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Decidi ler «O quarto de Giovanni» de James Baldwin, depois de ser referido em «Nadar no escuro», um livro de que gostei muito.
Este clássico conta a história de David e Giovanni, dois homens que se conhecem e apaixonam em Paris e foi publicado nos anos 50. Confesso que apesar de ter gostado deste livro, não gostei tanto quanto de «Nadar no escuro».
Enquanto lia este livro, deparei-me com este estudo sobre o aumento recente de livros censurados nos Estados Unidos, maioritariamente em Estados Republicanos, como o Texas.
Já vi muita gente justificar isto dizendo, com alguma razão, que os livros têm de ser apropriados à idade. Ora, segundo este estudo, só 22% dos livros banidos o foram por terem algum tipo de conteúdo sexual. Quase metade (44%) foram banidos por terem personagens LGBTQIA+, logo a seguir temos livros que abordam o tema do racismo (como o «Mataram a cotovia», um livro absolutamente inofensivo contado do ponto de vista de uma criança). Enfim, inofensivo se considerarem que o racismo existe e deve ser abordado.
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Não deixa de ser irónico que, numa altura em que se discute se os jovens ainda lêem, haja um esforço tão grande para banir livros. Livros esses que qualquer adolescente com acesso à internet consegue arranjar em menos de nada… E todos sabemos que, muitas vezes, o fruto proibido é o mais apetecido.
É claro que banir livros nunca está certo, o acesso deve ser o mais livre possível, principalmente nas escolas e universidades, mas também é verdade que o tiro pode sair pela culatra. Por exemplo, este artigo da reader’s digest fala sobre adolescentes que estão a criar clubes de leitura de livros banidos e que lêem, por exemplo, a novela gráfica de «A história de uma serva», que li recentemente e que está editada em Portugal pela Bertrand. Também não me passa ao lado a ironia de se banir um livro como este, em que há punição para as mulheres que decidam, por exemplo, ler um livro.
No mesmo registo, o The pudding, que é uma revista online com ensaios visuais, publicou recentemente um artigo sobre a censura que a China fez à série «A teoria do Big Bang». A série está disponível mas muitas cenas foram encurtadas ou eliminadas, levando a uma edição, no mínimo, estranha. Entre as cenas cortadas estão precisamente referências à comunidade LGBTQ+. Podem ver o ensaio aqui.