Leituras sobre luto: Simone de Beauvoir e Chimamanda
Notas sobre o luto de Chimamanda Adichie - Talvez por ter lido anteriormente «O ano do pensamento mágico» de Joan Didion, depois «Uma morte suave» e só depois este livro, achei que esta leitura ficou um bocadinho aquém em comparação com os restantes. Neste livro, Chimamanda fala sobre a morte do pai, durante a pandemia. A autora estava nos Estados Unidos e, numa altura em que os aeroportos estavam fechados, o pai morreu na Nigéria, portanto, toda a experiência do luto foi feita à distância. É um livro curtinho, que se lê num instante, mas não me marcou muito. Ainda assim, pretendo ler outros livros da autora (e tenho imensos na minha wishlist!).
Uma morte suave de Simone de Beauvoir - É verdade que Beauvoir (tal como Chimamanda) é mais conhecida pelos seus escritos feministas (que ainda não li), mas também escreveu romances e não ficção, nomeadamente este livro incrível sobre a morte da mãe.
Para mim, a minha mãe tinha existido sempre e eu nunca tinha pensado seriamente que ela desapareceria um dia, dentro de pouco. O seu fim, tal como o seu nascimento, situava-se num tempo mítico. Quando eu pensava: ela é suficientemente velha para morrer, eram palavras ocas, como tantas. Pela primeira vez, eu vislumbrava nela um cadáver a prazo.
O livro é um longo ensaio sobre a mãe ter passado de ser uma pessoa independente para estar numa cama de hospital, depois de sofrer uma factura no fémur após uma queda, até à sua morte.
É um livro muito bom, com muitas passagens dolorosas... mas reais.
A sua morte revela-nos a sua singularidade única; torna-se do tamanho do mundo que desaparece com a sua ausência, que a sua presença fazia existir; parece-nos que o ente querido deveria ter ocupado mais espaço na nossa vida; no limite, todo o espaço. Tentamos libertar-nos desse abismo; era só um indivíduo entre tantos outros. Mas como nunca fazemos por ninguém tudo o que poderíamos (...) resta-nos ainda censurarmo-nos por muitas razões.
A edição é da Cotovia e, infelizmente, com o fecho permanente da editora tornou-se mais difícil arranjar esta coleção, mas ainda se consegue encontrar em sites de venda de livros online e em alfarrabistas. A minha edição veio de um alfarrabista e tinha flores secas nalgumas páginas.