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Ler, escrever e viver

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Encontrar-me: A autobiografia incrível de Viola Davis

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Conheço Viola Davis de filmes como «As serviçais» e «Dúvida», mas confesso que não sabia absolutamente nada sobre a sua vida privada.

A autobiografia de Viola Davis, vai desde a infância pobre passada num apartamento em Central Falls, Rhode Island, até chegar aos palcos de Nova Iorque e, mais tarde, à televisão e ao cinema.

A primeira parte foca-se na infância passada no apartamento 128 em Central Falls. Uma infância pobre, muito pobre, em que quatro irmãs sobreviviam com os pais num apartamento cheio de ratos, sem dinheiro para comer nem para lavar a roupa. Viola ia muitas vezes para a escola a cheirar a urina. Não tinha descanso em lado nenhum. Em casa, vivia num ambiente de violência doméstica em que o pai chegava, muitas vezes, bêbedo a casa e batia na mãe. Na escola, sofria bullying por ser "demasiado" negra. (Há uma cena em que um cabo verdiano chama preta a Viola e ela responde "mas tu também és!", e o cabo verdiano responde "não, eu sou português!")

Não há páginas suficientes para mencionar as discussões, o ser constantemente acordada a meio da noite ou o chegar a casa depois da escola com os ataques de fúria do meu pai e rezar para que ele não perdesse tanto o controlo a ponto de matar a minha mãe.

As quatro irmãs eram muito unidas mas, como eram raparigas e andavam, muitas vezes, sem qualquer supervisão tornam-se vulneráveis a abusos sexuais. Mais tarde, os pais têm uma quinta filha, onze anos mais nova do que Viola, que se torna, por isso, a sua protegida.

É no teatro e na representação que Viola vê uma possibilidade de escape à pobreza dos pais. Para ela, só existem duas possibilidades: falhar e viver na miséria ou ser bem sucedida. Vai conseguindo uma bolsa aqui e ali e faz a faculdade ao mesmo tempo que mantém vários trabalhos em part-time. Mais tarde, consegue entrar em Juilliard, onde arranja um agente e começa a fazer audições. Primeiro, consegue chegar à Broadway e, depois, a partir daí, consegue papéis em televisão e cinema. Mas, não pensem que foi fácil. Por ser negra, Viola era constantemente chamada para fazer os mesmos papéis: de mãe toxicodependente, ou de melhor amiga da personagem principal e branca da série ou do filme.

Nos projectos afro-americanos, muitas vezes os protagonistas são músicos ou comediantes. (...) Não é crítica, é apenas a realidade. Os actores afro-americanos, por outro lado, muitas vezes não têm acesso à mesma quantidade de material para desenvolver a sua reputação. Ou estão em Nova Iorque a fazer teatro ou são simplesmente desconhecidos a tentar abrir caminho. Além disso, se a maioria dos papéis disponíveis é de membros de gangue ou de mães urbanas viciadas em drogas, isto acaba por excluir muitos actores.

A vida de Viola vai melhorando nuns aspectos e noutros nem por isso. Conhece Julius, com quem se casa e adopta uma filha. Vai sendo chamada para papéis cada vez melhores até à entrada na série que teve grande impacto na sua vida "How to get away with murder ou Como defender um assassino".
Por outro lado, uma parte da família vive rodeada pela droga e Viola tem cada vez mais dificuldade em ajudá-los. Além disso, vai-se deparando com o envelhecimento dos pais.

A minha maior descoberta foi que podemos, sem a menor dúvida, reescrever a nossa vida. Podemos redefini-la. Não temos de viver no passado.

Este livro foi uma grande surpresa. Adorei e recomendo a quem gostar de autobiografias e livros de memórias. Além disso, há a versão em audiobook lido pela própria.

A experiência incrível de ver golfinhos e baleias nos Açores

Na verdade, não tínhamos planeado ir ver golfinhos e baleias em São Miguel. Em parte, porque não sabia como estaria o mar e, já tendo tido uma experiência em que fui ver baleias na África do sul e fiquei extremamente enjoada, não tinha muita vontade de repetir a experiência. Mas, logo no dia em que chegámos, estava um calor de ananases e o mar estava calmíssimo.

