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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

All creatures great and small: as aventuras de um veterinário na Inglaterra rural dos anos 30 e 40

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«All creatures great and small» (ou em português «Veterinário da província) é uma adaptação à televisão dos livros de James Herriot, pseudónimo de um médico veterinário que escreveu sobre as suas experiências na Inglaterra rural nos anos 30 e 40.

Logo no primeiro episódio, Herriot que vive em Glasgow não consegue arranjar emprego como veterinário e recebe uma proposta de uma clínica familiar na Inglaterra rural. É o sonho da vida dele e no meio do seu entusiasmo, a mãe é a pessoa prática que pergunta “Está bem, mas pagam-te quanto mesmo?” Herriot decide arriscar e faz a viagem para ficar à experiência na clínica e, logo no primeiro caso, vai avaliar um cavalo e acaba a levar um coice.

Acho que o primeiro episódio resume muito bem o espírito bem-disposto da série. Eu sei que sou suspeita para gostar desta série porque estudei medicina veterinária, mas a série é divertida, os personagens são ótimos e o enquadramento histórico também está muito bem conseguido. Entre outras coisas, James está constantemente a tentar convencer o patrão de que as radiografias são a invenção do futuro (apesar de haver quem ache estranho conseguir-se ver o interior de um animal ou de uma pessoa assim), trabalha com o ministério do ambiente para lutar contra a tuberculose e o há quem veja com maus olhos a clínica dar cuidados de saúde a cães e gatos.

Neste momento, há 3 temporadas completas de 6 a 7 episódios cada. Algures na segunda temporada, a voz de Hitler começa a soar nos rádios da casa (que também serve de clínica) e, mesmo no final da terceira temporada, a série perde um bocadinho a leveza que a caracteriza para se focar também na segunda guerra.

Enfim, se querem uma série bem disposta e interessante sobre animais e os seus donos, esta é uma boa aposta. A série está disponível na Disney plus.

Quatro filmes para ver: The Fabelmans, Ruído branco, The menu e Matilda

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Vi muito poucos filmes de que tivesse gostado mesmo em 2022. Só me lembro do Knives Out (o primeiro, porque o segundo achei aborrecido) e do Regresso a Hogwarts. Mas, na primeira semana deste ano, tive sorte e vi alguns filmes de que gostei bastante.

The Fabelmans - a história da infância e adolescência de Steven Spielberg é deliciosa de ver em filme. Gostei principalmente da relação dele com a mãe e das loucuras dela (o momento em que arranja um macaco por puro aborrecimento com a vida de todos os dias é muito bom). Só não gostei tanto do final porque, no fundo, acaba por não haver um final, visto que a história dele continua para lá do filme.

Ruído branco - este filme é uma adaptação de um livro de Don Delillo que já li e que é uma comédia negra algo peculiar. O livro conta a história de uma família que tem de abandonar a sua casa por causa de uma nuvem tóxica. É uma sátira sobre o pânico social causado pelos media e a morte. Acho que a primeira parte do filme é muito boa, mas que o filme se perde um bocadinho na segunda parte. Ainda assim, o filme está muito fiel ao livro e  gostei de ver esta adaptação.

The menu - Que dizer deste filme? Um grupo de ricos embarca numa experiência exclusiva num restaurante de luxo numa ilha privada. Rapidamente percebemos que o filme avança para um thriller psicológico em que o chefe tenta torturar os convidados com cada prato. Há uns tempos, este artigo sobre uma experiência má num restaurante Michelin tornou-se viral e desencadeou uma discussão sobre esta ideia da comida deixar de ser comida e passar a ser um conceito, uma experiência. Este filme é também uma sátira à cozinha de luxo e, no geral, um filme muito estranho mas surpreendente.

Matilda (Netflix) - Não estava à espera de gostar tanto deste filme, até porque não gosto de musicais, mas achei esta adaptação genial. Não conhecia a história de Roald Dahl e, talvez por isso, tenha ficado tão surpreendida. Matilda é uma miúda com uma família peculiar que vai frequentar a escola, pela primeira vez, e decide fazer frente à diretora rígida da escola. A relação mais significativa de Matilda é com a bibliotecária da vila que lhe empresta livros e a quem Matilda conta histórias caricatas, mas assustadoras. Não é um filme para crianças, mas sim uma adaptação para adultos de uma história infantil. Tem algo de comédia negra de que gostei muito. Além disso, é uma homenagem aos livros e às histórias que transitam dos livros para a vida real e vice-versa. Que filme bom!

E vocês, que filmes gostaram de ver nos últimos tempos?

Vista chinesa de Tatiana Salem Levy

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Nos últimos dois anos, tenho descoberto uma série de autoras sul-americanas de que tenho gostado muito: Tati Bernardi com o seu «E a louca sou eu», Pilar Quintana com «A cadela» e «Os abismos» e agora Tatiana Salem Levy. Também li «A pediatra» de Andréa del Fuego, mas confesso que não gostei tanto.

«Vista chinesa» é baseado na história verídica de uma amiga da autora, que foi violada na vista chinesa, uma zona onde há muita gente a fazer jogging e ciclismo no Rio de Janeiro. O livro está escrito na primeira pessoa, sob a forma de uma carta dirigida aos filhos.

