Até à eternidade de Caitlin Doughty: um livro sobre a morte
«Até à eternidade» tem uma premissa interessante: perceber porquê que a morte se tornou um tabu tão grande nos países ocidentais explorando a forma como diferentes países e comunidades lidam com a morte. A autora é Caitlin Doughty, uma agente funerária e activista que tem um canal no Youtube precisamente sobre a morte (chama-se «Ask a Mortician» e é excelente).
Caitlin viajou para algumas comunidades dos Estados Unidos que lidam com a morte de forma menos industrializada do que o resto do país e para outros locais do mundo como o México (e o seu famoso dia dos mortos), a Indonésia, o Japão e a Bolívia onde escreveu sobre as suas tradições ancestrais.
Na igreja do outro lado do átrio, descendo alguns degraus de pedra íngremes, há corpos que podiam ensinar mais às crianças do que qualquer cetro. A prova sólida de que todos os que vieram antes deles morreram. Algum dia todos irão morrer. Evitamos a morte que nos rodeia por nossa conta e risco.
Aprendi muito com este livro. Caitlin tem uma escrita honesta e fluida e escreve tanto sobre a razão de ser de alguns rituais ancestrais que, à primeira vista, nos podem parecer macabros como escreve sobre rituais futurísticos. Por exemplo, a autora escreve sobre uma funerária que oferece às famílias a possibilidade de prestarem homenagem aos seus mortos pelo ecrã de um computador ou sobre o Aibo, um cão robot japonês lançado em 1999 que, uns anos mais tarde, foi descontinuado pela sony. Seguiu-se a criação de fóruns de reparação dos cães robot, de apoio às famílias enlutadas e até a realização de funerais para os mesmos.
Além disso, a edição deste livro (da editora vogais) é das mais bonitas que já vi. A capa está muito bem conseguida e o livro está cheio de ilustrações sobre os rituais que Caitlin vai descrevendo.