Lá, onde o vento chora de Delia Owens
Já vivi num mangue, ou pantanal, durante três meses no Brasil há uns anos atrás. À primeira vista, parece simplesmente o sítio onde a terra encontra o mar, com água suja e sem vida. Mas rapidamente descobri que era, na realidade, um sítio cheio de vida. Com pessoas que viviam em cabanas junto ao mangue, que tomavam banho no mangue, que viviam do peixe que pescavam de madrugada em barquinhos sem motor e que vendiam à beira da estrada. Que havia garças e gaivotas e urubus que se regiam pelos seus próprios ciclos e que iam aparecendo e desaparecendo da casa flutuante onde vivíamos.
Foi por isso que, quando li que "Lá, onde o vento chora", o livro de Delia Owens que está a fazer tanto sucesso que vai ser adaptado a filme falava sobre uma miúda a viver num pantanal, soube que tinha de o ler.
O livro segue a história de Kya, uma miuda que é abandonada por toda a família e que acaba a viver sozinha numa cabana no pantanal. Aprende a ler a natureza, a reger-se pelos seus ciclos e a fugir, como um animal selvagem das assistentes sociais. Vamos acompanhando o crescimento de Kya desde criança a mulher adulta e, ao longo do tempo, o preconceito das pessoas em relação à "miúda do pantanal" vai crescendo. Não é, por isso, de estranhar que quando um dos homens mais importantes da aldeia aparece morto, Kya seja considerada a principal suspeita.
Com as expectativas altas que tinha para este livro, seria de esperar que ficasse desiludida. Mas não, há de tudo por aqui. Há o crescimento de uma personagem, que se vai tornando cada vez mais isolada, há uma história de amor e um crime. Como se tudo isto não bastasse, Delia trabalhou como cientista da vida selvagem e, por isso, há muitas descrições das espécies que habitam o pantanal, de como vivem e de como se reproduzem. Li-o em três dias porque não conseguia parar de ler e dei-lhe 5 estrelas (mais do que merecidas) no goodreads. Mas este não é um livro para todos. Tem um ritmo lento, descritivo, em que a acção está mais concentrada para os capítulos finais. Pela minha parte, foi um dos melhores livros que li este ano. E que inveja de quem o vai ler pela primeira vez...