Eu me perguntava, e se eu fingir que nada aconteceu? Se eu me convencer de que nada aconteceu? Aí nada terá acontecido. Vou parar de tomar o coquetel, porque não houve nada, foi só um pesadelo, um equívoco, uma vírgula mal colocada, que eu agora vou desviar da minha história.

Apesar de curto (tem menos de 100 páginas na versão física), é um relato cru e duro de ler. Depois do sucedido, esta mulher passa por todo o processo de denunciar o caso à polícia. Se inicialmente lhe é dito que há um protocolo a cumprir e que ela não vai estar sozinha com vários polícias (homens), rapidamente a polícia esquece o protocolo e ela está num carro da polícia sem a delegada para mostrar onde decorreu o crime. Além disso, durante todo o processo, a polícia está constantemente a duvidar do relato dela (ao ponto de ela também duvidar dela própria) e mais interessada em prender alguém, quem quer que seja, mesmo que não o culpado do caso, para poder dar aquele processo por encerrado.

Eu pensava: há coisas piores na vida. Há pessoas que perdem o filho num acidente de carro. Há pessoas que perdem a família inteira no desabamento de uma encosta. Há pessoas que perdem o movimento das pernas. Há pessoas que perdem um braço ou uma perna. Os dois braços e as duas pernas. Há pessoas que sofrem queimaduras e ficam completamente desfiguradas. Há pessoas que são estupradas por dez sujeitos no mesmo dia. Mas a dor dos outros não diminuía a minha.

A única coisa de que não gostei foi do final algo abrupto do livro mas, de resto, quero ler mais livros desta autora.

As 10 melhores séries que vi em 2022

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Five days at memorial

Série baseada na história verídica de um grupo de médicos e enfermeiros que estiveram num hospital de Nova Orleães durante 5 dias após o furacão Katrina. É uma série pesada sobre ética, sobre quem nos tornamos em situações extremas e sobre o poder de decisão que os médicos devem ou não ter em situações de catástrofe. Trailer aqui.

Yellowjackets

Uma adaptação do livro «O deus das moscas» em que uma equipa de futebol feminina tem um acidente de avião e fica presa no meio da floresta durante alguns meses. Uns anos depois, os sobreviventes tentam esconder uma série de segredos sobre o que aconteceu. Tem um estilo muito comédia negra que eu adoro, e uma personagem completamente louca que faz lembrar a personagem de Misery do Stephen King. Trailer aqui.

This is going to hurt

Uma adaptação da BBC do livro de Adam Kay, que documentou os seus anos a trabalhar como obstetra no serviço nacional de saúde britânico. É uma comédia-drama que vale muito a pena ver. Trailer aqui.

Heartstopper

A adaptação da novela gráfica está muito fiel aos livros mas acrescenta mais desenvolvimento para alguns personagens. É uma adaptação tão boa ou melhor do que os livros. Trailer aqui.

The dropout

Continuo a achar inacreditável que Elizabeth Holmes tenha convencido tantos investidores de que tinha criado algo genial (a possibilidade de testar tudo e mais alguma coisa com uma única gota de sangue), quando na realidade tudo não passou de uma fraude. Enfim, Holmes foi condenada a 11 anos de prisão, a começar este ano, e Amanda Seyfried está nomeada para o globo de ouro por este papel. Trailer aqui.

Dahmer

A história do serial killer Jeffrey Dahmer está extremamente bem contada nesta série da Netflix. Desde a infância e adolescência até aos crimes que cometeu. É chocante ver que os vizinhos tentaram avisar (várias vezes) a polícia e foram constantemente ignorados... Trailer aqui.

Extraordinary attorney Woo

Confesso que não dava nada por esta série sul-coreana da Netflix, mas adorei. Woo é uma advogada autista que está a tentar singrar numa grande firma na Coreia do Sul. Cada episódio foca-se num caso específico e, além dos casos em si serem interessantes, Woo é fascinada por animais marinhos, o que faz com que baleias e golfinhos apareçam nas situações mais inesperadas. Trailer aqui.

The good doctor

Apesar desta série já estar na 6ª temporada, só a descobri este ano. The good doctor foca-se num médico (Shaun Murphy) com síndrome de savant. Como é normal num drama médico, há episódios e temporadas com histórias mais interessantes do que outros mas, no geral, tenho gostado bastante desta série. Trailer aqui.

The handmaid’s tale (temporada 5)

Esta série está a tornar-se numa espécie de «Anatomia de Grey». Acho que estão a prolongar demasiado a série, mas não consigo parar de ver. Ainda assim, nesta temporada, a série deu uma volta muito boa à história da June e da Serena e estou muito curiosa para saber o que vai acontecer na próxima (e última) temporada. Trailer aqui.

My brilliant friend (temporada 3)

A história da Lila e da Lenú fica melhor a cada nova temporada da série, e a terceira não foi excepção. Não só a adaptação é muito fiel aos livros, como conseguem recriar na perfeição os ambientes, os personagens, o dialeto. Estou muito curiosa para a quarta (e última) temporada. Trailer aqui.