a custar muito. Disse-me que, quando olhava para trás, os 80 anos de vida tinham passado a correr. Mas que, agora, com tantos problemas de saúde, "bom era podermos escolher quando podemos partir e, para mim, já chegou a hora". Fiquei sem resposta.