Lobos ao Crepúsculo
Nem sempre é fácil ver os lobos no CRLI (Centro de Recuperação do Lobo Ibérico) que fica ali para os lados da Tapada de Mafra. Este centro é um santuário que recebe animais de outros locais que ficam sem espaço para eles e de pessoas que acharam boa ideia ter uma cria de lobo em casa e mudaram de opinião quando a cria se transformou num lobo adulto.
Mas dizia eu que nem sempre é fácil vê-los. São noturnos e, como vivem neste centro para o resto da vida (não podem ser devolvidos à natureza porque não iam sobreviver) as instalações são enormes e cheias de vegetação, o que é ótimo para os animais, mas torna mais difícil observá-los.
Quando vi que o centro estava a organizar visitas ao crepúsculo durante o Verão, lá fui, na esperança de que, sendo mais tarde, fosse possível ver alguns lobos. Pouco depois da visita guiada ter começado já estávamos a olhar para um casal de lobos à nossa frente. Uma fêmea sentada, sem qualquer receio, e um macho, mais tímido atrás dela. Não fazia ideia que os lobos se confundissem tanto com a vegetação.
Foi anoitecendo e estava um pouco mais difícil ver os animais. O guia falava em frente ao grupo e de costas para uma das instalações quando “espera, aquilo é um lobo?”. Uma sombra em forma de lobo, grande (bem maior do que um cão) se aproxima da vedação. Quando está mesmo à nossa frente, levanta a cabeça na nossa direção e olha-nos por um longo momento, decide que não somos importantes (imagino eu) e vira as costas. “Espera, está ali outro”. Estes dois lobos são irmãos e jovens, ficam a brincar um com o outro a escassos metros de nós. “É de noite e, por isso, ficam muito mais confortáveis, mesmo com pessoas aqui” explica o guia.
Não sei quanto tempo durou este momento, mas pareceu muito longo. Dois lobos a brincar, duas sombras a mexer-se na escuridão. Se não soubesse que estavam ali, jamais os conseguiria descobrir. Por isso, até desconfiei das histórias da minha avó sobre os lobos que via em Trás-os-Montes há décadas atrás e que comiam o gado. “Mas conseguias mesmo vê-los? De noite?” “Sim”. A verdade é que nessa altura havia muito mais lobos pelo norte (e em Espanha) e, por isso, também é normal que se aproximassem mais das pessoas, para chegar ao gado.
Hoje em dia, o grupo lobo tem uma série de medidas para estas interações não acontecerem, como o treino de cães pastores que depois são oferecidos a quem precisa. Assim, os lobos aproximam-se muito menos e os que ainda existem por Portugal podem viver pacificamente num ambiente partilhado com pessoas.
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