A relatividade dos problemas do dia-a-dia
Quando leio um livro tenho o hábito de marcar as páginas que têm frases de que gostei para reler no fim e, se for o caso, escrevê-las num post. Fiz isso enquanto lia “A mulher com sete nomes” de Hyeonseo Lee. Não sei como, deixei escapar uma página que abordava, muito por alto, este tema. Lembrei-me que havia ali qualquer coisa sobre isto quando lia uma notícia no facebook sobre qualquer coisa que havia de errado em Portugal e alguém comentava que estavam a fazer uma tempestade num copo de água porque havia pessoas a morrer na Síria.
Ora, Hyeonseo Lee é refugiada norte-coreana. Durante anos, os seus principais problemas passam por não chamar a atenção do regime norte-coreano e da polícia para a sua família. Cumprir com tudo. Sorrir quando é suposto. Chorar quando é suposto. Ser uma ovelha no meio do rebanho. Depois, na China, os seus problemas passam por não revelar a sua identidade norte-coreana para não ser descoberta e deportada para o seu país. Quando Hyeonseo vai viver para a Coreia do sul os seus problemas tornam-se “problemas menores”, como entrar para a faculdade, arranjar um bom emprego, ter algum dinheiro de reserva no fim do mês. Enfim, problemas de primeiro mundo, digamos assim.
Depressa fiquei a saber por elas como era difícil para os sul-coreanos serem felizes na sociedade em que viviam.
Muitas delas tinham fracassado na tentativa de se empregarem em empresas de prestígio e acabado por se resignar, deprimidas, às circunstâncias adversas do destino. (…) Mesmo assim não deixava de sentir pena delas. Cada país tem os seus problemas.
Como escreve Hyeonseo, numa página que não me chamou a atenção à primeira vista, os nossos problemas nunca são menores para nós. Porque são os nossos. Somos nós que os temos de resolver e que nos preocuparmos com eles. Mesmo que, no fundo, sejamos sempre uns sortudos quando comparamos a nossa vida e os nossos problemas com outras realidades.