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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Quando a vida era analógica

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Quando vi este post no blog da Rita da nova sobre a sua viagem a Porto Santo lembrei-me que devia ter algures fotografias de uma viagem que deve ter quase 10 anos. Não tenho muitas porque foram tiradas com uma Nikon analógica e, além de haver sempre fotografias que não ficavam bem e nunca eram reveladas, os rolos eram caros e era preciso escolher bem onde "gastar" um clique da máquina.

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Não me lembro de muita coisa (era miúda). Lembro-me de termos ficado num hotel com uma piscina no terraço que, para minha infelicidade, não usámos porque estávamos nas férias da Páscoa e estava frio. Enfim, aquele tipo de coisa que verdadeiramente importa a uma criança em viagem (há piscina no hotel?).

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Também tenho fotografias analógicas de uma viagem a Veneza feita mais ou menos na mesma altura. Usei mais rolos, tirei muitas fotografias e lembro-me de ter ficado muito feliz com o resultado. Bom, pelo menos até ter voltado a olhar para elas dez anos depois e reparar no quão direitinha está a praça de São Marcos nesta fotografia...

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Suponho que isso era o lado melhor da fotografia analógica. Sabíamos logo à partida que o resultado ia ser imperfeito, que em 30 fotografias podíamos só conseguir aproveitar uma dúzia mas queríamos tentar na mesma e, se não correr bem, há sempre outro rolo.

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Até à eternidade de Caitlin Doughty: um livro sobre a morte

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«Até à eternidade» tem uma premissa interessante: perceber porquê que a morte se tornou um tabu tão grande nos países ocidentais explorando a forma como diferentes países e comunidades lidam com a morte. A autora é Caitlin Doughty, uma agente funerária e activista que tem um canal no Youtube precisamente sobre a morte (chama-se «Ask a Mortician» e é excelente).

Caitlin viajou para algumas comunidades dos Estados Unidos que lidam com a morte de forma menos industrializada do que o resto do país e para outros locais do mundo como o México (e o seu famoso dia dos mortos), a Indonésia, o Japão e a Bolívia onde escreveu sobre as suas tradições ancestrais.

Na igreja do outro lado do átrio, descendo alguns degraus de pedra íngremes, há corpos que podiam ensinar mais às crianças do que qualquer cetro. A prova sólida de que todos os que vieram antes deles morreram. Algum dia todos irão morrer. Evitamos a morte que nos rodeia por nossa conta e risco.

Aprendi muito com este livro. Caitlin tem uma escrita honesta e fluida e escreve tanto sobre a razão de ser de alguns rituais ancestrais que, à primeira vista, nos podem parecer macabros como escreve sobre rituais futurísticos. Por exemplo, a autora escreve sobre uma funerária que oferece às famílias a possibilidade de prestarem homenagem aos seus mortos pelo ecrã de um computador ou sobre o Aibo, um cão robot japonês lançado em 1999 que, uns anos mais tarde, foi descontinuado pela sony. Seguiu-se a criação de fóruns de reparação dos cães robot, de apoio às famílias enlutadas e até a realização de funerais para os mesmos.

Além disso, a edição deste livro (da editora vogais) é das mais bonitas que já vi. A capa está muito bem conseguida e o livro está cheio de ilustrações sobre os rituais que Caitlin vai descrevendo.

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Uma visita aos alpacas do Monte Frio

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É numa pequena quinta na povoação de nariz, a cerca de 15 minutos do centro de Aveiro, que fica a quinta dos alpacas. Chama-se Monte frio e é a concretização do sonho da Lisa que, em 2009, se mudou para Portugal à procura de um estilo de vida mais simples e mais ecológico.

Além da produção de lã, Lisa também se dedica a dar a conhecer os seus alpacas aos portugueses e turistas que vão até à quinta do Monte Frio. Foi isso que fui fazer a Aveiro numa tarde quente de Setembro. O contacto desta inglesa com Portugal começou quando ainda vivia em Londres e recebia estudantes portugueses de Erasmus na sua casa. Ao longo dos últimos doze anos a viver em Portugal, Lisa foi aprendendo português com os visitantes portugueses que vai recebendo.

Inicialmente, comprou 12 alpacas e uma quinta no centro de Portugal onde começou a produzir lã de alpaca. Este produto tem muitas vantagens. Alem da lã ser fofa, é um produto que tem um valor comercial alto o que faz com possa ser produzida de forma digna para os animais. Os alpacas têm mais de 20 cores pelo que os produtos não têm de ser tingidos ficando um produto final o mais natural possível. A lã é também hipoalergénica sendo muito usada para fazer, por exemplo, roupa de bebé. Os fios são resistentes e os produtos feitos com esta lã podem durar muitos anos.

