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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

O projeto Rosie de Graeme Simsion

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Tenho sempre dúvidas se devo ou não escrever uma opinião quando não gostei de um livro. A experiência de ler um livro é sempre subjetiva. Além disso, não é comum escrever críticas negativas porque se não estou a gostar de um livro, abandono a leitura e não tenho muito a dizer. Ou, pelo menos, nada que mereça a pena escrever um texto. Neste caso, fui buscar o livro à biblioteca e li-o até ao fim. Nem eu sei bem porquê.

«O projeto Rosie» conta a história de um personagem autista, o Don Tillman, que decide criar um questionário para encontrar uma parceira para casar. Pelo meio, acaba por conhecer a Rosie. 

Começando pelas coisas de que gostei. É um livro leve, que se lê rapidamente. Gostei da personagem da Rosie e da história familiar dela. E é só.

O Don é um personagem autista mas o autor não se quis comprometer a escrever isso no livro. O que significa que foi dando pistas ao longo da história. Don faz palestras sobre autismo, teve uma série de diagnósticos psiquiátricos errados, tem uma série de traços autistas. Enfim, depois da primeira referência em que ele faz palestras sobre o assunto, acho que o leitor já percebeu a ideia.

Depois temos o Don que é basicamente uma versão em livro do Sheldon Cooper. Alguém no Goodreads escreveu que este livro era o "Sheldon in love" e sim, resumidamente, o Don é um conjunto de estereótipos (o génio autista que não consegue encontrar o amor). É uma história que vende, ou não tivesse este livro sido um bestseller, mas achei redutora e repetitiva. O Don está a milhas de ser uma personagem complexa, em camadas como são, por exemplo, os dois personagens autistas da série «Everything's gonna be okay» que são interpretados por atores autistas. Nessa série, os personagens são genuínos, reais, têm qualidades e defeitos e uma personalidade. É uma pequena maravilha esta comédia australiana. Também há a personagem do «Gambito de gamas» em que, embora sem confirmação, há uma página no reddit dedicada a reunir os traços autistas da personagem.

Também me incomodou o livro girar em torno da "piada" que é o personagem ter criado um questionário para encontrar uma namorada. Algumas das questões são se é ou não fumadora, se consome álcool, etc. Mas não é isso que fazem os sites de encontros online ou, pelo menos, uma parte deles? Acho que posso dar um desconto porque o livro foi publicado em 2013 mas, pelos vistos, o Don estava à frente do seu tempo.

Enfim, a história é previsível, o Sheldon (desculpem, o Don) é previsível e o desfecho adivinha-se lendo a sinopse. No final, o Don decide mudar para agradar à Rosie, o que é sempre boa ideia... 

Também achei estranho o livro, publicado cá em 2016, referir que estava a ser adaptado ao cinema. Não encontrei nenhum trailer mas, pelos vistos, vai ser filmado em 2022. Acho que tende a correr mal adaptar um filme quase 10 anos depois do livro. Fizeram o mesmo com o «Onde estás, Bernadette». Gostei do livro mas quando vi o filme achei-o muito datado.

Este Rosie é o primeiro livro de uma trilogia mas não creio que vá ler os outros dois. Sei que há muita gente que gosta deste livro, mas eu não consegui ficar convencida.

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