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Yellowstone

Cowboys, violência e dramas familiares

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Se eu alguma vez pensei adorar uma série com cowboys passada em Montana? Não, mas aconteceu.

Yellowstone conta a história do rancho de John Dutton que tenta manter-se a funcionar apesar do mundo parecer querer evoluir e transformar Yellowstone que faz fronteira com o rancho num parque de diversões.

Há muita coisa para gostar aqui para quem é de veterinária (como eu), desde a reação do Jimmy quando percebe como funcionam as inseminações nos cavalos, as palpações retais nas vacas para diagnóstico de gestação e o tema da brucelose. E também para quem gosta de vida selvagem, porque há lobos, há ursos, há uma paisagem magnífica em todos os episódios. Além disso, a série fala bastante da cultura indígena da região.

Mas também há muita violência. Aliás, se tivesse de descrever esta série numa palavra seria provavelmente essa, há muita porrada, muitas mortes, muita vingança e muito rancor, muito “olho por olho, dente por dente”. E há uma história familiar complexa e difícil no meio de tudo isto.

Além disso, o genérico é excelente.

As primeiras quatro temporadas estão na Netflix. A quinta não está e parece que não vai estar tão cedo... E é triste, muito triste, vá lá que nenhum dos meus personagens preferidos morreu, mas mesmo assim chorei no final. Enfim, ficam algumas pontas soltas, mas vale a pena para ter uma conclusão para a série. E o destino do rancho pareceu-me justíssimo.

Misery de Stephen King

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Tenho tentado ler um livro do Stephen King por ano. O ano passado li o 22/11/63 e gostei, mas achei demasiado longo.

Este ano, decidi ler o «Misery», um dos livros mais conhecidos do autor.

Aqui temos um escritor famoso, Paul Sheldon, que sofre um acidente de carro e acorda na casa de uma ex-enfermeira, Annie Wilkes.

Acontece que Annie é fã número um dos romances do escritor que têm Misery como personagem principal. Só que, enquanto Paul está em casa de Annie, ela lê o final do último livro que ele escreveu, em que a personagem Misery morre.

Assim, Annie, com a sua obsessão por Misery, decide que Paul tem de escrever um novo livro para ressuscitar a sua personagem preferida.

É um livro cheio de jogos psicológicos entre o refém (Paul) e a sua captora (Annie), uma psicopata que vive sozinha e que há muito tempo deixou de distinguir a realidade da ficção.

Estas partes vão sendo intercaladas por excertos do livro que Paul está a escrever para Annie.

Ao contrário de outros livros do autor, em que King demora bastante tempo a descrever cenários e personagens até chegar à acção principal da história, isso não acontece neste livro. Gostei do desenvolvimento da história e percebo por que é que é um dos favoritos do autor, mas tenho ali o «À espera de um milagre» que suspeito que vai ser o meu preferido do King (ainda não vi o filme).

E vocês, que livros do autor já leram e recomendam?

Fui ao Fólio: Festival Literário Internacional de Óbidos

Fui ao Fólio, o Festival Literário Internacional de Óbidos, pela primeira vez. O festival é completamente gratuito e foi ótimo ver tantas pessoas juntas pela literatura. Este ano, o tema era fronteiras.

Logo à chegada, havia uma exposição da Mafalda de Quino:

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Depois fomos então assistir a algumas conversas na tenda literária:

 

Conversa: Huancos e Onças: literatura contra o esquecimento com Gabriela Wiener e Micheliny Verunschk com moderação de Isabel Lucas

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Foi uma conversa incrível em que a brasileira Micheliny e a peruana Gabriela falaram sobre os seus mais recentes livros que são uma espécie de literatura de vingança. «O som do rugido da onça» de Micheliny conta a história de Spix e Martius que, em 1817, andaram pelo Brasil a registar e recolher amostras de fauna e flora. Entre os espécimes recolhidos, os cientistas decidiram levar também um menino e uma menina indígenas para a Alemanha, para os estudar e para os civilizar. 

Gabriela Wiener escreve em «Retrato Huanco» sobre a visita a um museu em Paris onde encontra peças de Charles Wiener, um explorador que, no século XIX, recolheu cerca de 4.000 objetos arqueológicos no Peru, incluindo um filho nascido de uma mulher peruana que o explorador abandonou. Este é um livro de autoficção onde a autora aborda também a narrativa da sua família.

A conversa sobre o colonialismo, sobre as histórias apagadas da História foi muito rica. Trouxemos os dois livros, por isso, havemos de falar mais sobre eles aqui no blog.

