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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

A biblioteca da meia-noite de Matt Haig

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Não tenho escrito no blog mas, a bem da verdade, também não me lembro da última vez que terminei um livro. Bom, isso antes deste «A biblioteca da meia-noite» de Matt Haig. Foi comprado num daqueles momentos de "trouxe quatro livros para as férias mas não me apetece ler nenhum". Entrei na livraria Internacional em Lagos e achei que esta biblioteca seria uma leitura leve e fluida.

Já tinha adorado o «Razões para viver», um livro de não-ficção de Matt Haig mas tinha as expectativas baixas para este livro de ficção porque tenho ficado desiludida com livros com muito hype.

O livro segue a história de Nora Seed que, no limiar entre a vida e a morte, dá por si numa biblioteca onde cada livro representa uma versão da sua vida se tivesse feito escolhas diferentes.

Mas talvez todas as vidas fossem assim. Talvez até a vida aparentemente mais perfeita e intensa acabasse por transmitir a mesma sensação. Quilos e quilos de desilusões, monotonia, mágoas e rivalidades com breves momentos de deslumbramento e beleza. Talvez fosse esse o único significado que importava. Ser o mundo, testemunhar-se a si mesmo. Talvez nem fosse a falta de objetivos cumpridos que fizera dos seus pais pessoas tão infelizes, mas sim a expectativa que ambos haviam criado dos objetivos que conseguiriam cumprir.

Acho que foi dos poucos livros que li a pensar que deve ter sido muito divertido escrever este livro e imaginar diferentes vidas possíveis para uma mesma personagem. Apesar dos clichês e de alguma previsibilidade na história, adorei este livro sobre os "e se's" da vida, sobre saúde mental, sobre as oportunidades que aproveitamos e as que deixamos passar.

Foi Sylvia Plath em «A redoma de vidro» que usou uma analogia com figos para descrever isto:

Eu via a minha vida a ramificar-se à minha frente como a figueira verde daquele conto. Da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. Um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era feito de viagens à Europa, África e América do Sul, outro era Constantino e Sócrates e Átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros que eu não conseguia ver. Vi-me sentada debaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com que figo eu ficaria. Eu queria todos, mas escolher um significava perder tudo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés.

Deprimente. Ou não fosse este um livro sobre depressão. Mas, no fundo, é isso. Escolher um caminho significa sempre deixar de lado outras possibilidades. Não podemos fazer mais do que tentar escolher o que nos faz mais sentido, o que achamos ser melhor para nós e, se falhar, escolher novamente outro caminho.

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