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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Razões para viver de Matt Haig

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Se medirmos o valor que um livro tem para nós pela quantidade de notas que tiramos e de frases que queremos guardar, acho que pela imagem já percebem que gostei muito deste. «Razões para viver» é a experiência pessoal de Matt Haig com a ansiedade e a depressão. Não é extraordinariamente bem escrito e não tem propriamente capítulos. Lê-se mais como uma série de notas, apontamentos e listas sobre a sua experiência.

O valor deste livro prende-se com o facto de (ainda) ser incomum haver alguém disposto a falar sobre estes temas com honestidade e de uma forma pouco editada.

A partir do exterior, as pessoas conseguem avaliar a nossa forma física, constatar que nós somos uma massa unificada de átomos e células. E, no entanto, no interior, sentimos que acabou de explodir um Big Bang. Sentimo-nos perdidos, desintegrados, dispersos por toda aquela matéria negra do universo. (...) Num mundo em que as hipóteses são infinitas, também são infinitas as hipóteses de sofrimento, separação ou perda definitiva. Por isso, o medo instiga a imaginação e vice-versa, numa pescadinha de rabo na boca, até nos restar apenas a alternativa de enlouquecermos.

Acho mesmo que é daqueles livros que toda a gente devia ler. Para nos entendermos melhor a nós próprios, e aos outros. E também é daqueles livros que devemos oferecer com carinho a alguém que sabemos estar a passar um mau bocado. Afinal, a vida não são sempre rosas. E felizmente, já existem pessoas como o Matt Haig, dispostas a falar sobre isso sem 

The Farewell: a história baseada numa mentira real

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Quando «Parasite» ganhou o (muito merecido) globo de ouro para melhor filme estrangeiro o director disse, ao receber o prémio, que se conseguíssemos ultrapassar as legendas teríamos acesso a muitos filmes interessantes feitos por esse mundo fora. E é verdade. «Parasite» e as suas nomeações ao óscar estão aí para provar isso mesmo. Mas «The farewell» também.

Este filme segue a história de uma rapariga chinesa a viver nos Estados Unidos. Billie descobre que a avó está a morrer com um cancro no pulmão e que toda a família pretende esconder a verdade da própria avó e reunir-se na China com a desculpa do casamento de um primo como forma de despedida. É um filme sobre luto e sobre famílias, mas também é um filme sobre identidade. Billie, que vive nos Estados Unidos desde pequena, sente-se uma imigrante chinesa na América e uma americana na China.

É um filme triste mas muito bonito, com uma história muito bem conseguida. Tem alguns momentos mais leves e alguns pormenores deliciosos sobre as diferenças culturais entre a China e os Estados Unidos (como quando a família se junta e leva comida, álcool e cigarros para despejar na campa de um familiar como forma de oferta). No fundo, é mais uma boa recomendação para quem quiser alargar um bocadinho os horizontes e ver filmes feitos fora dos Estados Unidos. Trailer aqui.

A sociedade literária da tarte de casca de batata

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Esta história começa da forma mais improvável. Um grupo de habitantes da ilha de Guernsey, uma daquelas ilhas entre França e Inglaterra de que raramente ouvimos falar, é apanhado por um grupo de soldados alemães após a hora de recolher obrigatório. Têm uma história que não podem partilhar. Esconderam um porco dos alemães e passaram o serão a comê-lo. Para se safar, inventam outra história. Uma das habitantes, Elizabeth, afirma que são uma sociedade literária e que estavam numa reunião.

Depois disto, os habitantes são obrigados a criar mesmo uma sociedade literária para convencer os alemães de que ela sempre existiu. E é assim que nasce a sociedade que dá o título improvável a este livro.

Peguei neste livro com poucas expectativas. Já tinha visto o filme e tinha gostado, mas não adorado. Talvez tenha sido um daqueles felizes acasos em que lemos o livro certo na altura certa mas adorei, superou todas as minhas expectativas. É um livro escrito em cartas, trocadas entre uma escritora londrina e os habitantes da ilha que fazem parte da sociedade literária, logo a seguir do final da guerra. É uma história deliciosa, com drama (ou não falasse sobre a segunda guerra), com romance e com livros.

Tive algumas dúvidas sobre os limites da ficção nesta história, mas ao pesquisar um bocadinho, percebi que muito do que aqui consta se baseia na realidade. As personagens e a sociedade são inventadas (apesar de Elizabeth ser baseada numa habitante da ilha), mas Guernsey foi um ponto geográfico importante na segunda guerra.

Depois de controlarem França, os alemães invadiram as ilhas do canal e, em Guernsey, viveram durante algum tempo em regime de co-habitação com os habitantes. Também é verdade que milhares de escravos foram levados para a ilha para construir túneis e bunkers. A comida escasseava e as comunicações com o exterior foram cortadas. Foram quase cinco anos assim, até a guerra ter terminado.