 

Conversa: José Eduardo Agualusa e Giovana Madalosso com moderação de Maria João Costa sobre o real

Ainda só li um livro de crónicas de Agualusa e nunca li nada de Giovana, mas fiquei muito curiosa em ler mais de ambos.

Giovana falou sobre o seu mais recente livro «Batida só» que é baseado na sua própria experiência pessoal com a doença (embora não a doença referida no livro). Aqui temos uma protagonista com um diagnóstico inesperado de uma arritmia grave que tem de evitar «toda e qualquer emoção forte».

Por outro lado, Agualusa falou sobre o seu novo livro, que sai no final deste mês em Portugal «Tudo sobre Deus». Falou sobre como teve esta ideia de um personagem a morrer que vai para uma igreja isolada enquanto ele próprio estava a fazer uma ressonância magnética. Depois, perguntou à IA quantos romances tinha publicado e ela respondeu 16. Agualusa respondeu que não tinha escrito um dos títulos chamado «Diários da fissura» e a IA deu-lhe razão e disse que, de facto, ele nunca tinha escrito aquele livro. Agualusa perguntou sobre o que seria o livro e a IA respondeu que seria sobre um homem geólogo que ia morrer para uma igreja no meio do deserto e foi assim que se cimentou a ideia para este novo livro. Podem ver a conversa aqui.

 

Ricardo Araújo Pereira conversa com Joana Marques sobre o tema liberdade com moderação de José Mário Silva

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Claro que uma conversa entre Ricardo Araújo Pereira e Joana Marques ia atrair muita gente... O problema é que a tenda literária do Fólio não é muito grande e havia muitos lugares reservados aos meios de comunicação social, organização e convidados. Basicamente, chegámos uma hora antes de começar e já não havia lugares sentados (a não ser os dos convidados). Esperámos uma hora em pé e acabámos por ter sorte porque depois do RAP e da Joana passarem, deixaram quem estava de pé sentar-se no chão à frente e ao lado do palco. Ficámos num lugar excelente, mas muita gente que chegou depois ficou lá fora e não conseguiu sequer entrar... Enfim, uma desorganização.

Depois, Ricardo e Joana conversaram sobre liberdade, sobre o processo dos Anjos (claro), sobre o facto de Marcelo Rebelo de Sousa lidar bastante bem quando aparece no «Isto é gozar com quem trabalha», sobre as recentes polémicas nos Estados Unidos (o programa do Stephen Colbert ter sido cancelado a partir de Maio e o do Jimmy Kimmel, que foi cancelado e depois voltou), sobre o comediante brasileiro condenado a 8 anos de prisão (!). Enfim, falou-se sobre várias ameaças à liberdade no humor. Gostei muito, valeu a pena esperar uma hora em pé. Podem ver a conversa aqui.

 

E pronto, foi assim a minha primeira ida ao Fólio, onde quero muito voltar nos próximos anos.

Dar uma nova vida a móveis usados

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Isto tudo começou quando aqui a leitora ficou sem espaço na estante e, seguindo as tendências da moda, decidiu ir ao IKEA comprar um daqueles carrinhos para guardar os livros que vai ler a seguir. Ora, sucede que a leitora viu uma escrivaninha linda de morrer na zona circular, que é a zona do IKEA onde estão os móveis em segunda mão.

Estava um bocadinho estragada, mas o preço era bem simpático e tinha duas prateleiras em baixo onde se podia guardar o quê? Livros. Enfim, apaixonei-me.

A leitora ingénua achava que era só juntar a escrivaninha à encomenda que já tinha sido feita, vinha tudo junto ter a casa e depois montava a escrivaninha.

Só que não.

Sucede que, se vocês querem comprar alguma coisa na zona circular do IKEA, pagam o produto, vão para uma salinha onde há meia dúzia de chaves, desmontam o produto (muito mais complicado do que parece à primeira vista porque não há instruções nenhumas) e são vocês que têm de levar o produto para casa. Não há cá desmontagem, montagem nem transporte. Imaginem se quiserem levar uma cama ou um sofá? Pois, eu ainda sugeri ao senhor que só podia ser para desencorajar as pessoas de comprar ali, mas ele apressou-se a dizer que não.

Eu até entendo que, eventualmente, as pessoas pudessem alegar que um determinado risco ou peça partida (como estas da zona circular têm) pudesse ter resultado da desmontagem ou transporte, mas para isso não bastava tirar fotografias ao produto na loja, antes de desmontar? Para ter provas do estado e das condições em que estão?

