Conversas sobre o amor: o livro incrível de Natasha Lunn
Acho que se consegue perceber pela quantidade de marcadores neste livro, o quanto gostei dele.
Natasha Lunn divide este livro em três partes: o início do amor, a manutenção do amor e o fim do amor. E aqui, não falamos apenas de amor romântico, mas também do amor na amizade (que é tão importante e, às vezes, tão procrastinada na vida adulta por causa do trabalho e de todas as obrigações de sermos adultos), o amor da família, o amor na carreira e em tantas outras coisas que fazemos no dia-a-dia sem pensar que são (ou podem ser) atos de amor: escrever, cozinhar.
Ao longo de todo o livro, Natasha mistura a sua história de vida pessoal com entrevistas a autores, jornalistas e psicólogos. Surgem aqui nomes como Dolly Alderton, Alain de Botton, Diana Evans, Roxane Gay, Lucy Kalanithi (que fala sobre a perda de Paul Kalanithi), entre muitos outros.
A parte inicial foca-se no início das relações e de todas as expectativas que lhes estão associadas, e o que decidimos ou não fazer com as escolhas que temos:
Muitos de nós temos momentos em que apontamos para outras pessoas «eles têm isto, e eu não.» Mas nada disso importa, no final, porque sei que tive a sorte de ter a vida que tenho. Assim que deixei de lado os ressentimentos, dei conta disso. Então, em última análise, o diagnóstico faz-me pensar, esta é a minha vida, o que farei com ela? Se tivermos sorte, recebemos este lembrete: cabe-nos fazer algumas escolhas, outras não. Assim sendo, o que faremos com as escolhas que temos?
- Sara Hepola (que foi submetida a duas cirurgias para remover um mioma do útero)
A parte do meio foca-se na manutenção das relações (no amor, na amizade, na parentalidade):
Afinal, as pessoas que amamos são uma constelação. Ao amá-las temos o privilégio de ver e de trazer à tona todos os diferentes mundos, cores e profundidades dentro delas, assim como eles têm o potencial de fazer o mesmo por nós, em troca. Essa reciprocidade está no cerne do amor - um equilíbrio entre ver e ser visto, perguntar e responder, de pensar sempre como «eu» e «nós».
- Natasha Lunn
A parte final foca-se a como sobrevivemos à perda do amor, não só ao final de uma relação ou a um divórcio, mas também ao luto e a um aborto espontâneo, por exemplo.
Quando uma relação termina, as pessoas dizem-nos: «Vais superar isto.» Estas são as três palavras mais inúteis que podemos dizer a qualquer pessoa que esteja com o coração partido. Porque, seja uma morte ou o fim de um casamento, a perda não é uma montanha que se sobe e se desce do outro lado. Nós nunca a superamos inteiramente, mas impomo-nos ao desafio, até que acabamos por viver com a perda e ela se torna parte de nós.
- Justine Picardie
É claro que, num livro assim, há entrevistas mais interessantes do que outras, e temas que se repetem mas, no geral, achei um livro muito interessante e bem organizado. Achei incrível a entrevista à jornalista Melanie Reid que ficou tetraplégica na sequência de um acidente de equitação.
Ainda sinto pena de mim mesma, quando vou à casa-de-banho e fico a olhar-me ao espelho durante dez minutos e a chorar. Depois suprimo essa autopiedade, tranco-a e saio de lá novamente. Tenho de continuar, pelas pessoas que amo.
É um livro diferente de tudo o que já li, mas acho difícil alguém não se identificar com alguma entrevista, ou aprender alguma coisa nova. Enfim, uma leitura que vale muito a pena.