O teatro de Emma Santos: vivências num hospital psiquiátrico
Este livro foi uma recomendação da Lena. Sabia que o livro estava relacionado com as vivências da autora num hospital psiquiátrico, mas fiquei confusa por se chamar o teatro.
Na verdade, esta edição reproduz o texto que foi representado em palco pela autora entre Dezembro de 1976 e Janeiro do ano seguinte.
Emma Santos escreve sobre a doença mental (ou a loucura como, tantas vezes, lhe chama) e denuncia os métodos arcaicos usados para tratar a própria doença.
A Loucura, imagino-a mulher, alta, inchada pelos medicamentos, semi-nua, só com um roupão de nylon acolchoado às flores roxas ou cor de rosa. Vi-a lá no hospital, todas as doentes eram uma e a mesma, devorando bolos e guloseimas ou de cigarro nos beiços. (...)
A Loucura-Mulher pois há muito que foi castrada, privada da linguagem, sem poder limpar pigarro, ar idiota, malcastrada.
Emma defronta-se com a loucura das instituições psiquiátricas onde foi internada e onde lutou para recuperar a sua voz.
As descargas eléctricas vinham a seguir a algumas cenas do meu quarto vazio, da minha cama, do meu bloco e do meu lápis, aquilo de que eu gosto. (...) Não suportava mais. Gritava de dor. Chamava pela minha mãe.
A solidão que sente nestas instituições é outro tema muito presente no livro:
Entrei definitivamente no país do silêncio. (...) Sinto-me prisioneira neste hospital. Todos me ignoram. Esqueceram-me depressa. A cidade em volta continua a existir, ouço-lhe o rumor. Estou só perdida num deserto. A solidão e o vazio.
O livro tem cerca de 50 páginas e merece ser lido por muito mais gente. Infelizmente, a edição que é da Assírio e Alvim está esgotada, mas podem fazer como eu e procurar em sites de venda de livros em segunda mão (olx, tradestories, vinted, grupos de venda de livros no Facebook) ou alfarrabistas.