A casa holandesa de Ann Patchett
Tinha expectativas muito altas para este livro e, talvez por isso, não me tenha sentido agarrada à história desde o início.
A casa holandesa conta a história de dois irmãos, a Maeve e o Danny, que vão recontando o seu passado ao longo de cinco décadas. A casa holandesa onde moravam nos subúrbios da Filadélfia e que foi um presente do pai para a mãe. A mãe que os abandonou, deixando a casa (que detestava) para trás. E, por fim, a madrasta que o pai lhes arranjou e que, pouco a pouco, lhes fez a vida num inferno.
- Porque se foi embora a minha mãe?
O meu pai suspirou, enfiou as mãos nos bolsos e ergueu o olhar para avaliar a posição das nuvens. Depois, disse-me que ela era louca. Essa era toda a explicação.
- Louca como?
- Louca do género de tirar o casaco e dá-lo a alguém na rua que não lhe pedira sequer um casaco. Do tipo de tirar o teu casaco e dá-lo também.
- Mas não devemos fazer isso? - Quero dizer, não o fazíamos, mas não era esse o objetivo?O meu pai abanou a cabeça:
- Não. Não devemos. Ouve, não faz sentido pensares na tua mãe. Toda a gente tem um fardo na vida, e esse é o teu. Ela foi-se embora. Tens de viver com isso.
Apesar de ter demorado a gostar da história, acabei completamente agarrada a estes dois irmãos. Além da escrita ser muito boa, do desenvolvimento dos personagens também, Anne Patchett tem o talento de Elena Ferrante (ou vice-versa) para ir deixando pistas aqui e ali de alguma coisa que vai acontecer mais à frente na história e que se queremos saber o que é… temos de continuar a ler.
Já não sei onde li que a infância é um conjunto de memórias partilhadas que liga pais e filhos, mas também irmãos. Este livro é sobre as memórias partilhadas de Maeve e Danny e sobre como a infância definiu os adultos em que se tornaram.
Há vezes na vida em que, quando damos um salto, o passado sobre o qual nos apoiávamos cai atrás de nós, e o futuro onde queremos pousar ainda não está definido. Então, ficamos suspensos por um instante, não sabendo nada e não conhecendo ninguém, nem sequer nós mesmos.
Acompanhamos a vida toda de Maeve e Danny. Por isso, é uma história sobre relações familiares, mas também é uma história sobre perda, memória e velhice. É um livro incrível, que merece todo o reconhecimento que tem recebido. Recomendo vivamente.