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Coisas da quarentena: países diferentes, realidades iguais

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Uma das coisas boas desta fase de quarentena foi ter retomado contacto com um grupo com quem fiz voluntariado na Grécia em 2013. Parece inacreditável mas passaram sete anos. Temos feito conversas por videochamada. Estamos todos em diferentes países da Europa, mas estamos todos no mesmo  barco. Estamos todos em casa. Temos as mesmas restrições de só sair em caso de necessidade, a mesma distância dos outros, as mesmas regras a cumprir no supermercado. Os mesmos medos. As mesmas dúvidas. As mesmas perguntas.

E é assim que tenho acompanhado o desenvolvimento de um jardim na Irlanda, a reabilitação de um ouriço nas montanhas da Polónia, uns passeios de bicicleta algures em Inglaterra, as dificuldades em passar para o ensino online na Estónia. E tem sido bom, muito bom. Por isso, se há alguém com quem não falam há algum tempo, o coronavírus é uma óptima desculpa para mandar uma mensagem, perguntar se está tudo bem e, quem sabe, retomar uma boa conversa.

Tiger king: a série de loucos da netflix

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Passaram-me várias coisas pela cabeça a ver o documentário (desculpem, é mais um reality show) do Tiger King da netflix. A primeira, logo aos 10 minutos do primeiro episódio, foi que aquilo só podia ser tudo inventado. Spoiler: basta uma pesquisa no google para perceber que, pelo menos uma boa parte, é real. Depois, diverti-me tanto a ver isto que não consegui pensar em mais nada durante umas boas horas (o que nos tempos que correm é bom). Por fim, tive pena dos animais que, coitados, saem prejudicados em todas as frentes.

Mas voltando ao princípio. Tiger King mostra os bastidores dos parques zoológicos de grandes felinos nos Estados Unidos onde, infelizmente, estes animais são muitas vezes vendidos para quem os quer, simplesmente, ter em casa. As personagens principais são o Joe exotic, um criador de felinos do Oklahoma que tem uma vida de loucos (e faz questão de mostrar tudo na internet) e que acaba envolvido na contratação de um assassino para eliminar uma activista pelos direitos dos tigres. Sim, a sério.

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Pelo meio, há um culto, poligamia, um suicídio, um marido desaparecido que pode ou não ter sido assassinado, visitas à casa branca, o Joe candidata-se a presidente dos Estados Unidos (sendo que tendo em conta quem lá está neste momento, esta é a parte menos surpreendente). Há um incêndio provocado num reptilário, um produtor de reality shows, quem faça cirurgia em cobras para esconder drogas, muitas armas, muitos padrões de leopardo e videoclipes tão ridículos como este.

É de loucos. E é daquelas histórias que são tão más que se tornam muito boas. Não queremos ver, mas não conseguimos tirar os olhos daquilo. O Joe está preso (olha que pena..) e deu uma entrevista ao Stephen Colbert da prisão que... meu deus, nem sei o que dizer daquilo.

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Fotografia tirada na África do sul em 2015

Os tigres, os leões (e todos os outros felinos que eles reproduzem para venda) ficam esquecidos no meio de tanta loucura e isso é uma pena. Não devíamos permitir que existam mais tigres em cativeiro nos Estados Unidos do que em liberdade. Mas é a realidade e, infelizmente, pelo menos enquanto o Trump for presidente nada vai mudar. Ele que já tentou destruir santuários de vida selvagem, rasgar regulamentos de espécies protegidas e por aí fora.

Enfim, se quiserem uma série que vos vai distrair completamente da realidade, esta é uma aposta mais que segura.

Coisas da quarentena: as aplicações a que me rendi

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Não tenho conseguido dormir nada e acabei por me render a esta aplicação: sleep. Basicamente quando vamos dormir ativamos um registo de sono e, de manhã, conseguimos ver o nosso padrão de sono, quantas horas dormimos e, mais importante, quanto tempo tivemos de sono profundo. Além disso, a aplicação também nos acorda no final de um ciclo de sono e não a meio, altura em que acordamos muito mais cansados e meio atordoados. É completamente gratuita por 14 dias e, a partir daí, podem continuar a usar gratuitamente mas com anúncios.

Depois descobri a cingula, uma aplicação que faz a monitorização do nosso nível de stress/ansiedade.  Dá para responder a questionários e testar os níveis de stress, ansiedade e depressão e se formos repetindo os testes, conseguimos ver a nossa evolução ao longo do tempo. Também é possível registar o humor diário com anotações ou fotografias e tem alguns exercícios de respiração e de relaxamento. Para já, estou a gostar muito e é gratuita.

E vocês, que aplicações recomendam?

Coisas que não quero saber e o custo de vida de Deborah Levy

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Descobri esta escritora depois de ler esta crónica do Miguel Esteves Cardoso sobre a década de Deborah Levy. Li «O custo de vida», um livro autobiográfico com pouco mais de cem páginas num sopro. Nele Levy escreve sobre temas como o fim do seu casamento de 20 anos, a escrita e a morte da mãe. Aliados a estes temas, Levy escreve sobre detalhes tão aleatórios como abelhas, a sua bicicleta elétrica ou o gelado preferido da mãe e conta estas pequenas histórias de forma tão cuidada que as torna em metáforas sobre todos os outros acontecimentos maiores da sua vida. Quantas vezes não são as pequenas coisas que mais nos representam (apesar de nos lembrarmos mais dos grandes acontecimentos)?

O livro é muito bom e o seu único defeito é mesmo ser pequeno. Depois li «Coisas que não quero saber» que, na realidade é o primeiro desta trilogia autobiográfica, mas não senti diferença por ter trocado a ordem dos livros. Nele Levy responde a um ensaio que George Orwell escreveu onde explicava as razões para se ter dedicado à escrita. Mais uma vez, a autora debruça-se sobre vários acontecimentos da sua vida, como a infância passada na África do sul, para nos contar porque se tornou escritora.

O capítulo sobre a infância passada numa África do sul dominada pelo appartheid foi a minha parte preferida deste volume. Durante esses anos, o pai é preso por ter ligações ao partido político de Nelson Mandela e Levy acaba a viver com a madrinha e o seu papagaio, antes da família se mudar para o Reino Unido.

Seja a escrever sobre memórias de infância, sobre livros ou sobre a sua bicicleta elétrica há qualquer coisa de muito envolvente na escrita desta autora. Agora resta-me aguardar que seja publicado o último livro desta trilogia e, entretanto, ler os romances já traduzidos em português: «Nadar para casa» e «O homem que via tudo».

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