O centro de reabilitação de focas na Holanda
Este post estava nos rascunhos há uns bons anos, mas o livestream deste centro de reabilitação de focas na Holanda tornou-se viral recentemente no Japão (coisas da internet) e acabou por ser a desculpa perfeita para finalmente o publicar.
Passei um verão, em 2015, a fazer voluntariado neste centro que fica na cidadezinha de Pieterburen no norte da Holanda. Basicamente, há duas espécies de focas na Holanda, as focas-comuns, que aparecem no centro no verão, e as focas-cinzentas, que aparecem no centro no inverno. Por isso, só lidei com focas-comuns (que, segundo consta, são bem mais simpáticas do que as cinzentas...). Estas focas nascem em Maio ou Junho e ficam em bancos de areia onde mamam pela primeira vez. Assim que a maré sobe, nadam imediatamente no mar. Se, por alguma razão, a mãe e a cria se separarem, a cria fica a chorar (sim, é mesmo parecido com chorar a sério) na praia, na estrada ou no quintal de alguém e acaba por ser trazida para o centro.
Quando chegam, as focas ficam numa quarentena individual até se perceber o que há de errado com elas (podem ter ingerido plástico, ter ficado presas em plástico, ter as barbatanas danificadas por barcos, estar infectadas com parasitas respiratórios, ter uma infecção viral, ter sido atacadas por cães, enfim). Nesta fase inicial, são alimentadas com um tubo que vai até ao estômago e com uma papa de peixe.
Só depois dos problemas de saúde estarem resolvidos, é que as focas passam para a segunda fase da reabilitação, onde têm contacto com outras focas e uma pequena piscina. Aqui tentamos que comecem a comer peixe dado à mão.
Quando já têm mais peso e conseguem comer peixe dentro de água, passam para as piscinas exteriores (as que aparecem no livestream) onde estão com um grupo maior de focas que vão ser libertadas todas em conjunto assim que tiverem 30 kg. Além disso, todas as focas saem com uma tag numa barbatana caudal para serem identificadas mais tarde, se alguma vez voltarem ao centro.
O centro tem condições incríveis para os animais e consegue receber dezenas ou até mais de cem focas ao mesmo tempo. Por exemplo, quando tínhamos focas com infecções virais, além do equipamento normal (pijama cirúrgico, touca, máscara, crocs e pezinhos por cima) usávamos uma bata descartável e tínhamos de trocar tudo e tomar banho antes de tratarmos da foca seguinte, para evitar passar a infecção de uma foca para a outra.
Além disso, as focas são animais muito brincalhões. Nas piscinas exteriores, tentávamos sempre arranjar brinquedos (bastava uma mangueira ligada dentro de água para elas passarem horas na brincadeira) e, às vezes, mordiscavam-nos as calças para entrarmos dentro de água com elas. E, claro, sempre que viam um telemóvel ou uma máquina fotográfica ficavam curiosas:
O centro vai mudar de instalações no próximo ano mas, até lá, pode ser visitado. Pieterburen fica próximo de Groningen que fica a poucas horas de comboio de Amesterdão. Os visitantes têm um centro educativo e podem espreitar todas as três fases do processo de reabilitação. Também podem participar na libertação de focas, se quiserem.
Numa caixa para ser devolvida ao mar
Focas a serem devolvidas ao mar
Também há, na Holanda, uma espécie de miradouro onde conseguem ver as focas em liberdade:
Tenho boas memórias da experiência. A maioria dos voluntários eram espanhóis, por isso, tínhamos uma boa relação. Partilhávamos uma casa. Comíamos, andávamos de bicicleta até nos doerem as pernas, víamos filmes e comíamos mais um bocadinho, usávamos o carro do centro para ir passear a outras cidades, invadíamos o parque infantil para saltar nos trampolins (a Holanda e a sua paixão por trampolins gigantes...). Enfim, foi um verão diferente e bem passado.