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As causas e a culpa

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Recentemente vi um episódio do «The middle» que estava tão bem feito que não resisti a escrever sobre isto. Uma das personagens, a Sue, que está na faculdade namora com um defensor de causas. Ou seja, um jovem que se preocupa com todos os problemas do mundo e que passa a vida a falar sobre… isso mesmo, todos os problemas do mundo. A Sue acaba por ser contagiada. Fala com a mãe sobre essas causas, mas ela tem zero interesse em ouvi-la.

 

 

A verdade é que o que não falta são causas pelas quais lutar. São os tigres, beber ou não beber leite, o glúten, comer ou não comer carne, e peixe, e o plástico, e o consumismo e o minimalismo e os zoos e tudo e mais alguma coisa. Não estou a tentar minimizar nenhuma destas causas. Mas é difícil pensar sobre tudo, ter uma opinião 100% informada e científica sobre tudo e defender, ou discordar, sobre tudo e mais alguma coisa.

 

Voltando ao episódio, a Sue fica perdida no meio de tantas causas pelas quais lutar. E a mãe lá lhe diz que os 20’s são assim. Queremos mudar o mundo, nem que seja um bocadinho. E devemos, pelo menos, tentar mudar alguma coisa. Mas não tudo, porque não dá para lutar em todas as frentes. A solução passa, provavelmente, por escolhermos aquilo que nos diz mais, com que nos identificamos mais e em que temos alguma base (além do Google) para sabermos do que estamos a falar.

 

O episódio também faz referência a que, com o passar dos anos, essa vontade de mudar tudo vai-se desvanecendo. Não sei bem porque ainda não lá cheguei mas acho que é natural. Penso que faz parte perdermos vontade de lutar por todas as coisas, pessoas, alimentos e animais.

É claro que há excepções, e ainda bem que existem, como esta senhora que apareceu à dias no Humans of New York:

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Outra coisa em que aquele episódio me fez pensar foi na forma como, por vezes, os defensores dessas causas nos tentam “conquistar” pela culpa.

Um exemplo, todos os dias passo num sítio a correr para não perder o metro, onde está um grupo de pessoas a reunir assinaturas para uma petição contra o abate de animais em canis. Nada contra. Muito pelo contrário. A questão é que passo por ali sempre com pressa. E, de cada vez que lá passo, lá vêm pessoas atrás de mim com papéis na mão. Digo logo “Não posso, obrigada” e continuo a andar mas ainda a tempo de ouvir um sonoro “Então, não gosta de animais?!”. Entretanto, já assinei a petição mas, como eles naturalmente não se lembram das pessoas continuam a fazer a mesma pergunta.

 

Eu percebo que querem defender uma causa, com a qual concordo, mas será que a melhor forma de abordar as pessoas é atirar logo: “Então, não gosta de animais?!”. Ou seja, as pessoas devem assinar a petição porque, caso contrário, significa que não gostam de animais. Conquista-se pela culpa.

 

Este é só um exemplo, e talvez nem seja o mais indicado, mas há toneladas deles. Tentam convencer-nos a deixar de comer carne pela culpa de que os animais são maltratados só para nós podermos comer carne. Tentam convencer-nos a deixar de comer/fazer/comprar centenas de coisas pela culpa de que estamos a fazer qualquer coisa de errado e a prejudicar o mundo inteiro.

 

No fundo, acho que devemos continuar a defender causas, sempre, porque é isso que faz mudar e avançar o mundo. Não todas, mas as que fazem sentido a cada um. No entanto, se calhar, devemos repensar a forma como o fazemos. Penso que devemos convencer uma pessoa a juntar-se a uma causa pela positiva, incentivando-a a participar e não fazê-la sentir-se culpada se não o fizer.

Lembro-me de ouvir uma vez que a educação passa por dar os factos, contar a história toda como ela é a alguém e, com essa informação, essa pessoa fará o que entender. Talvez isto também se possa aplicar a todas as causas do mundo.

 

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