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Ler, escrever e viver

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Kilmainham Gaol: a prisão impressionante de Dublin

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Esta prisão de 1796 é um dos museus mais populares de Dublin. Apesar de por aqui terem passado sobretudo prisioneiros que cometeram pequenos delitos (como roubar), Kilmainham é uma fortaleza.

As celas pequenas tinham apenas uma cama, um cobertor, um balde e a bíblia, apesar da maioria dos prisioneiros não saberem ler. Os presos passavam a maior parte do tempo na cela e saíam uma hora por dia para dar voltas ao pátio e uma hora por semana para a missa.

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Ao longo dos anos, milhares de presos passaram por aqui, entre eles homens, mulheres e crianças tão novas quanto cinco anos que eram presas sobretudo por roubar. Na altura, manter uma criança na prisão era dar-lhe acesso a comida, cama e escola, algo que se fosse pobre não teria fora da prisão.

Cerca de 10% dos presos eram-no por razões políticas, e é aí que a história da prisão se cruza com a história de Dublin, e da Irlanda. Houve várias rebeliões contra a colonização dos ingleses ao longo das anos, sendo a Easter rising que teve lugar em Dublin uma das mais conhecidas. Os homens envolvidos foram trazidos para esta prisão e aqui foram mortos a tiro (um deles foi Joseph Plunkett).

Várias mulheres envolvidas no Easter rising também foram presas aqui. Uma delas tem uma história particularmente boa. A condessa Markievicz foi condenada à morte. Mais tarde, a sentença foi alterada para prisão perpétua e acabou libertada em 1917. Tornou-se na primeira mulher eleita ao parlamento britânico (e recusou) e foi depois eleita ministra do trabalho.

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Na altura em que esta prisão esteve aberta, achava-se que prender uma criança por roubar comida fazia sentido. Que reabilitar um adulto era mantê-lo fechado numa cela a ler a bíblia, apesar de muitos presos não saberem sequer ler.

Hoje em dia, continuamos no mesmo impasse. Todo o sistema de justiça é um grande ponto de interrogação. Resulta? Não resulta? É justo? É injusto?

O livro «Orange is the new black», que depois deu origem à série da Netflix, é uma reflexão impressionante sobre este tópico. A autora foi presa por ter transportado droga para um aeroporto. O caso arrasta-se em tribunal e, alguns anos depois, está completamente afastada do mundo das drogas e é, em todos os sentidos, uma pessoa normal. É nessa altura que é presa durante alguns meses. Foi necessário? Desnecessário? A prisão é castigo, ou reabilitação? Ou ambos?

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Kilmainham também teve um papel relevante naquele que é o período mais negro da história da Irlanda - o período da fome (ou the great famine). Entre 1845 e 1850, as colheitas de batata foram infestadas com um praga vinda do Canadá que destruiu as colheitas. Isto junto com factores económicos e sociais matou cerca de 1 milhão de pessoas. Muitas emigraram para países como a Austrália e os Estados Unidos, razão pela qual existem cerca de 70 milhões de pessoas no mundo com ascendência irlandesa (apesar de viverem apenas 5 milhões de pessoas na Irlanda).

A prisão passou a representar um sítio onde se podia ter acesso a 3 refeições por dia, o que levou à sobre população da prisão. Em 1847, tornou-se ilegal ser sem abrigo ou pedir comida nas ruas o que levou a que ainda mais pessoas ocupassem esta prisão.

Na zona norte de Dublin encontra-se o Famine Memorial, que é um retrato arrepiante deste período.

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O memorial está junto ao rio e é aberto a qualquer pessoa que por lá passe. A prisão só pode ser visitada por visita guiada e as entradas esgotam com semanas de antecedência, mas vale a pena.

A prisão já apareceu em muitos filmes e foi lá que foi filmado este videoclip dos U2.

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