Fui ao Fólio, o Festival Literário Internacional de Óbidos, pela primeira vez. O festival é completamente gratuito e foi ótimo ver tantas pessoas juntas pela literatura. Este ano, o tema era fronteiras.
Logo à chegada, havia uma exposição da Mafalda de Quino:
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Depois fomos então assistir a algumas conversas na tenda literária:
Conversa: Huancos e Onças: literatura contra o esquecimento com Gabriela Wiener e Micheliny Verunschk com moderação de Isabel Lucas
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Foi uma conversa incrível em que a brasileira Micheliny e a peruana Gabriela falaram sobre os seus mais recentes livros que são uma espécie de literatura de vingança. «O som do rugido da onça» de Micheliny conta a história de Spix e Martius que, em 1817, andaram pelo Brasil a registar e recolher amostras de fauna e flora. Entre os espécimes recolhidos, os cientistas decidiram levar também um menino e uma menina indígenas para a Alemanha, para os estudar e para os civilizar.
Gabriela Wiener escreve em «Retrato Huanco» sobre a visita a um museu em Paris onde encontra peças de Charles Wiener, um explorador que, no século XIX, recolheu cerca de 4.000 objetos arqueológicos no Peru, incluindo um filho nascido de uma mulher peruana que o explorador abandonou. Este é um livro de autoficção onde a autora aborda também a narrativa da sua família.
A conversa sobre o colonialismo, sobre as histórias apagadas da História foi muito rica. Trouxemos os dois livros, por isso, havemos de falar mais sobre eles aqui no blog.
Conversa: José Eduardo Agualusa e Giovana Madalosso com moderação de Maria João Costa sobre o real
Ainda só li um livro de crónicas de Agualusa e nunca li nada de Giovana, mas fiquei muito curiosa em ler mais de ambos.
Giovana falou sobre o seu mais recente livro «Batida só» que é baseado na sua própria experiência pessoal com a doença (embora não a doença referida no livro). Aqui temos uma protagonista com um diagnóstico inesperado de uma arritmia grave que tem de evitar «toda e qualquer emoção forte».
Por outro lado, Agualusa falou sobre o seu novo livro, que sai no final deste mês em Portugal «Tudo sobre Deus». Falou sobre como teve esta ideia de um personagem a morrer que vai para uma igreja isolada enquanto ele próprio estava a fazer uma ressonância magnética. Depois, perguntou à IA quantos romances tinha publicado e ela respondeu 16. Agualusa respondeu que não tinha escrito um dos títulos chamado «Diários da fissura» e a IA deu-lhe razão e disse que, de facto, ele nunca tinha escrito aquele livro. Agualusa perguntou sobre o que seria o livro e a IA respondeu que seria sobre um homem geólogo que ia morrer para uma igreja no meio do deserto e foi assim que se cimentou a ideia para este novo livro. Podem ver a conversa aqui.
Ricardo Araújo Pereira conversa com Joana Marques sobre o tema liberdade com moderação de José Mário Silva
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Claro que uma conversa entre Ricardo Araújo Pereira e Joana Marques ia atrair muita gente... O problema é que a tenda literária do Fólio não é muito grande e havia muitos lugares reservados aos meios de comunicação social, organização e convidados. Basicamente, chegámos uma hora antes de começar e já não havia lugares sentados (a não ser os dos convidados). Esperámos uma hora em pé e acabámos por ter sorte porque depois do RAP e da Joana passarem, deixaram quem estava de pé sentar-se no chão à frente e ao lado do palco. Ficámos num lugar excelente, mas muita gente que chegou depois ficou lá fora e não conseguiu sequer entrar... Enfim, uma desorganização.
Depois, Ricardo e Joana conversaram sobre liberdade, sobre o processo dos Anjos (claro), sobre o facto de Marcelo Rebelo de Sousa lidar bastante bem quando aparece no «Isto é gozar com quem trabalha», sobre as recentes polémicas nos Estados Unidos (o programa do Stephen Colbert ter sido cancelado a partir de Maio e o do Jimmy Kimmel, que foi cancelado e depois voltou), sobre o comediante brasileiro condenado a 8 anos de prisão (!). Enfim, falou-se sobre várias ameaças à liberdade no humor. Gostei muito, valeu a pena esperar uma hora em pé. Podem ver a conversa aqui.
E pronto, foi assim a minha primeira ida ao Fólio, onde quero muito voltar nos próximos anos.