O meu pai voava de Tânia Ganho
O ano passado, por ter perdido a minha avó, acabei a ler muitos livros sobre luto, como «Amor e perda» de Amy Bloom, «Uma morte suave» de Simone de Beauvoir, «Notas sobre o luto» de Chimamanda, «O ano do pensamento mágico» de Joan Didion, «A ridícula ideia de não voltar a ver-te» de Rosa Montero e «Crying in H Mart» de Michelle Zauner. Este ano, tenho andado a fugir de livros sobre o tema, mas não consegui resistir a ler «O meu pai voava» de Tânia Ganho sobre a morte do pai.
Confesso que foi um livro difícil de ler, porque passei pelo mesmo processo com a minha avó. Começar lentamente a esquecer-se das coisas até se lembrar de muito pouco:
Lembro-me de o ver sentando na borda da cama, olhando, perplexo, para as mangas de um pulôver, sem perceber o que fazer com elas.
Falar do lado cru, tão feio, tão triste, da doença de Alzheimer.
Uma violência.
Revi-me, talvez, demasiado e muito pouco. O pai de Tânia Ganho era um importante urologista. A minha avó veio de Trás-os-Montes para Sintra para ser empregada doméstica muito cedo. Mal sabia escrever e nunca foi à escola, a não ser quando já era avó. Só trabalhou como empregada doméstica e costureira. Além disso, já passou tempo suficiente desde a sua morte para me relembrar dos seus defeitos. A minha avó foi uma pessoa diferente para diferentes pessoas e em diferentes fases da vida (não somos todos?). Foi, por exemplo, uma muito melhor avó do que foi mãe e custa-me ouvir alguns relatos da minha mãe sobre como a minha avó a tratava, porque a minha experiência foi, felizmente, a de uma avó maioritariamente dócil e preocupada.
Em comum, a minha avó e o pai da Tânia Ganho têm um final triste, prolongado por uma doença que é demasiado cruel para todos, para quem a sofre e para todos os que os rodeiam.
Achei que este livro, apesar de duro, foi uma bonita homenagem ao pai da Tânia Ganho. Além disso, adorei o título e a fotografia que lhe está associada.