Felizmente, ainda havia vagas para o Catamaran da Futurismo. Já os seguia há muito tempo nas redes sociais e sei que são uma empresa ética e, para mim, isso é fundamental. Têm sempre biólogos a bordo, fazem a aproximação aos animais de lado ou de costas, mas nunca de frente, nunca ficam muito tempo com o mesmo grupo de animais e têm sempre atenção ao número de barcos que rodeia um animal ou grupo.

Eles têm semirrígidos e catamarans. Os primeiros são barcos pequeninos, onde têm de usar colete salva-vidas e a probabilidade de enjoarem é bem maior. Por isso, não foi difícil escolher o catamaran.

É claro que estamos a falar de animais selvagens, por isso, há sempre o risco de não conseguirem ver nada. Nesse caso, podem voltar a marcar uma excursão com a futurismo para outro dia sem pagar mais por isso. Eles têm observadores em terra com binóculos que estão sempre à procura de sinais da presença de grupos de golfinhos ou baleias.

No nosso caso, tivemos muita sorte.

Primeiro, começámos por avistar um grupo de golfinhos comuns que são uma das espécies residentes dos Açores. São lindos e tão, mas tão rápidos que são difíceis de fotografar. Reconhecem-se pela coloração amarelada nas zonas laterais.

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Depois disso, tivemos um encontro inesperado com o Sr. Liable, que é um cachalote macho com quase quinze metros de comprimento. Foi fotografado pela primeira vez na ilha de São Miguel em 2004 e, desde então, foi avistado mais de 100 vezes, tornando-se o cachalote mais frequentemente avistado na ilha. Além disso, tem cerca de 30 a 40 anos, o que significa que já estava vivo na altura em que a caça era permitida nos Açores. E pronto, agora vocês vão ter de acreditar em mim quando vos digo que, em baixo, é uma fotografia da barbatana caudal deste cachalote a preparar-se para um mergulho que pode durar quarenta minutos.

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Por fim, veio a parte melhor. Avistámos um grupo muito curioso e brincalhão (e com uma cria!) de golfinhos pintados do Atlântico, uma espécie sazonal na ilha que só fica durante as águas quentes de Junho a Setembro.

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Foi absolutamente incrível ver estes animais na natureza, em grupos de 30 a 40 golfinhos, em família, a aproveitarem as ondas do barco para ganharem balanço, a brincarem, a interagirem e comunicarem uns com os outros. Não podia recomendar mais a experiência, mas escolham sempre empresas éticas porque, infelizmente, nem todas o são. Podem marcar com a Get Your Guide aqui.

Viagem a São Miguel, Açores - parte 2

Continuamos então a nossa viagem por São Miguel para lá de Ponta Delgada.

Ermida de Nossa Senhora da Paz

O primeiro sítio que visitámos foi a Ermida da Nossa Senhora da Paz, que fica em Vila Franca do Campo e, apesar da quantidade de degraus que é preciso subir para chegar lá acima, vale bem a experiência e a vista é incrível. Ao fundo, vê-se o ilhéu de Vila Franca do Campo.

Ermida da nossa senhora da paz, Açores

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Parque Natural da Ribeira dos Caldeirões

Seguimos para este parque natural, que é lindo, lindo, lindo! Tem uma série de cascatas, tem vários trilhos que podem percorrer e a natureza aqui é simplesmente inacreditável. É mesmo um sítio a não perder.

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Parque Terra Nostra

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Este parque é certamente um dos mais conhecidos da ilha de São Miguel. Tem um hotel, um jardim botânico magnífico e umas termas ferrosas enormes. Infelizmente, quando estivemos em São Miguel tinha sido detectada uma bactéria em três zonas termais da ilha, que estavam encerradas a banhos, a do parque Terra Nostra, a da Caldeira Velha e a da Poça da Dona Beija. Como as termas estavam fechadas, baixaram o preço de entrada no parque de 16 para 12 euros e aproveitámos apenas para conhecer o jardim botânico, que é incrível. Ele é lagos com carpas enormes que podem alimentar, ele é lagos cheios de nenúfares. Enfim, o parque é muito grande e muito bonito.

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Ora, não queríamos perder a experiência de fazer um banho termal durante a viagem, pelo que seguimos para as únicas termas da ilha que não estavam fechadas, as termas das Caldeiras. São umas termas muito pequeninas, em que só podem estar 20 pessoas ao mesmo tempo e paga-se 6 euros por uma hora. As termas são mesmo pequenas e, além disso, são baixas. Valeu a pena para termos a experiência do banho termal mas não é algo que voltasse a repetir.

