Leituras sobre a Palestina: Oriente Próximo de Alexandra Lucas Coelho
No podcast «A beleza das pequenas coisas», Bernardo Mendonça menciona uma quote de Alexandra Lucas Coelho para o Público:
Não é Auschwitz. É Auschwitz em direto. Milhões de vidas para salvar agora. Não isolar Israel é ser parte do crime, da doença. A utopia acabou.
Já escrevi aqui sobre as novelas gráficas de Joe Sacco e o livro «Um detalhe menor», mais atual e de uma autora palestiniana. Mas ler e escrever sobre uma guerra que já matou 30 mil pessoas nunca deixa de ser impactante. E, arrisco-me a dizer, que o perigo é deixar de o ser. É ligarmos a televisão, vermos as imagens de Gaza e deixarmos de sentir o impacto de um genocídio a acontecer à nossa frente, a empatia que nos faz pensar como seria se fôssemos nós, as nossas famílias, tudo aquilo que amamos e conhecemos a ser destruído sem dó nem piedade.
O livro de Alexandra Lucas Coelho, «Oriente próximo», junta conteúdo escrito para o livro, reportagens e crónicas sobre Israel e a Palestina escritas entre 2005 e 2007. Pode parecer desactualizado, mas tal como os livros de Joe Sacco, que se passam nos anos 90, em ambos os casos aquilo que está a acontecer agora já se fazia anunciar.
Confesso que me custou a entrar neste livro, porque o primeiro capítulo é denso e cheio de informação histórica. Depois disso, são histórias, as histórias das pessoas com quem Alexandra Lucas Coelho se cruzou. Há histórias de palestinianos deslocados e de familiares de bombistas suicidas. Há histórias de judeus e de judeus ultra-ortodoxos. Há histórias de quem teme o Hamas e de quem a ele pertence.
Palavras de Orna Khon, advogada judia de uma organização de defesa dos direitos dos palestinianos israelitas, sobre a Lei da Nacionalidade e Entrada em Israel:
«Israel é uma falsa democracia quando discrimina com base na etnicidade.» Ou seja, dividindo os cidadãos entre judeus e não-judeus. (...) Desde então foram criadas leis como a Lei da Nacionalidade e Entrada em Israel que impede os palestinianos dos Territórios que sejam casados com palestinianos israelitas de viverem em Israel. «É uma lei apenas baseada na etnicidade, não só discriminatória como racista. (...) Esta lei afeta milhares de famílias, a quem é negado o direito básico da reunião familiar. (...) A contradição de base está no facto de Israel ser uma democracia e um Estado judaico. Ser uma democracia significa todos os cidadãos serem iguais.»
Este livro também fala bastante sobre a ascensão e eleição do Hamas, em relação à qual se sente bastante tensão e apreensão por parte das pessoas com quem Alexandra Lucas Coelho fala sobre o assunto:
Receio uma guerra civil, sim. O Hamas vem dos campos miseráveis de Gaza, de gente que sonhava ser professor como ambição máxima. (...) Quando se tem fome fica-se com raiva.
E sobre a história desta fotografia, tirada ao músico palestiniano Ramzi quando tinha apenas 8 anos:
«Foi a primeira vez que atirei uma pedra. Eu vinha da escola com um amigo e começámos a ouvir tiros. Quando olhei para o lado ele estava morto.» Viu os soldados israelitas à sua frente. Agarrou na pedra. Nem pensou que podia morrer. Uma raiva, uma dor sem medo. Um fotógrafo apanhou-a por acaso, e a cara de Ramzi correu mundo.
E fala sobre os bombardeamentos israelitas e o constante incumprimento dos acordos internacionais:
O tio de Saafa está de visita para fazer uma proposta: enquanto durar a ofensiva israelita, não seria melhor dividir os filhos por várias casas?
- Sabemos de famílias que foram completamente atingidas. É para não os perdermos todos.
Claro que há muito mais para descobrir neste livro do que conseguiria cobrir aqui, mas vale muito a pena ler este livro de Alexandra Lucas Coelho que, além da edição física revista lançada agora pela Caminho, também está disponível no Kobo plus.

