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Ler, escrever e viver

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A sangue frio de Truman Capote

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Foi no final dos anos 50 que Truman Capote leu no The New York Times a notícia do assassinato da família Clutter que vivia numa cidade pacata do estado do Kansas (os pais, Herb e Bonnie e os filhos, Nancy e Kenyon). Truman entrevistou familiares, amigos, vizinhos (e até mesmo os próprios assassinos) e essa investigação deu origem a este livro, que mistura assim a realidade com a ficção.

Capote demorou seis anos a escrever «A sangue frio». Procurou, não apenas conhecer os factos, mas entender todas as personagens envolvidas, desde a família Clutter aos assassinos e a toda a sua vida, da infância até àquela noite que resultou na morte da família inteira. O mais interessante do livro é mesmo isso, perceber (ou tentar) o que levou aqueles dois homens a cometer um ato que resultou na pena de morte (não é spoiler porque vem na contra-capa do livro e porque se trata de uma história real).

Será que uma infância infeliz justifica que um homem se torne um assassino? Terá sido a pena de morte uma sentença justa? Será que este crime tinha de acontecer ou poderia ter sido evitado? São estas algumas das questões que o livro levanta e para as quais não há muitas respostas.

Não, porque quando uma coisa tem de acontecer, o mais que podemos fazer é desejar que ela não aconteça, ou o contrário, conforme. Enquanto vivemos temos sempre algo prestes a acontecer-nos e ainda que saibamos tratar-se de uma coisa má não podemos fugir-lhe. Que devemos fazer? É impossível parar a vida.

É fácil durante a leitura ficarmos tão agarrados às vidas infelizes dos assassinos que nos esquecemos do crime que cometereram e, até, sentir alguma simpatia por eles. É isso que torna este livro um clássico genial. A sua capacidade de nos mostrar que as fronteiras entre uma vida normal e uma vida pautada pelo crime são muito mais subtis do que aquilo que estamos dipostos a admitir. Recomendo muito.

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