Não surpreendentemente, gostei muito mais do livro do que do filme e acho que a história flui melhor nas páginas escritas, mas recomendo muito os dois. Enfim, um livro sobre o valor dos livros e das boas histórias.

Lista de leituras para 2020

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A minha lista de leituras para 2020 é muito simples: ler os livros que tenho na estante. Não penso ler todos este ano, mas gostava de ler uma boa parte deles.

 

Ler os clássicos

Tenho uma série de clássicos à espera na estante que gostava de ler este ano, como «A campânula de vidro» de Sylvia Plath, «Mataram a cotovia» de Harper Lee, «A cor púrpura» de Alice Walker e «O grande meaulnes» de Alain-Fournier. Também gostava muito de ler «O calafrio» de Henry James (nalgumas edições aparece como «A última volta do parafuso») porque vai ser adaptado a um filme que quero ver.

 

Ler mais autores brasileiros

Nos últimos tempos começei a interessar-me mais por autores brasileiros e tenho alguns para ler na estante. Um deles é «Olhai os lírios do campo» de Érico Veríssimo. Também quero ler algum livro de Jorge Amado (ainda só li «Os capitães da areia) e de Lygia Fagundes Telles.

 

Ler mais não ficção

Muitos dos meus livros preferidos dos últimos anos têm sido livros de não ficção, por isso, quero continuar a apostar em livros autobiográficos/de memórias. Quero ler o «Ler Lolita em Teerão» de Azar Nafisi que foi dificílimo de encontrar à venda. É a história de uma professora iraniana que se encontra em segredo com um grupo de alunas para discutir livros proibidos pelo governo. Outros que gostava de ler são «Sei porque canta o pássaro na gaiola» de Maya Angelou e a autobiografia de Michelle Obama.

 

Ler os livros que já devia ter lido o ano passado

Nomeadamente «O quarto de Marte» de Rachel Kushner com o qual estou muito curiosa e «O pintassilgo» de Donna Tart, uma autora de que toda a gente fala mas de quem ainda não li nada. Além disso, a adaptação ao cinema deste livro saiu o ano passado e gostava de ler o livro e depois ver o filme (trailer aqui).

 

E desse lado? Que livros gostavam mesmo de ler este ano?

Parasite: quando o cinema surpreende

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Acho que já escrevi aqui que andava muito desiludida com os filmes, e que as séries andavam muito melhores e mais  interessantes do que o cinema. Entretanto, vi o Joker e fui obrigada a mudar de ideias. Que filme tão bem construído e capaz de prender a nossa atenção do primeiro ao último minuto. Li várias críticas sobre a história se ter afastado muito do personagem do joker para abordar a saúde mental. O que é absolutamente verdade, mas sinceramente ainda bem. O cinema já não pode ter alguma profundidade?

Depois veio o Parasite. Um filme sul-coreano que segue a história de uma família pobre que vive numa semi-cave no meio de uma grande cidade. Um dos filhos do casal arranja um emprego como tutor de inglês na casa de uma família de classe alta. Não querendo revelar muito, toda a família acaba por ser arrastada para uma espiral de acontecimentos que se vão sucedendo como uma bola de neve.

O tema em si (as diferenças de classes) não é novo. Mas este filme é extraordinário. Está classificado como comédia, drama e thriller o que já diz muito sobre a originalidade da história. Mas o melhor deste filme é que não há nada que seja deixado ao acaso. No fim, todos os pormenores (por muito insignificantes que pareçam à primeira vista) se interligam e contribuem para o (estranho e genial) desfecho da história. Recomendo muito. Podem ver o trailer aqui.

20 para 2020

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A sugestão é dos blogs do sapo (depois de ter sido iniciada pela Beatriz o ano passado) e, apesar de ter pensado logo em fazer o desafio e guardar para mim, a verdade é que faço sempre isso. Não podemos fazer sempre o mesmo e esperar um resultado diferente e gostava que 2020 fosse, pelo menos, um bocadinho melhor do que os anos anteriores. Por isso, aqui ficam 20 coisas para 2020 (são menos porque alguns prefiro guardar para mim):

  1. Voltar às viagens e fazer, pelo menos, uma.
  2. Ir ao cinema.
  3. E a exposições.
  4. E voltar a ir ao teatro.
  5. E conhecer alguma livraria ou biblioteca nova.
  6. Talvez algum concerto.
  7. E ler.
  8. Nadar no mar (muitas vezes).
  9. Concluir os projetos que tenho pensados para este ano.
  10. Continuar a escrever no blog.
  11. Usar a internet com moderação. Não criar conta no instagram ou no twitter. Continuar a usar pouco o facebook.
  12. Passar tempo com os amigos.
  13. E família.
  14. Prestar mais atenção à minha saúde.
  15. Dar mais passeios. À beira-mar. Ao mercado. A qualquer sítio.
  16. Dormir melhor. (Como? Não faço ideia).
  17. Continar a investir em formação.
  18. Aprender coisas novas.