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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

A louca da casa de Rosa Montero

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Depois de ter adorado «A ridícula ideia de não voltar a ver-te», decidi ler «A louca da casa» de Rosa Montero. Uma mistura entre autobiografia, ensaio e romance, Rosa Montero escreve sobre a imaginação como sendo a louca da casa, e explora a sua própria relação com a escrita, assim como a de outros escritores.

Tenho a certeza de que, enquanto brindava com champanhe junto ao mar plácido, dizia para comigo: «Disto nunca mais me vou esquecer.» Assim se vão perdendo os dias e a vida, no despenhadeiro da desmemória. A morte não nos espera só no fim do caminho, também vai comendo o que ficou para trás.

Apesar de ter gostado mais do primeiro livro que li da autora, também gostei deste, principalmente dos episódios pessoais (que podem ou não ser reais) que a autora partilha ao longo do livro.

A poesia de Adília Lopes

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Fui à biblioteca buscar estes livros de poemas de Adília Lopes. Tinha poucos livros para ler em casa (mentira, tinha os que comprei na feira do livro e mais uma data deles), mas as bibliotecas públicas são lugares incríveis. Estantes e estantes de livros que podemos requisitar para ler sem pagar absolutamente nada.

Há muito tempo que queria ler Adília Lopes  e aproveitei para trazer dois livros de poemas da autora: «Estar em casa» e «Manhã».

Fiquei agradavelmente surpreendida. É lindíssima a poesia de Adília Lopes e que pena que não seja mais conhecida e divulgada, nomeadamente nas escolas.

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A ridícula ideia de não voltar a ver-te de Rosa Montero

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Há livros que chegam à nossa vida na altura certa. Foi o caso deste livro de Rosa Montero e das suas frases certeiras:

«Sempre», «nunca», palavras absolutas que não conseguimos compreender sendo, como somos, pequenas criaturas presas no nosso pequeno tempo. (…) É a primeira coisa que nos atinge num luto: a incapacidade de pensar nisso e de o admitir. A ideia simplesmente não nos cabe na cabeça. Mas como é possível que não esteja? Esta pessoa que ocupava tanto espaço no mundo, onde se meteu?

«A ridícula ideia de não voltar a ver-te» é, na realidade, um livro sobre Marie Curie. Rosa Montero leu o pequeno diário que Marie escreveu depois da morte do marido, Pierre, e tendo também perdido o marido, identificou-se. Mais, escreveu este livro como uma mistura das suas memórias com as de Marie, da sua perda com a dela, da sua vida com a dela.

Marie Curie teve uma vida particularmente fascinante mas nada fácil. Além de uma infância conturbada, e de ter enfrentado muitas dificuldades para conseguir continuar os estudos (numa altura em que não era comum as mulheres irem para a faculdade), mesmo quando ganhou o prémio Nobel, as coisas não foram fáceis.

Inicialmente, Pierre, o marido com quem Marie fez a descoberta do rádio e do polónio, recebeu uma carta de que seria indicado para o Nobel da Física. Pierre respondeu dizendo que Maria também deveria receber o prémio. A carta não foi bem recebida. Pierre acabou a ir ao palco agradecer o prémio e Marie (que também o recebeu) ficou a ver da plateia.

Até hoje, só 6% dos laureados com o prémio são mulheres.

Além de ter sofrido uma perda particularmente difícil na vida - a morte de Pierre - que acaba por ser o foco do livro, a saúde de Maria deteriorou-se como resultado da radiação nos últimos anos de vida. Pierre já tinha sofrido do mesmo e uma das duas filhas do casal também morreu relativamente nova como resultado da radiação.

A descoberta que tanta alegria lhe deu e que lhe deu um lugar de destaque na história como a primeira mulher a receber um prémio Nobel, também a matou, a ela, à filha, e teria morto o marido se não tivesse sido atropelado por uma carruagem.

História trágica, mas deliciosamente contada por Rosa Montero neste livro. Fiquei com curiosidade para ler mais livros de Rosa Montero, e também o livro sobre Maria Curie escrito por uma das filhas - Ève Curie. Há uma edição em português da Livros do Brasil.

Crying in H Mart de Michelle Zauner

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Não me consegui render a ouvir audiobooks. Os únicos de que tenho gostado mesmo são histórias autobiográficas lidas pelos próprios autores, como foi o caso de «Crying in H Mart» de Michelle Zauner.

Nesta história, a autora que nasceu na Coreia do sul, mas cresceu nos Estados Unidos escreve sobre a perda da mãe, a relação que tinham e que envolvia muita comida coreana e sobre chorar depois da morte da mãe na cadeia de supermercados coreana, H Mart.

“Sometimes my grief feels as though I’ve been left alone in a room with no doors. Every time I remember that my mother is dead, it feels like I’m colliding with a wall that won’t give. There’s no escape, just a hard surface that I keep ramming into over and over, a reminder of the immutable reality that I will never see her again.”

Michelle aventura-se a escrever sobre os caminhos sinuosos das relações familiares, as expectativas que os pais têm sobre os filhos, a dor de perder alguém e de ver a saúde dessa pessoa deteriorar-se lentamente, no que fica da sua herança coreana depois da mãe morrer. É um livro duro, mas muito bem escrito, e o audiobook é incrível.

“It felt like the world had divided into two different types of people, those who had felt pain and those who had yet to.”

O livro vai ser transformado num filme, cujo guião (felizmente) está a ser escrito pela própria autora, que também faz parte de uma banda chamada Japonese Breakfast.

Está traduzido em português com o título de «Lágrimas no mercado».