De 0 a 10, qual é o vosso índice médio de felicidade?
Quem diria que um livro com felicidade no título continha tanta infelicidade?
Este livro foi publicado em 2013, mas não deixa de ser atual. Daniel trabalha numa agência de viagens e fica desempregado quando tudo começa a ser feito pela internet. Deixa de conseguir pagar a prestação da casa e fica sem ela. A mulher e os filhos vão viver para perto dos avós.
Nós aprendemos a mexer-nos no mundo, habituamo-nos a determinados gestos, aceitamos a eficácia dos nossos instintos, e meia vida depois estamos viciados na perspectiva que temos de tudo. E então alguma coisa muda de repente e tudo aquilo que sabíamos fazer tão bem, com tanta facilidade, para resolver os problemas mais simples, torna-se inútil. Como é que o mundo mudou tanto?
Além disso, os seus dois melhores amigos encontram-se ausentes. Um deles está preso depois de ter ficado sem o seu negócio de sapataria e assaltar uma estação de serviço. O outro recusa-se a sair de casa e vive obcecado com as estatísticas do Índice médio da felicidade, em que se pergunta a alguém: Numa escala de 0 a 10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?
Aqui e agora nunca são suficientes, travamos uma luta contínua, impossível de resolver, porque não aceitamos menos, porque queremos sempre mais.
Fiz o teste de fazer esta pergunta a alguns amigos e a resposta que mais recebi foi 7. Acho que é uma escolha segura, politicamente correcta. Com um 7 não somos nem demasiado felizes, nem propriamente infelizes. Na vida real, acho que a felicidade acaba por ser uma coisa ilusória. Estamos sempre à espera de qualquer coisa que achamos nós, nos tornará felizes. De comprar uma casa, de ter mais estabilidade financeira, de fazer aquela viagem, de estar numa relação... Acontece que, quando alcançamos alguma dessas coisas, há sempre outro objectivo à nossa frente e o presente vai passando quase como se não déssemos por ele.
Depois alguém me disse que a resposta certa era um 5. Metade dos dias são rotina e mais do mesmo e metade dos dias são bons, em que alguma coisa positiva acontece na nossa vida. E acho que até faz algum sentido.
Na verdade, Portugal tem um índice de 6.03, o que significa que está atrás de países como a Roménia, El Salvador, Kosovo ou Guatemala, mas à frente de países como a China, a Croácia, a Grécia ou a Rússia, por exemplo.
Voltando ao livro, apesar da vida de Daniel se desmoronar cada vez mais à medida que a história se vai desenrolando, ele tem sempre esperança de que as coisas melhorem.
Fiquei muito surpreendida com este livro e adorei o final. Há uma adaptação ao cinema que ainda não vi. De David Machado, já tinha lido e adorado o «Não te afastes» (que recomendo muito!) e também li «A educação dos gafanhotos» de que não gostei tanto.
E vocês, qual diriam que é o vosso índice médio de felicidade?