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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

Que cheiros vos fazem sentir vivos?

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Já aqui vos perguntei que coisas aleatórias vos faziam sentir vivos. Entretanto, o tempo arrefeceu e se há época do ano dada a cheiros bons é o Outono/Inverno. Seja o cheiro a castanhas na rua, ou a doces de Natal. Sou pessoa de Verão e de mar, mas há qualquer coisa nesta época que nos vai seduzindo subtilmente. Eu acho que passa muito pelos cheiros que tantas vezes nos transportam para memórias felizes, que nem sempre conseguimos situar.

Lembro-me de que era segunda-feira porque fui lavar as mãos, detectei o odor que se desprendia em volta e pensei: «Ah, uma semana que começa com uma memória. Vai ser uma semana boa.» (...) Conheço este odor. Há uma recordação colada a ele. E quanto mais dificuldades encontro em discerni-la, mais quero fazê-lo - mais me sinto tentado a acreditar que estou na pista de uma história, e que talvez essa história seja radiante, ou desgostosa, ou terna, mas em todo o caso me caiba recuperá-la.

Fui buscar este excerto ao livro de crónicas do Joel Neto (A vida no campo: os anos da maturidade) porque não há ninguém que escreva tão bem sobre coisas simples.

 

Enfim, a minha lista de cheiros:

- Bolo acabado de sair do forno

- Livros novos e livros velhos

- O cheiro a maresia

- Chá de maçã e canela 

- Chocolate quente (aquele feito com chocolate a sério)

- A lareira acesa no Inverno

- Café com leite pela manhã

- Gomas (porque me lembram o videoclube onde costumava alugar filmes em miúda e que cheirava a gomas)

 

E vocês, quais são os cheiros que vos fazem sentir vivos? Ou vos recordam de memórias felizes?

Os melhores livros que li este ano

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Este ano li bastante mais do que nos anos anteriores  (38). A razão foi ter usado e abusado da biblioteca durante o Verão e não ter insistido em leituras pouco proveitosas. Dos livros que li este ano ficam aqui aqueles de que gostei mais:

 

Livros que me deixaram a pensar neles muito depois de os ter terminado: 

Razões para viver de Matt Haig: Um livro extraordinário e muito honesto sobre a depressão. Recomendo muito. // ★★★★★

Canção doce de Leila Slimani (post no blog): Um thriller sobre uma ama que mata as duas crianças de que tomava conta. Um livro arrebatador e muito bem escrito. // ★★★★☆

The friend de Sigrid Nunez (post no blog): A história de uma escritora que perde o melhor amigo para um suicídio e que fica a tomar conta do seu cão (um dogue alemão). É divertido e tem um final surpreendente. // ★★★★☆

 

É nacional e é bom:

A vida no campo: os anos da maturidade de Joel Neto (post no blog): As crónicas do escritor Joel Neto sobre a vida nos Açores. // ★★★★☆

O pintor debaixo do lava-loiças de Afonso Cruz (post no blog): A história de um pintor eslovaco que nasceu no final do séc. XIX e acabou escondido debaixo do lava-loiças para fugir do nazismo. Um livro maravilhoso baseado na história real dos avós do autor. // ★★★★★

 

A ficção no seu melhor:

Pessoas normais de Sally Rooney (post no blog): Uma história moderna sobre a relação de dois amigos e namorados ao longo de vários anos. Um livro maravilhoso e, ainda assim, absolutamente banal. // ★★★★☆

Lá, onde o vento chora de Delia Owens (post no blog): A história de Kya, uma miúda que vive isolada no pantanal e que, em adulta, é acusada de cometer um crime. Um dos meus livros preferidos de sempre. //  ★★★★★

 

Como é que eu nunca tinha lido isto antes?

