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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Out with a bang

Don’t let the bastards grind you down

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E termina assim a série "O conto da aia" (ou The handmaid's tale) ao fim de seis temporadas.

A primeira temporada é baseada no livro de Margaret Atwood, mas depois a série ganha vida própria.

Numa sociedade onde as mulheres deixam de conseguir ter filhos, um grupo deita abaixo o governo dos Estados Unidos e ergue Gilead, onde as mulheres férteis vivem em casa dos patrões com o único propósito de dar à luz. Depois disso, os filhos são-lhes retirados e educados pelos patrões. E claro, como muitos fanáticos, usam a bíblia para justificar as suas escolhas:

Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, se não morro. E ela disse: Eis aqui minha serva Bila; coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela (Génesis)

Gilead é uma sociedade patriarcal onde mesmo as mulheres dos homens mais poderosos não podem ler, nem escrever, não têm voz. Querem-se caladas e subservientes. 

Ao longo destas temporadas, tivemos a oportunidade de conhecer Gilead a fundo, desde os bordéis onde as mulheres eram obrigadas a prostituir-se até aos trabalhos forçados nas colónias para as mulheres não férteis (onde quase sempre acabavam por morrer), de ver a relação de June e Serena seguir rumos inesperados, de ver as mulheres refugiadas fugirem para o Canadá e serem, primeiro bem recebidas e depois odiadas (onde é que já vimos isto?).

Por fim, as mulheres que só existiam para servir e procriar, que não podiam ler nem escrever juntaram-se contra os seus opressores e calaram o regime que durante tantos anos as calou. Confesso que aquela morte no final me custou bastante mas, tendo em conta os episódios anteriores, já estava à espera e não via outro rumo para aquele personagem. Também me custou que não tivesse havido um final fechado para aquilo que a personagem principal mais queria, mas enfim.

Além disso, ainda teremos uma sequela com a adaptação de «The testaments» da mesma autora.

Ainda assim, achei a cena final genial. Uma das melhores séries que já vi.

Toda a luz que não podemos ver de Anthony Doerr

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Li este livro para o FOMO challenge da Barbara reviews books (ajudou ter ganho o livro no giveaway; além do IG não deixem de visitar o blog da Bárbara). A ideia é ler livros que parece que já toda a gente leu.

Este livro foi publicado em 2015, portanto há 10 anos(!) e fez tanto sucesso que teve direito a uma série da Netflix (que já vi e gostei, mas não amei).

Gostei mais do livro.

Aqui temos duas histórias, passadas durante a II Guerra Mundial, que se encontram. Marie-Laure é uma jovem cega que vive com o pai, o encarregado das chaves do Museu Nacional de História Natural em Paris.

Quando as tropas de Hitler ocupam França, pai e filha refugiam-se na cidade fortificada de Saint-Malo (vale a pena procurar fotografias no Google porque a cidade é lindíssima e foi efetivamente palco de grandes confrontos durante a II Guerra) em casa do peculiar tio Étienne. Com eles, levam uma jóia muito valiosa do museu que supostamente dá vida eterna a quem a possui mas carrega uma maldição (ao mesmo tempo, os nazis percorrem museus à procura de obras valiosas, incluindo esta pedra).

Por outro lado, temos Werner, um órfão alemão que cresce numa cidade mineira onde, aos 15 anos, todos os rapazes começam a trabalhar nas minas. No entanto, Werner tem uma paixão por rádios, consegue arranjá-los e acaba por se juntar à juventude hitleriana e, mais tarde, por se juntar a um colégio hitleriano, onde estuda electrónica, além de aprender a mexer em armas, etc. Inicialmente, gosta bastante do colégio que acaba por ser uma forma de escapar às minas mas, à medida que os instrutores vão sendo mais duros (por exemplo, prendem um prisioneiro a um poste e fazem cada aluno despejar-lhe um balde de água em cima num dia de neve) a sua opinião vai mudando.

Quando ele segue o exército alemão para França, chega a Saint-Malo na véspera do Dia D, onde, inevitavelmente, o seu destino se cruza com o de Marie-Laure.

É um livro bonito, apesar das trevas que o rodeiam (e de haver um capítulo muito duro mais para o final do livro e do final não ser um "e viveram felizes para sempre"). Não estava à espera de gostar muito, porque não costumo gostar de ler histórias sobre a II Guerra Mundial, mas gostei muito deste livro.

Giveaway: Book nook (terminado)

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É verdade, eu faço anos (mas eu detesto fazer anos - sinto-me sempre assim), mas tenho uma prenda para vocês! Além disso, este é o post 500 do blog (o que foi aleatório).

Estou a sortear um book nook (que está na fotografia) tem de ser montado e depois pode ser colocado na estante entre livros.

