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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

Manual de sobrevivência de um escritor de João Tordo

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Este foi o primeiro livro que li de João Tordo e admito que isso não tenha sido ideal. Acho que quem já tiver lido alguns livros do autor vai tirar mais partido desta leitura, uma vez que há várias referências ao processo criativo de outros livros. Fiquei muito curiosa para ler «O luto de Elias Gro.»

Este é, como o título indica, um manual para quem quer ser escritor ou simplesmente para leitores curiosos com a arte da escrita. Aborda desde o processo criativo, à técnica, ao dinheiro (pouco) ganho com os livros, à edição, a como lidar com as críticas, enfim, um pouco de tudo. 

Gostei muito de ler alguns capítulos, como as residências literárias (só tenho pena que essa parte não tenha ocupado mais páginas), o arco narrativo (algo que aparece com mais detalhe no livro de Mário de Carvalho sobre a escrita) e as reflexões do autor sobre a escrita e sobre o que é um escritor.

Enquanto leitor, a sensação com que fico, depois de ler um bom livro, é que entrei numa aventura que já estava em andamento e que continuará depois de fecharmos as suas páginas.

Não concordei com tudo e alguns assuntos irritaram-me um bocadinho. O cliché do vício dos escritores por álcool ou drogas (e a história de como o Stephen King não se lembra de alguns livros que escreveu), da depressão dos escritores (e do suicídio da Sylvia Plath e de tantos outros) assim como as divagações sobre o que é um escritor literário são temas repetidos ad nauseum em livros de ficção e não ficção. E podcasts. E entrevistas. E encontros literários. Enfim, se calhar já mudávamos de assunto, não? Além de que muitas vezes sinto que há uma romantização da depressão pela escrita e para a escrita, que me enerva bastante. Não acho que tenha sido tanto o caso deste livro, mas surge, por exemplo, no «The friend» de Sigrid Nunez.

Pronto, já desabafei. De resto, há muitas referências a livros e fiquei com curiosidade de ler alguns, nomeadamente o livro de Carol Joyce Oates sobre a escrita e o de Stephen King.

O lugar das árvores tristes de Lénia Rufino

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Não estava a contar ler este livro, mas não resisti quando o vi na biblioteca. «O lugar das árvores tristes» apresenta-nos Isabel na primeira parte. Uma miúda que gosta de passar o tempo entre as campas do cemitério da aldeia. Quando Isabel descobre a campa de Eulália e toda a gente se recusa a dizer-lhe a causa da morte da senhora, percebe que há ali um mistério por desvendar. A segunda parte, a maior do livro, vai ao passado na década de 70 para desvendar o mistério de Eulália e também a história de Lurdes, a mãe de Isabel. 

Adorei a escrita da autora e fiquei agarrada ao mistério da primeira à última página. Lê-se muito bem e fiquei agradavelmente surpreendida com esta estreia. É uma história sobre como as pessoas se conseguiam esconder, principalmente no meio rural, atrás da igreja para saírem impunes e sobre a forma como o nosso passado escreve também o nosso futuro.

Os únicos pontos menos positivos são alguns diálogos que se repetem e que não achei necessários e o facto de ficarmos a conhecer muito pouco da Isabel. Tirando isso, foi uma agradável surpresa e quero ler os próximos livros da autora.

As novas séries que ando a ver

Um thriller policial, uma série sobre híbridos entre humanos e animais e uma série de adolescentes. Foram estas as séries que vi nos últimos tempos e que, por uma razão ou por outra, trago hoje ao blog.

 

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Mare of Easttown (HBO)

Ouvi muitos elogios a esta série e corroboro tudo. «Mare of Easttown» é uma série sobre uma detective numa pequena cidade da Pensilvânia que investiga o assassinato de uma rapariga e o desaparecimento de outra. À medida que o caso vai sendo investigado, vai-nos sendo desvendado o passado da personagem principal, que é maravilhosamente interpretada pela Kate Winslet.

Vi todos os episódios em poucos dias e, para mim, há cada vez menos dúvidas que a qualidade das séries da HBO é incomparável com outras plataformas. Imperdível.

trailer aqui

 

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Sweet tooth (Netflix)

Esta série passa-se num cenário pós-apocalíptico em que um vírus provocou o nascimento de híbridos entre humanos e animais. Um rapaz híbrido (entre um humano e um veado) tenta safar-se neste mundo e vai fazendo amizades pelo caminho.

Fiquei muitíssimo surpreendida com esta série. Não dava muito por ela a partir do trailer, e gostei muito! É uma história de aventura, sobre amizade e sobre justiça, baseada numa série de livros de banda desenhada. Espero que siga para segunda temporada.

trailer aqui

 

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Panic (Amazon prime)

Esta série passa-se numa pequena cidade do Texas. Todos os anos, depois do fim do liceu, os adolescentes competem numa série de desafios onde confrontam os seus medos na esperança de ganhar uma elevada quantia de dinheiro.

Descobri esta série através do Instagram da Maria e vi os episódios todos num fósforo. Sim, é uma série adolescente. Sim, tem muitos momentos que jamais aconteceriam na vida real. Mas, às vezes, sabe bem ver uma série de adolescentes. É baseada num livro de Lauren Oliver.

trailer aqui

O perigo de não querer terminar um livro

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Praia dona Ana

Estava na meia-praia, em Lagos, a ler «A biblioteca da meia-noite» de Matt Haig descansada da vida. Faltavam dez páginas para acabar o livro e não o queria terminar. Não é um livro extraordinário mas estou a passar por uma fase difícil e há meses que não lia um livro até ao fim.

Enquanto ouvia os vendedores de bolas de Berlim a decidir quem tinha vendido mais, decidi ir dar um mergulho e terminar o livro depois. E fui. A certa altura pus o pé na areia e senti que tinha pisado uma agulha. "Deve ser uma concha", pensei. Continuei a nadar e comecei a sentir-me desconfortável. Fui para a toalha e o pé começou a doer-me. A dor foi aumentando gradualmente. E eu já só pensava que se continuasse a aumentar àquele ritmo, não ia conseguir andar até um nadador-salvador. Portanto, resignei-me e lá fui.

Os dois nadadores-salvadores (muito simpáticos e prestáveis) fizeram um diagnóstico rápido.

"Peixe-Aranha".

Fiquei à espera uns 5 minutos (que me pareceram três horas porque aí sim, a dor estava muito intensa) que me trouxessem um recipiente com água muito quente.

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Pois que o peixe-aranha é este bicho (que neste desenho parece muito mais bonito do que é na realidade) que fica por baixo da areia só com os olhos e aqueles espinhos pontiagudos dorsais de fora. Quando há pressão naquela zona (como uma pisadela), as glândulas libertam veneno que vai para a zona da picada e que é neutralizado por água quente (tão quente quanto a pessoa consiga tolerar sem se queimar).

Ao fim de poucas horas, a dor passou (pelo menos, a maior parte) e fiquei só com dificuldade em andar (e conduzir) durante uns bons dias. Isso e um certo trauma da meia-praia. Para a próxima, termino e livro e acabou-se a conversa.