Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

O castelo de vidro de Jeannette Walls

Fiquei curiosa com este livro quando vi o trailer do filme, a estrear em Portugal depois do Verão. Mais ainda quando, no início do trailer, começa a tocar “Sleep on the floor” dos The Lumineers. Uma das minhas músicas preferidas. Como se não bastasse, ainda conta com Brie Larson e Naomi Watts e o realizador é Destin Daniel Cretton, que também fez Short term 12.

castelo-de-vidro.JPG

Castelo de vidro conta a história da família de Jeannette Walls desde a sua infância até à vida adulta. Os pais são nómadas e viajam de cidade em cidade com os quatros filhos. O pai é alcoólico, a mãe é artista e ambos renegam a responsabilidade de educar os filhos que ficam quase sempre entregues a si próprios.

Perguntei-me se o fogo viera para me tentar apanhar. Perguntei-me se todo o fogo estaria relacionado, da mesma maneira que o pai dizia que todos os humanos estavam relacionados (...) Não tinha resposta para estas perguntas, o que sabia era que vivia num mundo que, a qualquer momento, podia desatar a arder.

Jeannette é jornalista e isso nota-se na sua escrita, limita-se a contar aquilo que aconteceu de forma crua. Há alguns apontamentos sobre como se sentiu ou o que pensou na altura, mas são raros. No fim de contas, este livro é uma mão cheia de histórias de uma família disfuncional.

Qual é o papel que a nossa infância tem no resto da nossa vida? Até que ponto somos influenciados pelas atitudes dos nossos pais? Estariam aqueles miúdos melhor se tivessem sido entregues aos serviços sociais? Deixar as conclusões para o leitor é o triunfo deste livro. Nada nos é imposto. As histórias são estas e somos livres de sentir e de pensar o que quisermos. Somos livres de gostar dos pais destes miúdos ou de os detestar, de nos indignar-mos com a sua irresponsabilidade, de rirmos e de chorarmos.

Este livro é, para mim, sobre a forma como achamos que conhecemos as pessoas que nos são próximas, mas com o tempo vamos percebendo que não é assim tão simples. As personagens são reais, humanas e complexas. Tanto se desfazem como se compõem, numa teia de eventos que não tem de fazer sentido. Afinal, esta é uma história real, da primeira à última página.

À medida que a história avança, a vontade é acelerar a leitura para saber como termina. O final é como tudo o resto neste livro - cru. Levanta muitas perguntas e não tem respostas para nós. Talvez elas não existam. Talvez a busca incessante pela ordem só nos faça ficarmos mais perdidos no caos. Enfim, leiam o livro e decidam por vocês. O filme (só) chega depois do Verão mas, se fizer justiça ao trailer (e ao livro) será um dos melhores filmes deste ano.