Para participar, basta comentarem este post com o que quiserem até dia 31 de maio. Depois no dia 1 de junho faço o sorteio por random e respondo ao comentário de quem tiver ganho a pedir a morada (moradas em Portugal continental e ilhas).

Só podem comentar uma vez, com a vossa conta do sapo ou perfil do Facebook.

Alguma dúvida deixen nos comentários ou enviem por mail.

Boa sorte!

Onde crescem os limoeiros de Zoulka Katouh: uma história passada na Síria

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Salama é uma estudante de farmácia de 18 anos que, devido ao início da guerra da Síria, tem de ajudar num hospital onde chegam cada vez mais pessoas. A mãe morre, o pai e o irmão foram levados e, depois da sua casa ter sido destruída, Salama vai viver com Layla, a cunhada grávida de 7 meses. Layla quer sair do país e chegar a um país europeu.

No entanto, Salama está dividida. Por um lado, sente-se em dívida para com o hospital onde é voluntária, agora que há cada vez menos médicos e cada vez mais feridos. Por outro lado, a situação na cidade vai piorando a cada dia. A cidade onde se passa a história, Homs, esteve cercada durante três anos entre 2011 e 2014. Havia bombas e tiros, a comida era cada vez mais escassa e não havia água potável nem eletricidade. Além disso, Salama prometeu ao irmão que cuidava da cunhada. Mas sair do país implica pagar 4 mil dólares para fazer uma viagem de barco arriscada, da qual muitos não sobrevivem, e chegar a um país onde não conhece ninguém e onde não sabe o que vai encontrar. Não pode deixar a cunhada fazer tal jornada sozinha, ainda por cima grávida de 7 meses, mas ficar na Síria pode significar a morte para as duas...

Lutar contra o quê? Temos sorte se o pior que nos acontecer aqui for a morte, e sabes isso muito bem. Ou somos presas pelos militares ou mortas por uma bomba. Não há nada porque lutar porque não temos como o fazer. Ninguém nos ajuda! Sou voluntária no hospital porque não aguento ver pessoas a morrer.

O livro vai acompanhando o conflito interno de Salama, assim como o conflito na cidade e o seu dia-a-dia no hospital.

Morre toda a gente. Nada do que faço resulta. Dói-me a cabeça. Não durmo bem há mais de um ano. É como se estivesse aos gritos à beira de um abismo que engole tudo. E que, muito em breve, me há de engolir a mim também.

Um livro duro mas importante. Recomendo muito.

P.S. - Este livro tem estado esgotado na versão física, mas vai ser reeditado a 13 de junho (aproveitem!), também está disponível em e-book. No meu caso, li da biblioteca.

Catarina e a beleza de matar fascistas

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Tive muita pena de não ter conseguido ver esta peça ao vivo mas, felizmente, a Tinta da China publicou o texto da peça escrito por Tiago Rodrigues.

Em «Catarina e a beleza de matar fascistas» temos uma família que se junta todos os anos numa casa de campo para almoçar e matar um fascista. Há mais de 70 anos que esta família cumpre esta tradição. Mas hoje, a Catarina de 26 anos que vai matar o seu primeiro fascista, que raptou de propósito para o efeito e que é deputado no parlamento, não consegue disparar o tiro - "tenho dúvidas", "não consigo ver neste homem um assassino", "porque é que continuamos a matar fascistas se já não vivemos em ditadura?".

O texto lança muitas perguntas, mas poucas respostas.

O que é o fascismo? Até que ponto deve ir a liberdade de expressão? E a liberdade daquilo que um político pode dizer e legislar? A violência é justificável na luta por um mundo melhor? O fascismo quebra as regras da democracia mas podemos quebrar as regras da democracia para combater o fascismo? Como é que combatemos o fascismo, ou o racismo, ou a homofobia, ou o machismo? Como é que regulamos o discurso de ódio? Ou permitimos que tudo seja dito em prol da liberdade de expressão?

The friend

O luto pelo olhar de um Dogue Alemão

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Há livros que nos marcam muito depois de os termos lido. Para mim, foi o caso de «The friend» de Sigred Nunez, que tem agora uma belíssima adaptação ao cinema.

Aqui temos a história de uma mulher escritora que perde o melhor amigo, que comete suicídio, e se vê praticamente obrigada a tomar conta do seu cão, Apollo, um Dogue Alemão. Os dois vão passando pelo luto ao mesmo tempo, apoiando-se mutuamente, mesmo sem se aperceberem. 

O filme é muito bonito, lento, com muitas paisagens de Nova Iorque e uma história muito focada na cidade (em que, por exemplo, a personagem principal está prestes a ser despejada porque o seu prédio não permite cães e vai ter de arranjar uma forma de dar a volta à situação).

Achei a adaptação excelente e, não se preocupem, porque esta não é uma daquelas histórias em que o cão morre no final do filme.

Trailer aqui

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