Não, não quero voltar a ler Neil Gaiman
Fui ler a reportagem de Lisa Shapiro para New York Magazine sobre os alegados abusos sexuais perpetuados por Neil Gaiman ao longo de vários anos. Aqui fica apenas um excerto de uma entre oito histórias (e esta é das menos chocantes):
At a reading ten months later, Gaiman suggested that Kendall and two other girls wait for him on his tour bus so they could all hang out after he was done signing. When Gaiman showed up, he pulled Kendall into the back of the bus and lay on top of her. He kept saying, “Kiss me like you mean it,” Kendall remembers. She tried to get into it, but she was panicked. Eventually, Gaiman rolled off her. “‘I’m a very wealthy man,’” she remembers him saying, “‘and I’m used to getting what I want.’” (Years later, Gaiman gave Kendall $60,000 to pay for therapy in an attempt, as he put it in a recorded phone call, “to make up some of the damage.”)
Apesar de não ser dos meus autores preferidos, li Coraline e gostei bastante, vi Sandman na Netflix e também gostei e tencionava ler outros livros do autor, mas isso mudou.
Duvido que conseguisse ler qualquer coisa do autor sem me virem à mente os detalhes grotescos daquela reportagem.
Não quero voltar a ler Neil Gaiman, assim como não quero ler Marion Zimmer Bradley.
Podem ser dois escritores talentosos (não digo o contrário), mas há muitos outros escritores talentosos no mundo que posso ler. Porquê que vou dedicar o meu tempo a duas pessoas que fizeram coisas atrozes? A Neil Gaiman que escrevia livros infantis enquanto abusava de mulheres com o filho de cinco anos em casa? Não, obrigada.
Não quero ouvir dizer que a “cancel culture” vai acabar por cancelar toda a gente. Se cancelar todos os abusadores sexuais, fico muito contente com isso.
Antes de julgar Neil Gaiman, lembre-se de toda a sensibilidade e humanidade da sua obra, a alegria que ela trouxe. Então julgue-o ainda mais severamente, porque sabe que ele sabia como ser uma pessoa decente e escolheu fazer o contrário. Daqui.