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Ler, escrever e viver

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A quem abandonou a minha gata

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Já foi há uns anos que estava a subir a rua para chegar a casa, depois da faculdade, e vi uma transportadora de gatos no meio do passeio. Parei e espreitei. Lá dentro estava uma gata preta, adulta, com os olhos amarelos esbugalhados para mim. Aproximei a mão e pôs logo a cabeça a jeito para receber festas. A transportadora estava aberta. Olhei à volta e não vi ninguém. Fui a uma papelaria próxima (que tinha vários gatos) e tentei convencer o senhor a ficar com ela. Não quis. Levei-a para minha casa. Não quis sair da transportadora por nada e lá ficou durante uns dias, com água e comida. Depois, aos poucos, foi saindo. Ficou tão assustada com tantas mudanças que lhe caiu uma boa parte do pêlo.

Olhando para ela acho que não mudou muito. Continua a não se entusiasmar demasiado com a minha presença. A manter o seu meio-termo de gostar de festas mas não de colo. Continua preta com uns pêlos brancos no queixo como se tivesse barba. Continua com aqueles olhos meio amarelos meio verdes que já me pregaram alguns sustos quando olha para mim no escuro.

Chamei-lhe Petra, um trocadilho com preta, a esta gata que alguém abandonou numa transportadora no meio do passeio e que me tem feito muita companhia ao longo dos anos. Gostava que tivesse havido, ao menos, um bilhete. De saber se veio da rua, se já tinha tido doenças, se estava esterilizada (não estava mas demorámos a descobrir), se tinha nome… Talvez tenham pensado que ninguém ia ficar com uma gata adulta e que ela ia ficar pela rua. Ou talvez não tenham querido saber. Não sei. O que sei é que, no fim de contas, eu ganhei uma boa companhia nesse dia e aquelas pessoas (quem quer que sejam) perderam muito mais do que imaginam.

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