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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Wonderstruck: o livro maravilhoso de Brian Selznick

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Descobri este livro graças a este post e fiquei muito curiosa. São 600 páginas de texto e ilustrações. Que livro lindo!

Aqui acompanhamos as histórias de duas crianças, Ben (em textos) e Rose (em ilustrações). Enquanto Ben parte para Nova Iorque em 1977 em busca do pai que nunca conheceu, Rose parte rumo a Nova Iorque em 1927 em busca de uma atriz que a fascina.

Ao longo do livro as histórias destas duas crianças vão-se entrelaçando e passam, entre outros sítios, pelo museu de história natural, em Nova Iorque.

Ben lê num livro sobre como os primeiros museus eram, na verdade, pequenas coleções privadas de objetos especiais, desde exemplares de plantas a animais exóticos, pedras e objetos trazidos de outras culturas. Eram os “gabinetes de maravilhas” ou “gabinetes de curiosidades”.

Ben lembra-se de ler sobre curadores no Wonderstruck, e pensou no que significaria organizar a exposição da nossa própria vida (…) Como seria escolher os objetos e histórias que entrariam no nosso próprio armário? Como é que Ben representaria a sua própria vida? E então, ao pensar na sua caixa-museu, e na sua casa, e nos seus livros, e na sala secreta, percebeu que já começara a fazê-lo. Talvez, pensou Ben, todos sejamos armários de maravilhas.

Uma autêntica viagem por Nova Iorque, em dois tempos distintos que levanta questões importantes, como a importância de sabermos de onde vimos, a surdez e, claro, os museus de maravilhas da nossa vida.

Há também um livro lindíssimo da Taschen que mostra ilustrações de algumas destas primeiras coleções dos séculos 16 e 17.

A edição portuguesa (que merece todos os elogios) é da ASA. Há outro livro do autor (também mistura de texto com ilustrações e também há um filme), que é «A invenção de Hugo Cabret», mas infelizmente a edição portuguesa está esgotada

Este blog faz oito anos

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Este blog faz oito anos! Um feito que me parece bastante inacreditável mas me deixa bastante feliz andar pelos arquivos e lembrar-me de coisas que quase me esqueço que já fui tive a oportunidade de fazer (como ouvir a Jane Goodall!), algumas viagens (embora me pareçam sempre menos do que gostaria), livros e tudo o que me apeteceu.

Mesmo quando tenho pouco tempo para vir aqui, fico sempre feliz por ter criado este blog. É uma espécie de página em branco que me relembra de todas as possibilidade de coisas que ainda farei.

Oito anos volvidos, muitos blogs que seguia já não existem, mas continuo a ler alguns mais antigos e a descobrir novos. Gosto do Sweet stuff, Entre Parêntesis, Bobby Pins, Rita da Nova, As gavetas da minha casa encantada, Desabafos agridoces, A Sofia World, E a menina, entre outros.

Resta-me agradecer a quem (ainda) lê blogs, e este em particular! Que venham mais oito!

As coisas que faltam de Rita da Nova

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É sempre bom ver novos autores portugueses de ficção a conseguir ver os seus livros publicados. E, quando a sinopse me interessa, gosto sempre de ler. No caso de «As coisas que faltam», a sinopse interessou-me logo:

Quando tinha oito anos, Ana Luís pediu pela primeira vez para conhecer o pai. Era muito comum a mãe dizer-lhe que não a tudo - não, não podia ir para casa das colegas porque tinha de estudar; não, não podia comer gelados porque eram só gelo e açúcar. De todas as respostas negativas que estava habituada a receber, porém, aquela foi a que doeu mais.

Nesta história, acompanhamos a vida da Ana Luís desde a infância até à vida adulta e o que é comum a todas as suas fases é a falta do pai.

Esta ideia de que havia uma espécie de fio invisível a ligar as filhas aos pais fez sentido. Havia algo que me impelia a procurar o meu pai, a agarrar esse fio e a puxá-lo, até conseguir aproximá-lo de mim.