Enfim, depois de não conseguirmos desmontar a escrivaninha porque não sabíamos como separar a parte de cima da de baixo e de termos pedido ajuda só para nos explicarem isso (já que não podiam mesmo mexer nos móveis), lá conseguimos desmontar e milagrosamente enfiar tudo no carro.

Aproveitei a escrivaninha para guardar os livros infantis e os livros em inglês, assim como os livros da Fundação Francisco Manuel dos Santos, o que me libertou algum espaço na estante.

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Se volto a comprar coisas na zona circular do IKEA? Só se for assim uma coisa muito fácil de desmontar, tipo uma mesinha de cabeceira ou uma mesa básica, porque coisas mais complexas, acho que não me apanham noutra.

Nem todas as árvores morrem de pé de Luísa Sobral

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Finalmente, li o livro de estreia de Luísa Sobral na ficção, e gostei muito.

Admito que desconhecia muito sobre a história da construção e depois da queda do muro de Berlim, pelo que, no início, me senti um bocadinho perdida e andei a pesquisar bastante sobre o assunto (o que só me fez bem).

«Nem todas as árvores morrem de pé» alterna capítulos entre duas mulheres. Temos Emmi que nasceu antes de Hitler ascender ao poder na Alemanha e que acaba por perder o pai na Segunda Guerra Mundial. Trabalha muito para conseguir ajudar em casa e, num bar que frequenta com os amigos, conhece Mischa, um homem de Berlim Leste que trabalha para o governo e com quem acaba por ir viver para a RDA.

O muro de Berlim começou a ser construído na madrugada de 13 de agosto de 1961 pelo governo da República Democrática Alemã (RDA), apoiado pela União Soviética, para impedir a migração de cidadãos para Berlim Ocidental, apoiada pelos Estados Unidos, França e Inglaterra. O facto de ter sido erguido de madrugada fez com que muitas famílias ficassem separadas pelo muro, incluindo a de Emmi.

Ao contrário de Emmi, M., a segunda protagonista, nasce já após a construção do muro que dividiu as duas Alemanhas. Tem uma mãe ausente e deprimida e é educada por uma ama que adora plantas. Cada capítulo de M. começa com um desenho e uma menção a uma planta diferente. M. cresce na RDA, torna-se médica e idolatra o pai que trabalha para o governo, desconhecendo completamente o mundo ocidental e crescendo numa realidade distorcida. Um dia, M. descobre a verdade sobre o pai e isso vai mudar o rumo da sua vida.

Para quem já leu o livro, fica aqui a reportagem que inspirou Luísa Sobral a escrever esta história e esta notícia sobre o caso (para quem não leu, aviso que tem spoilers).

Não quero revelar muito mais, mas adorei o livro, apesar de ele ser algo pesado e triste, e sei que é muito popular (havia uma fila gigante de reservas na biblioteca, pelo que acabei por o ler em ebook). Recomendo.

A casa Guinness: a série incrível da Netflix

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Quando fui a Dublin, acabei por não visitar a cervejaria Guinness porque, não gostando de cerveja, não era uma prioridade. Mas assim que vi o trailer desta série dos criadores de Peaky Blinders (que ainda não vi), soube que ia gostar muito.

A série é baseada em eventos verídicos. No final do séc. XIX, com a morte de Benjamin Guinness, proprietário da famosa cervejaria, os filhos têm de lidar com tudo o que se segue à sua morte.

Em testamento, o pai deixa a cervejaria ao filho mais velho (Arthur) e ao mais novo (Edward), que são obrigados a cuidar do negócio sob pena de perderem todo o dinheiro, propriedades e terras que o pai foi acumulando se recusarem fazê-lo. À filha, Anne, por ser mulher e casada, deixa apenas o acesso às propriedades e dinheiro de acordo com a vontade do filho mais velho. Ao filho do meio, Benjamin, deixa apenas uma mesada para não o tentar mais no vício do jogo e do álcool.

Todos os irmãos ficam insatisfeitos com o testamento do pai. Além dos dramas familiares típicos de uma família de alta sociedade, estamos numa Irlanda em ebulição. Os filhos, principalmente, Edward e Anne, tentam mudar o rumo da família Guinness, protestante, tornando a marca mais próxima da classe pobre, maioritariamente católica e crente numa Irlanda livre do domínio britânico.

É uma série muito boa. Os oito episódios passam a voar e, como o final fica em aberto, espero que façam mais temporadas. Trailer aqui.

E vocês, já viram esta série?

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