Depois de Lisa explicar os objectivos do seu protejo em Portugal, é altura de conhecermos de perto alguns dos seus catorze alpacas. Apesar de um bocadinho intimidantes num primeiro contacto, os alpacas da Lisa são simpáticos e afáveis, fruto da forma como os habituou a este contacto com o público. São muito expressivos. Põem-se a jeito para ser escovados no pescoço. E são loucos por cenouras que devoram como se a vida deles dependesse disso. No fim, vão inspeccionar bem o copo vazio e as nossas mãos para ter a certeza de que não lhes estamos a esconder mais nenhum bocadinho de cenoura.

Também têm os seus defeitos. Tal como os lamas (da família dos alpacas mas maiores e mais imponentes), são fãs de resolver as coisas uns com os outros a cuspo. Por isso, se estiverem chateados entre si o melhor é não sermos apanhados no meio da discussão.

De resto, com aqueles olhos expressivos, a franja cortada, os dentes grandes e a lã fofa (mas fofa) são bichos para conquistar qualquer pessoa dada a animais. Por isso, se forem para a zona de Aveiro, não percam a oportunidade de ir conhecer a quinta da Lisa e os seus alpacas.

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Para marcar uma visita:
- Ligar para o número de telefone que está na página de facebook

M train de Patti Smith

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Acho que estou em minoria mas gostei tão mais deste «M train» do que do primeiro livro de memórias de Patti Smith: «Apenas miúdos». Não que o tivesse achado mau, mas tinha as expectativas muito altas e, na leitura como em tudo na vida, as expectativas estragam qualquer coisa boa. Fechei o livro com a sensação de que, apesar de bom, não me tinha prometido aquilo que esperava dele. As opiniões de «M train» eram bem menos elogiosas, por isso, parti para a leitura sem expectativas. E gostei tanto.

Queremos coisas que não podemos ter. Procuramos recuperar um certo momento, um som, uma sensação. Quero ouvir a voz da minha mãe. Quero ver os meus filhos enquanto crianças. De mãos pequenas, de pés velozes. Tudo muda. O rapaz já crescido, o pai morto, a filha mais alta do que eu a chorar devido a um sonho mau. Por favor, fiquem para sempre, digo eu às coisas que conheço. Não se vão embora. Não cresçam.

Este é um livro sobre coisa nenhuma. Patti Smith escreve sobre beber café, sobre as séries de crime que gosta de ver na televisão, as viagens que vai fazendo para falar em conferências, uma sociedade científica a que decide juntar-se, a casa destruída que compra junto à praia, as leituras que vai fazendo, os túmulos de escritores que vai visitando. Não há fio condutor, nem há uma história. Cada capítulo (há falta de melhor palavra) é uma espécie de ensaio sem relação com o anterior. Mas há falta de tudo isso, há livros (muitos), há escritores e há polaroids tiradas pela autora. E há a escrita fluida e poética de Patti Smith. E, para mim, foi mais do que suficiente.

Quando as pesadas cortinas se abriram e a luz da manhã inundou a pequena área da sala de jantar, ocorreu-me que, sem qualquer dúvida, nós às vezes escondemos os nossos sonhos por baixo da realidade.

Fui à feira do livro de Lisboa

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Acabei por ir à feira do livro logo no primeiro dia. Não foi planeado mas como tinha de ir a Lisboa aproveitei. As coisas estão diferentes, mas não tão diferentes ao ponto de estragar a experiência. Há controlo das entradas e saídas, tem de se usar máscara e há álcool gel em todos os pavilhões, assim como controlo da lotação nalguns pavilhões (mas não percebi se em todos). De qualquer forma, como fui durante a tarde de um dia de semana, não estava muita gente. Acredito que nos fins-de-semana ou na hora H seja mais complicado, por isso, se quiserem sossego vão entre segunda e quinta, à hora de abertura ou a meio da tarde.

 

Destaque para:

  • Os livros do dia (como sempre) que podem ver no site. Comprei «A grande solidão» de Kristin Hannah que vai voltar a ser livro do dia a 4 de Setembro.
  • Os alfarrabistas que estavam cheios de livros bons, muitos clássicos mas também livros mais recentes. Trouxe um livro do Jorge Amado e o «Homo Deus» do Yuval Noah Harari.
  • Os esgotados da Relógio d'Água - livros esgotados do catálogo da Relógio d'Água que estão a 5, 7.5 e 10 euros. Trouxe «Um apartamento em Atenas» de Glenway Wescott.
  • Os descontos da Presença - livros a 5, 7 e 9 euros. Acabei por não trazer nenhum mas vi vários títulos bons como o «Não respire» de Pedro Rolo Duarte ou livros do Neil Gaiman.
  • A selecção de livros em inglês da Fnac - para quem gosta de ler em inglês não deixem de espreitar a Fnac, com muitos livros em inglês lançados recentemente.

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