As lagoas

Chegámos à questão de um milhão de euros: qual é a lagoa mais bonita de São Miguel? Ora, nós visitámos quatro lagoas: a lagoa das furnas, a lagoa das sete cidades, a lagoa do fogo e a lagoa de Santiago e são todas lindas. Se tivesse mesmo de escolher, ficava algures entre a das sete cidades e a de Santiago.

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Na lagoa das sete cidades, reza a lenda que uma princesa e um lavrador se apaixonaram, mas que o rei não ficou contente com a paixão. Assim, foram cada um para o seu lado da lagoa, ela foi chorar para o lago azul e este ficou azul (o mais ao fundo na foto em cima) e ele foi chorar para o lago verde e este ficou verde. Na verdade, o verde tem simplesmente mais vegetação à volta e, por isso, é verde.

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Uma coisa importante a saber sobre as lagoas de São Miguel é que é proibido nadar em qualquer uma delas. Isto tem várias razões. A primeira é que as lagoas foram altamente poluídas durante muitos anos, a segunda é que não são vigiadas, têm algas no fundo (podem ver na foto em baixo) o que pode levar a risco de afogamento e, além disso, são reservas protegidas e nadar nelas implica largarmos lá todos os produtos químicos que usamos, como os cremes, os protetores solares, etc. Infelizmente, não foi por ser proibido que deixámos de ver turistas a nadar nas sete cidades e no fogo, sendo que nadar na lagoa do fogo dá uma multa de 800 euros. Há placas a indicar que é proibido ir a banhos e, por muito apetecível que seja, devemos respeitar sempre as regras dos locais que visitamos.

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Em cima, a lagoa do fogo e, em baixo, a lagoa das furnas. Atenção que, por causa do caos que era o estacionamento dos veículos alugados no miradouro que dá para a lagoa do fogo, este tem uma barreira policial e só é acessível a residentes e veículos de animação turística.

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Por último (em baixo), a preciosidade que é a lagoa de Santiago. Esta é uma lagoa menos conhecida porque o trilho só é acessível a pessoas que vão estudar a lagoa (nomeadamente à Universidade dos Açores) e não aos turistas, mas é, para mim, uma das mais bonitas.

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As plantações de chá e de ananás

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Eu sei que a plantação de chá mais conhecida é a Gorreana mas nós somos do contra e fomos à de Porto Formoso. Eles fazem uma pequena explicação sobre a produção de chá e depois podemos provar (eu gostei mais deste do que do Gorreana) e podemos visitar a plantação, que tem esta vista incrível.

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Na plantação de ananás, aprendemos que o ananás dos Açores não é natural dos Açores. Veio da Venezuela e as condições tropicais são replicadas em estufas. Um único ananás é replantado três vezes e a obtenção do produto final demora dois a dois anos e meio, o que justifica o preço alto a que é vendido, mas é absolutamente delicioso. Muito doce e saboroso.

A praia das Milícias

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No último dia na ilha, queríamos descansar um bocadinho e fomos para a praia das Milícias (de táxi, são cerca de 7/8 euros desde o centro de Ponta Delgada). É uma praia de areia preta, como todas as outras da ilha. Não sabíamos, mas aprendemos que as marés vivas nos Açores começam em Agosto e, por isso, o mar estava com ondas grandes (apesar da bandeira verde!) Ainda fui a banhos a fazer aquela figura de quem corre para o mar quando não há ondas e depois foge assim que aparece uma.

Ainda vai haver mais um post sobre os Açores (desta vez, sobre o mar), mas posso já dizer que valeu absolutamente a pena fazer esta viagem. Foi um privilégio poder conhecer a ilha de São Miguel e mal posso esperar por explorar as outras ilhas.