Há um livro que está (para mim) erradamente classificado como livro infanto-juvenil que se chama «O pedaço que falta», em que um círculo ao qual falta um pedaço vai rolando e rolando, sempre em busca do pedaço que falta. A certa altura, encontra um pedaço que encaixa na perfeição, mas... continua a faltar qualquer coisa. Acho que isso descreve na perfeição este livro e a história da Ana Luís.

Além da falta do pai, e da procura constante (quase desesperada) pela sua presença, Ana Luís tem uma relação bastante fria e distante com a mãe e é difícil sentirmos simpatia por qualquer uma destas personagens, apesar do final ser uma forma de redenção.

Gostei desta estreia e fiquei curiosa para ler futuros livros da autora. Quanto a «O pedaço que falta», conseguem ouvir o livro no youtube.

Primeiras vezes

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Um dos vídeos mais engraçados do Trevor Noah é este sobre o entusiasmo com que as pessoas receberam as primeiras escadas rolantes na Zâmbia, e faziam filas no centro comercial para andar nelas.

Faz-me sempre lembrar a história que a minha mãe me conta vezes sem conta, de ter ido com a mãe de uma amiga para apanhar o autocarro e percorrer pela primeira vez a ponte 25 de Abril - na altura ponte Salazar - que tinha acabado de ser inaugurada, no meio dos anos 60.

É tão absurdo pensar nisso como no meu entusiasmo de miúda por passar a ter um computador em casa (que ocupava a secretária inteira), ou na primeira vez que vi moedas e notas de euro guardadas numa caixinha na casa de um amigo da escola como se fosse um tesouro. Foi histórico e não sabíamos. 

A casa holandesa de Ann Patchett

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Tinha expectativas muito altas para este livro e, talvez por isso, não me tenha sentido agarrada à história desde o início.

A casa holandesa conta a história de dois irmãos, a Maeve e o Danny, que vão recontando o seu passado ao longo de cinco décadas. A casa holandesa onde moravam nos subúrbios da Filadélfia e que foi um presente do pai para a mãe. A mãe que os abandonou, deixando a casa (que detestava) para trás. E, por fim, a madrasta que o pai lhes arranjou e que, pouco a pouco, lhes fez a vida num inferno.

- Porque se foi embora a minha mãe?

O meu pai suspirou, enfiou as mãos nos bolsos e ergueu o olhar para avaliar a posição das nuvens. Depois, disse-me que ela era louca. Essa era toda a explicação.

- Louca como?
- Louca do género de tirar o casaco e dá-lo a alguém na rua que não lhe pedira sequer um casaco. Do tipo de tirar o teu casaco e dá-lo também.
- Mas não devemos fazer isso? - Quero dizer, não o fazíamos, mas não era esse o objetivo?

O meu pai abanou a cabeça:

- Não. Não devemos. Ouve, não faz sentido pensares na tua mãe. Toda a gente tem um fardo na vida, e esse é o teu. Ela foi-se embora. Tens de viver com isso.

Apesar de ter demorado a gostar da história, acabei completamente agarrada a estes dois irmãos. Além da escrita ser muito boa, do desenvolvimento dos personagens também, Anne Patchett tem o talento de Elena Ferrante (ou vice-versa) para ir deixando pistas aqui e ali de alguma coisa que vai acontecer mais à frente na história e que se queremos saber o que é… temos de continuar a ler.

Já não sei onde li que a infância é um conjunto de memórias partilhadas que liga pais e filhos, mas também irmãos. Este livro é sobre as memórias partilhadas de Maeve e Danny e sobre como a infância definiu os adultos em que se tornaram.

Há vezes na vida em que, quando damos um salto, o passado sobre o qual nos apoiávamos cai atrás de nós, e o futuro onde queremos pousar ainda não está definido. Então, ficamos suspensos por um instante, não sabendo nada e não conhecendo ninguém, nem sequer nós mesmos.

Acompanhamos a vida toda de Maeve e Danny. Por isso, é uma história sobre relações familiares, mas também é uma história sobre perda, memória e velhice. É um livro incrível, que merece todo o reconhecimento que tem recebido. Recomendo vivamente.