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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

O clube dos livros proibidos de Kate Thompson

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Para quem não costuma ler livros sobre a II Guerra Mundial, este ano já vamos no segundo.

Este livro conta a história, baseada em factos reais, da vida dos habitantes da ilha de Jersey durante a ocupação alemã durante a II Guerra Mundial, que começou em 1940. O livro passa-se em 1943, portanto, as pessoas estavam há 3 anos (!) sob ocupação da Alemanha. As regras eram muito restritas, incluiam recolher obrigatório, postos de controlo, não se poder ter rádios, não se poder trocar correspondência com Inglaterra, não se poder andar de bicicleta lado a lado, andar do outro lado da estrada, enfim. Os nazis queriam saber o que os habitantes faziam, vendiam, quando respiravam, enfim, controlavam todos os seus movimentos. Além disso, havia na ilha uma prisão com prisioneiros russos e de outras nacionalidades.

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(conseguem ler as regras aqui)

A história foca-se principalmente em Grace, a bibliotecária local, que decide esconder todos os livros que os alemães querem queimar (incluindo autores como Steinbeck, Freud e Dickens, entre muitos outros) e que cria um clube de leitura que se torna um escape à dura realidade que os habitantes da ilha enfrentam.

Depois temos Bea, a funcionária dos correios, que abre cartas a denunciar atividades ilícitas aos alemães (existência de um rádio em casa, por exemplo) e avisa os habitantes da ilha antes que os nazis façam uma rusga à casa.

Também há habitantes da ilha que resistem aos nazis escondendo prisioneiros fugidos ou judeus que não chegaram a abandonar a ilha.

À medida que o tempo de ocupação aumenta, a vida vai-se tornando cada vez mais dura e as coisas vão ficar mesmo muito negras para estas duas personagens...

Cada capítulo começa com o título de um livro banido pelos nazis e, no final, temos uma bela surpresa que é uma compilação das histórias reais em que o livro se baseia. Uma história dura, mas bonita sobre o poder dos livros nas condições mais adversas. Tinha expectativas baixas e gostei tanto deste livro!

Faz lembrar bastante «A sociedade literária da tarte da casca de batata», um livro que também adorei.

A alma perdida de Olga Tokarczuk

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Desta autora, já tinha gostado muito de «Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos», por isso, quando vi este livro na biblioteca, soube que seria uma boa leitura.

É claramente um daqueles livros que está classificado como literatura infantil, mas que vai muito além disso.

Temos a história em texto e ilustrações de Joanna Concejo de um homem que vive tão atarefado que acaba por perder a sua alma.

Se alguém pudesse olhar para nós lá do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que correm apressadas, transpiradas e muito cansadas, e que atrás delas correm, atrasadas, as suas almas perdidas, incapazes de acompanhar o passo dos donos. Daqui resulta uma grande confusão; as almas perdem a cabeça e as pessoas deixam de ter coração. As almas sabem que perderam o dono, mas as pessoas, frequentemente, não se dão conta de que perderam a alma.

O homem decide então, ficar parado durante algum tempo, até a sua alma o voltar a encontrar.

É uma reflexão bonita e pertinente sobre a sociedade acelerada em que vivemos. Gostei muito e quero ler mais livros desta autora.

Livraria Sá da Costa

Uma pérola de 1913 em Lisboa

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No meio de uma Lisboa em que as lojas históricas estão a ser substituídas por cafés, restaurantes e outros estabelecimentos modernos, a livraria Sá da Costa é uma preciosidade.

Uma livraria com milhares de livros antigos, muitos deles esgotados ou muito raros, quadros (com uma galeria no segundo piso que está aberta a partir das 16h) e outros artefactos. Além disso, também se encontram algumas edições mais recentes a preços bastante acessíveis (5 euros, por exemplo).

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A Malnascida de Beatrice Salvioni

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Estamos na Itália de 1936 e do fascismo. Frascesca, de 13 anos, é uma rapariga da burguesia que acompanha os pais à missa e que tem, em casa, um ambiente familiar tenso após a morte do irmão mais novo.

O meu pai quase não lhe falava. Mantinham-se quietos e distantes como velhos cães que tinham vivido no mesmo pátio, mas que se haviam cansado do cheiro um do outro.

À distância, vê com curiosidade a malnascida, uma rapariga pobre que todos acreditam estar ligada a mortes e maldições.

Frascesca torna-se amiga da malnascida e junta-se ao seu grupo de amigos problemáticos, uma escolha que a vai levar a crescer, a questionar aquilo que sabe (ou que acha que sabe) e a tomar decisões que podem mudar o rumo da sua vida.

Um livro cru, sobre a importância da amizade. Não leiam a sinopse porque, na minha opinião, diz mais do que devia.

Gostei muito deste livro, mas confesso que estou um bocadinho cansada das comparações de livros escritos por mulheres que se passam em Itália com Elena Ferrante. Eu entendo que venda, mas o estilo de escrita deste livro é diferente (e ainda bem). É o primeiro livro da autora Beatrice Salvioni e merece todos os elogios. Não por ter "ecos de Ferrante", mas por ser muito bem escrito, ter personagens inesquecíveis e uma história que nos agarra desde o início. Espero ler mais livros desta autora.

Quando ter um blog nos surpreeende

Às vezes, ao ver outros blogs que gosto de ler desaparecerem da internet, também me pergunto se vale a pena manter o meu, mas enquanto eu gostar de o ter, ele continua...

Em Maio, fiz o giveaway de um book nook e adorei ler o post da Cristina sobre o mesmo.

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No ultimo post, falei sobre um livro importante para entender a crise de refugiados na Europa "Notas sobre um naufrágio" de Davide Enia e eis que recebi um mail do autor:

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E pronto, ganhei o dia. Por isso sim, ainda vai valendo a pena ter um blog.