A ridícula ideia de não voltar a ver-te de Rosa Montero
Há livros que chegam à nossa vida na altura certa. Foi o caso deste livro de Rosa Montero e das suas frases certeiras:
«Sempre», «nunca», palavras absolutas que não conseguimos compreender sendo, como somos, pequenas criaturas presas no nosso pequeno tempo. (…) É a primeira coisa que nos atinge num luto: a incapacidade de pensar nisso e de o admitir. A ideia simplesmente não nos cabe na cabeça. Mas como é possível que não esteja? Esta pessoa que ocupava tanto espaço no mundo, onde se meteu?
«A ridícula ideia de não voltar a ver-te» é, na realidade, um livro sobre Marie Curie. Rosa Montero leu o pequeno diário que Marie escreveu depois da morte do marido, Pierre, e tendo também perdido o marido, identificou-se. Mais, escreveu este livro como uma mistura das suas memórias com as de Marie, da sua perda com a dela, da sua vida com a dela.
Marie Curie teve uma vida particularmente fascinante mas nada fácil. Além de uma infância conturbada, e de ter enfrentado muitas dificuldades para conseguir continuar os estudos (numa altura em que não era comum as mulheres irem para a faculdade), mesmo quando ganhou o prémio Nobel, as coisas não foram fáceis.
Inicialmente, Pierre, o marido com quem Marie fez a descoberta do rádio e do polónio, recebeu uma carta de que seria indicado para o Nobel da Física. Pierre respondeu dizendo que Maria também deveria receber o prémio. A carta não foi bem recebida. Pierre acabou a ir ao palco agradecer o prémio e Marie (que também o recebeu) ficou a ver da plateia.
Até hoje, só 6% dos laureados com o prémio são mulheres.
Além de ter sofrido uma perda particularmente difícil na vida - a morte de Pierre - que acaba por ser o foco do livro, a saúde de Maria deteriorou-se como resultado da radiação nos últimos anos de vida. Pierre já tinha sofrido do mesmo e uma das duas filhas do casal também morreu relativamente nova como resultado da radiação.
A descoberta que tanta alegria lhe deu e que lhe deu um lugar de destaque na história como a primeira mulher a receber um prémio Nobel, também a matou, a ela, à filha, e teria morto o marido se não tivesse sido atropelado por uma carruagem.
História trágica, mas deliciosamente contada por Rosa Montero neste livro. Fiquei com curiosidade para ler mais livros de Rosa Montero, e também o livro sobre Maria Curie escrito por uma das filhas - Ève Curie. Há uma edição em português da Livros do Brasil.