Flores de Afonso Cruz
Ler um livro começa sempre pela curiosidade. Depois há os livros que vou lendo, antes de dormir, umas páginas de cada vez. Às vezes, não gosto e não os acabo. E há os outros. Os que mal chego a pousar em cima da mesa, porque não consigo parar de ler. Adormeço a pensar na história do livro e, quando acaba, continuo a pensar nas palavras que li. Devia haver um verbo para isto. Nenhuma palavra me parece suficientemente boa. Não quero escrever devorar porque me parece que implica não saborear. E não é nada disso.
Li “Flores” assim, quase sem o pousar em cima da mesa. Já o acabei mas ainda estou a pensar nele. Confesso que tenho pouco hábito de ler escritores portugueses, mas estou a tentar mudar isso e este foi um bom livro para começar.
Gostei da história, das personagens, que dão a sensação de que nos podíamos cruzar com elas na rua e gostei sobretudo do senhor Ulme e da tentativa de lhe recuperarem as memórias perdidas.
Nesse ano, dei o meu primeiro beijo, era a vida a provar-me que não tinha acabado tudo, que a vida é um constante recomeço, que nos pisa e nos massacra apenas para ter adubo para se recriar, num círculo nietzschiano, exibindo uma falta de consideração, tacto e educação, como se não tivesse sentimentos.