Anne dos cabelos ruivos (post no blog): Um clássico maravilhoso sobre uma miúda orfã que é adoptada por dos irmãos. A série também vale muito a pena. //  ★★★★★

 

Livros de não ficção:

Estou viva, estou viva, estou viva de Maggie O'Farrell (post no blog): Um livro autobiográfico em que a autora explora uma série de experiências de quase-morte.//  ★★★★★

Desaparecer na escuridão de Michelle McNamara (post no blog): A saga da autora em busca do Golden State Killer, responsável por uma onda de assassinatos e violações na Califórnia durante mais de 10 anos.//  ★★★★★

O custo de vida de Deborah Levy: Um dos três livros da autobiografia de Deborah Levy. O único defeito é ser tão curto (cento e poucas páginas). // ★★★★★

 

Para ler de luzes acesas:

My sister, the serial killer de Oyinkan Braithwaite (post no blog): Um livro divertido de uma autora nigeriana sobre duas irmãs, sendo que uma delas tem o hábito de matar os namorados. // ★★★★☆

Sempre vivemos no castelo de Shirley Jackson (post no blog): Um thriller psicológico sobre duas irmãs que vivem sozinhas depois de toda a família ter morrido e que são temidas pelos aldeões. //  ★★★★★

 

E vocês, quais foram os livros que mais gostaram de ler este ano? 

Homens imprudentemente poéticos de Valter Hugo Mãe

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De Valter Hugo Mãe só tinha lido «O Apocalipse dos trabalhadores» e não gostei nada. Não gostei da história, nem dos personagens e achei que a escrita poética transformada em prosa do autor não se enquadrava naquele livro. Anos volvidos, deparei-me com esta capa (do ilustrador Júlio Dolbeth) na biblioteca e decidi dar uma segunda oportunidade ao autor. E ainda bem. Este livro é absolutamente maravilhoso.

«Homens imprudentemente poéticos» conta a história do artesão Itaro e do oleiro Saburo que são vizinhos e inimigos num Japão antigo. Esta é uma história feita de bons personagens cujo carácter vai sendo testado à medida que os capítulos avançam. E é também uma história de lendas, de sentidos e emoções. Ao contrário do outro livro que já tinha lido do autor, nesta história a prosa poética de Valter Hugo Mãe encaixa na perfeição.

Um pormenor importante que traz densidade a esta história é que o autor a faz acontecer no limiar da floresta de Aokigahara, uma floresta lindíssima que ganhou fama pelo alto número de suicídios que lá ocorrem. O problema começou, segundo consta, com um livro publicado nos anos 60 em que o casal da história escolhia o local para se suicidar.

Enfim, com duas experiências de leitura tão díspares deste autor, fico na dúvida sobre em que livro de Valter Hugo Mãe devo apostar a seguir. Se tiverem sugestões/opiniões sobre este ou outros livros do autor deixem nos comentários :)

O sentido do fim de Julian Barnes

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Estou um bocadinho zangada com este livro, se é que podemos pôr as coisas nesses termos. Trouxe-o da biblioteca porque era pequeno (150 páginas), tinha um título chamativo e uma capa bonita. Queria uma leitura rápida e uma boa história. Senti-me enganada. A história é boa, sim, mas também é crua, visceral, brutalmente honesta de uma forma que me obrigou a pousar o livro várias vezes para assimilar as páginas.

...Adrian também dominou a própria vida, comandou-a, tomou-a nas mãos (...) Quão poucos de nós podem dizer que fizeram o mesmo? Vamo-nos safando, deixando a vida acontecer-nos, acumulamos sucessivamente uma provisão de memórias. Há a questão da acumulação (...) só o simples adicionar e acrescentar de vida. E, como indicou o poeta, há uma diferença entre soma e desenvolvimento.

«O sentido do fim» conta-nos a história de um grupo de amigos de liceu. O narrador é Tony que está agora na última fase da sua vida e se vai confrontar com as memórias da sua amizade com Adrian e o rumo drástico da vida deste amigo.

Mas o tempo... o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e de não as enfrentar. Tempo... deem-nos tempo suficiente e as nossas  decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas... bizarras.

Não quero revelar muito mais até porque, só mesmo no finalzinho é que a história faz todo o sentido. Acredito que muitos de vós já tenham lido este livro (já foi editado em 2011) e até já foi adaptado a filme (que ainda não vi). Mas, se não leram, recomendo muito.

Está esgotado nas livrarias, mas há sempre a biblioteca, os alfarrabistas, o olx, o custojusto, o coisas.com, a bibliofeira e os grupos de troca e venda de livros em segunda mão no facebook.