Viagem a São Miguel, Açores - parte 1

Ir aos Açores, nomeadamente a São Miguel, estava na minha lista de sítios a visitar há muito tempo, mas sempre achei que fosse demasiado complicado. Primeiro, toda a gente dizia que visitar a ilha de transportes era para esquecer (e é verdade), alugar carro fica caro e não me sentia confortável a conduzir num sítio que não conheço e que tem estradas mais rurais nalguns locais da ilha. Assim, a opção que nos pareceu mais fácil foi simplesmente arranjarmos um hotel mesmo no centro de Ponta Delgada para podermos conhecer a cidade a pé e marcarmos as excursões que nos interessavam pelo Get your guide. Há dezenas de excursões para todos os gostos. Não gosto de excursões de autocarro, por isso, escolhemos visitar os pontos da ilha que nos interessavam em pequenos grupos de 8 pessoas e, para mim, resultou muito bem.

Confirmo tudo aquilo que se diz sobre São Miguel, a ilha é absolutamente lindíssima, cheia de verde e azul e foi um privilégio poder conhecer um sítio tão bonito em Portugal.

Ponta Delgada

Gostei logo de Ponta Delgada. É uma cidade pequenina, mas bonita e estava decorada para a festa branca, o que tornava as ruas ainda mais bonitas.

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Se é uma cidade perfeita? Não é. Há vários sem abrigo mesmo no centro de Ponta Delgada que são muito insistentes a pedir dinheiro. Foi-nos explicado que tinham refeições e habitações disponíveis, mas que estas tinham regras, como não poder levar álcool ou drogas, o que faz com que alguns acabem a viver nas ruas. É chato e é triste, mas foi mesmo o único ponto negativo da cidade.

Como chegámos muito cedo no primeiro dia decidimos espreitar o Jardim Botânico António Borges, que é gratuito. Confesso que não esperava muito, mas fiquei bastante surpreendida. O jardim está muito bem cuidado, cheio de árvores e flores bonitas, lagos e animais, como galinhas, perdizes e patos e tem algumas grutas e pontes, que me fizeram lembrar um bocadinho a Quinta da Regaleira, em Sintra.

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Depois, quisemos ir espreitar a Igreja Matriz de São Sebastião, que fica mesmo no centro da cidade e é lindíssima. Como era domingo e estava a decorrer a missa, o senhor que estava à porta da igreja estava relutante em deixar-nos entrar, mas lá acabou por ceder quando dissemos que só queríamos mesmo espreitar. Assim que entrámos, a igreja estava cheia e o padre começou por dizer que não podia deixar de falar na heresia que tinha sido a presença das drag queen na abertura dos Jogos Olímpicos em Paris e que os católicos têm o dever de evitar o que estas pessoas estão a tentar fazer à sociedade. (Efeitos secundários de assistir à missa podem incluir níveis elevados de irritação. Para mais informações consulte o seu médico ou farmacêutico). Enfim, saímos e depois voltámos noutro dia para ver melhor o interior que é, de facto, muito bonito.

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Continuámos a explorar a cidade e descobrimos esta microbiblioteca, onde se pode deixar e requisitar livros. A maioria estavam em inglês.

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Além da microbiblioteca, descobrimos uma livraria da Leya, que tinha um livreiro muito simpático que conhecia um dos meus escritores portugueses preferidos, o Joel Neto que vive na ilha Terceira, onde abriu recentemente uma livraria e café em Angra do Heroísmo. Depois, explorámos também a Letras Lavadas, uma livraria incrível, com muitos livros, desde novidades a livros mais antigos e que tem até edições próprias (só tive pena de não ter muito espaço na mala para trazer uns livrinhos...) 

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Nos nossos passeios pela cidade ainda descobrimos aquele que se tornou o meu local preferido na cidade, a piscina natural das Portas do Mar, que é uma piscina oceânica que vos permite nadar directamente no oceano. E adivinhem? Além de estarem abertas o ano inteiro e serem vigiadas, a entrada é gratuita. Só pagam pela utilização dos chuveiros (de água quente!) e dos balneários e custa apenas 1,50 euros por pessoa. Há duas piscinas, uma mais pequena onde se tem pé e outra, maior, que foi a que gostei mais, onde podem nadar à vontade porque o mar é bem calminho. É incrível e não podia recomendar mais a experiência. Só têm de ter muito cuidado a descer os degraus das piscinas porque são bem escorregadios. 

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Eu sei que quem visita São Miguel não vai propriamente para conhecer Ponta Delgada mas sim o resto da ilha, mas eu gostei tanto, mas tanto desta cidadezinha que não podia deixar de lhe dedicar um post. No próximo sim, vamos viajar pelo resto da ilha de São Miguel.

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