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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

Livraria solidária de Carnide

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Foi numa tarde solarenga de Outubro que fui, finalmente, conhecer a livraria solidária de Carnide. Fica muito próxima do Colombo (são 10 minutos a pé).

O espaço tem algumas estantes cheias de livros até ao tecto cujo valor varia entre 1 e 5 euros e reverte para projectos culturais em Lisboa. Há livros para todos os gostos, desde literatura traduzida (clássicos e livros mais recentes), livros de autores portugueses, literatura infantil e juvenil, uma secção de biografias, livros de não ficção, livros de poesia e uma selecção de livros de bolso a um euro.

É preciso, claro, algum tempo para percorrer as estantes com calma e encontrar os livros certos. Mas, para quem gosta dessa atividade, não há-de ser chatice nenhuma e o tempo vai passar a voar.

Trouxe dois livros do Jorge Amado (a 2 e 3 euros), um livro de crónicas do Miguel Araújo (a 3 euros) já que, apesar de não ser fã do cantor, sou grande fã de crónicas e, por fim, um livro do Thomas Harris (o autor de «O silêncio dos inocentes»).

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Como é natural num projecto assim, os livros disponíveis estão sempre a mudar ao sabor dos livros que vão sendo doados pelos visitantes. Por isso, se se quiserem manter a par das novidades basta acederem ao site onde podem ver o catálogo e encomendar livros.

Quem disser o contrário é porque tem razão de Mário de Carvalho

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Há muito tempo que queria ler este livro do Mário de Carvalho sobre a escrita e a leitura. Gostei muito. Marquei muitas passagens. Acho que o livro se pode dividir em duas partes. A primeira é mais geral, onde se faz uma introdução à escrita e à leitura e há mais espaço para o autor inspirar quem lê a escrever e a ler. A segunda concentra-se em abordar questões mais técnicas, como a linguagem, os diálogos, as personagens, o tipo de narrador. São dados dezenas de exemplos de livros e, no final, acabamos com muitas sugestões de leitura (o que é sempre bom sinal).

Aconselho a quem quiser escrever ficção, ou simplesmente, gostar de ler e quiser perceber melhor como é que todo o processo funciona.

Ao incerto leitor, podem aplicar-se as palavras que Jean-Claude Carrière e Pascal Bonitzer (Exercite du Scénario) citam de um velho texto sânscrito sobre o bom espectáculo:

«Ele deve dar respostas aos espectadores que se interrogam sobre o andamento dos seus negócios, as suas preocupações de família, o curso do universo, a natureza da alma, mas esse mesmo espectáculo, para ser bem conseguido, deve também trazer alguma consolação ao "bêbado que entrou por acaso"».

A maldição da Mansão Bly: a série esplêndida da netflix

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É a "sequela" da netflix para «A maldição de Hill House». De facto, há muitas semelhanças entre as duas séries. Além de serem ambos do género de thriller/terror psicológico e do mesmo criador, são as duas baseadas em livros (neste caso, o «The turn of the screw» de Henry James), retratam um drama familiar, têm um grande desenvolvimento das personagens (mais uma vez, há episódios inteiros dedicados apenas ao passado de uma personagem).

«A maldição da Mansão Bly» começa com um grupo de pessoas reunidas a contar histórias de fantasmas. A partir daí, a nossa narradora leva-nos à história de uma ama que vai tomar conta de duas crianças (Flora e Miles) numa mansão na Inglaterra rural no final dos anos 80. Com o tempo, torna-se evidente que as crianças têm comportamentos estranhos e que a casa esconde muitos segredos. É, portanto, tal como «A mansão de Hill House», a história de uma casa assombrada.

Acho que muitas vezes as pessoas vêem filmes ou séries de terror à espera de ser constantemente assustados quando os melhores produtos de terror («The others» ou «The orphanage», por exemplo) não se fazem com sustos. Fazem-se com boas histórias sobre aquilo que mais nos assusta: a morte, o luto, o sofrimento.

«A maldição da Mansão Bly» tem, por detrás, uma história extraordinária que está muitíssimo bem contada num episódio a preto e branco que é das histórias de fantasmas mais bonitas que já vi serem feitas em televisão. Além disso, todos os personagens têm histórias profundas e medos que vão sendo explorados ao longo dos episódios. A única coisa que mudava eram alguns momentos que se tornam cansativos por se repetirem, mas nada pode ser perfeito. Tirando isso, adorei os personagens, a história, os cenários, o final (que último episódio maravilhoso!).

Enfim, se estiverem à procura de uma série para vos assustar acho que não devem apostar nesta. Mas, se quiserem uma boa história de fantasmas, que é também uma história de amor, de família, de morte são capazes de sair surpreendidos com esta.

Trailer aqui.

Viva, México de Alexandra Lucas Coelho

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Este livro é a descrição de uma viagem de três semanas da jornalista Alexandra Lucas Coelho pelo México. Nota-se que houve um grande trabalho de preparação para esta viagem. Ao longo das cidades por onde vai passando, há algum contexto histórico (e quão rica é a história do México) e entrevistas.

Gostei particularmente da primeira parte sobre a Cidade do México, da visita à casa de Frida e da conversa com Diego Rivera, o sobrinho-neto do outro com o mesmo nome. Mas o mais surpreendente é a parte sobre a cidade Juárez, na fronteira com os Estados Unidos. Uma cidade dominada pelo narcotráfico e pelas fábricas que produzem, com trabalhadores em condições miseráveis, para os Estados Unidos. É a cidade mais perigosa do mundo e parece inacreditável conhecer algumas das pessoas que lá vivem a vida de todos os dias.

Aprendi muito a ler este livro. Fui marcando passagens, pesquisando no google por cidades, templos, paisagens, acontecimentos.

O México dá vontade de chorar, um choro de séculos em que não percebemos porque choramos, se somos nós que choramos, se não seremos nós já eles. Nunca, em lugar algum, me pareceu que tudo coexiste, tempos e espaços, cimento e natureza, homens e animais (...) Certa vez, Frida Kahlo descreveu uma imagem a um amigo: «É de dia e de noite, e há um esqueleto (ou morte) que foge espavorido da minha vontade de viver.» Anos depois, pintou Viva la vida por cima de talhadas de melancia, e essa é a sua última palavra.

Fiquei cheia de vontade de visitar o México e de ler outros livros de Alexandra Lucas Coelho.