O sentido do fim de Julian Barnes
Estou um bocadinho zangada com este livro, se é que podemos pôr as coisas nesses termos. Trouxe-o da biblioteca porque era pequeno (150 páginas), tinha um título chamativo e uma capa bonita. Queria uma leitura rápida e uma boa história. Senti-me enganada. A história é boa, sim, mas também é crua, visceral, brutalmente honesta de uma forma que me obrigou a pousar o livro várias vezes para assimilar as páginas.
...Adrian também dominou a própria vida, comandou-a, tomou-a nas mãos (...) Quão poucos de nós podem dizer que fizeram o mesmo? Vamo-nos safando, deixando a vida acontecer-nos, acumulamos sucessivamente uma provisão de memórias. Há a questão da acumulação (...) só o simples adicionar e acrescentar de vida. E, como indicou o poeta, há uma diferença entre soma e desenvolvimento.
«O sentido do fim» conta-nos a história de um grupo de amigos de liceu. O narrador é Tony que está agora na última fase da sua vida e se vai confrontar com as memórias da sua amizade com Adrian e o rumo drástico da vida deste amigo.
Mas o tempo... o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e de não as enfrentar. Tempo... deem-nos tempo suficiente e as nossas decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas... bizarras.
Não quero revelar muito mais até porque, só mesmo no finalzinho é que a história faz todo o sentido. Acredito que muitos de vós já tenham lido este livro (já foi editado em 2011) e até já foi adaptado a filme (que ainda não vi). Mas, se não leram, recomendo muito.
Está esgotado nas livrarias, mas há sempre a biblioteca, os alfarrabistas, o olx, o custojusto, o coisas.com, a bibliofeira e os grupos de troca e venda de livros em segunda mão no facebook.