Atypical: a série da netflix que todos deviam ver
Atypical conta a história de Sam Gardner, um adolescente com um autismo altamente funcional que trabalha numa loja de equipamentos eletrónicos e quer arranjar uma namorada. Li a sinopse, vi o trailer e decidi experimentar. Na verdade, séries de YA não são comigo e estava preparada para ver um episódio e passar a outra série.
Vi o primeiro episódio, e mais um e, quando dei por mim, já tinha visto a primeira e a segunda temporada em poucos dias. Sam é uma personagem muito bem construída que consegue mostrar as nuances do autismo, sem nos fazer ter pena da personagem, mas apenas querer acompanhar todos os seus passos. Tem uma paixão avassaladora pela Antártida, que resulta em muitas histórias de pinguins, baleias e exploradores históricos espalhados pelos episódios.
Mas, apesar de Sam ser o protagonista, todas as personagens à sua volta (a família, os amigos, os colegas de trabalho e a terapeuta) ganham destaque nalguns episódios e têm histórias próprias, que não giram apenas à volta de Sam.
Há muita coisa que foge ao controlo das personagens na série, não só de Sam. E talvez uma das mensagens mais importantes seja essa. A de que nem sempre está tudo bem (às vezes, está mesmo tudo mal) mas isso faz parte da vida.
A segunda mensagem vem, não só, mas também de uma cena da série (é um spoiler, portanto, se quiserem passem para o parágrafo seguinte). Há uma cena em que Sam tem um episódio de stress e foge de casa de um amigo a meio da noite. Enquanto anda pela rua a falar sozinho (para se acalmar) é abordado por um polícia que assume que Sam está drogado e o trata como tal. Não só a sociedade não está preparada para reconhecer e lidar com o autismo como, muitas vezes, tiramos conclusões no nosso dia-a-dia sobre pessoas cujas vidas desconhecemos completamente. Fazemos julgamentos precipitados sem saber a história que está por trás.
Por fim, há a questão da representatividade. No geral, os autistas aparecem nas séries e filmes sempre em dois extremos. Os génios dotados e os que vivem completamente isolados do mundo. Sam está no meio, porque o espetro do autismo é extenso e não faz sentido que nos seja passada sempre a mensagem de que os autistas estão apenas nos extremos.
Robyn Steward (autista) escreveu para a iNews sobre a série:
Qualquer série sobre autismo carrega um peso gigante: as pessoas querem que ela diga tudo e que “acerte” em tudo. Vamos precisar de muitas séries de vários tipos que apresentem o autismo em todas as suas variações. Há base para críticas em “Atypical” mas eu escolhi recebê-la com os braços abertos como um passo para a direção certa.
Se estão à procura de uma série leve, que mistura comédia, drama e romance, com personagens genuínos e uns apontamentos sobre os pinguins da Antártida preparem-se para umas horas muito bem passadas. Atypical é aquela série que muita gente não faz ideia que existe, que achamos que não precisamos de ver e que, depois de a vermos, não sabemos bem como é que uma coisa tão boa quase nos passou ao lado. Trailer aqui.