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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Apenas miúdos de Patti Smith

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«Apenas miúdos» é o livro de memórias de Patti Smith que se foca na sua relação com o fotógrafo Robert Mapplethorpe e no seu crescimento enquanto artistas na Nova Iorque do final dos anos 60 e início dos anos 70.

Conhecia minimamente o trabalho de Patti Smith, mas o mesmo não posso dizer de Robert, de quem nunca tinha ouvido falar. Se fizerem uma pesquisa nas imagens do google conseguem perceber bem o talento que tinha enquanto fotógrafo. O livro é, em parte, uma homenagem a Robert, mas principalmente à amizade que mantiveram durante décadas.

"Ninguém vê como nós, Patti", dizia-me ele. Sempre que me dizia coisas dessas, durante um mágico espaço de tempo, era como se nós os dois fossemos as únicas pessoas que havia no mundo.

Confesso que sendo de uma geração muito diferente da de Patti Smith algumas referências dos anos 60 e 70 me disseram pouco ou nada e tenho a certeza de que teria aproveitado melhor o livro se fosse de outra forma.

Ainda assim, a escrita de Patti Smith é deliciosa e fiquei curiosa para ler os outros dois livros que estão traduzidos em português:
- «M train» que fala sobre a sua relação com o marido
- «Devoção» que fala sobre o seu processo de escrita

Já leram algum livro de Patti Smith? Gostaram?

Os Durrells são só a minha série favorita de sempre

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Já não sei onde descobri os Durrells mas sei que bastaram dois ou três episódios para se tornarem na minha série preferida de sempre. Não, não estou a exagerar. Os Durrells conta a história de uma família britânica nos anos 30 que, perante a sua desilusão com a vida em Inglaterra, se muda para a ilha de Corfu, na Grécia. A partir daqui, seguimos as aventuras da mãe (Louisa) e dos seus quatro filhos: o Larry que quer ser escritor, o Leslie que tem azar na vida, a Margo que não é muito inteligente e o Gerry que tem uma obsessão por animais que rapidamente transforma a casa num mini jardim zoológico.

Já estive várias vezes na Grécia e tenho sempre muitas saudades da Grécia (principalmente quando chega o Verão) mas nunca tive tantas saudades como as que sinto a ver esta série porque capta na perfeição o país, as pessoas, a cultura, a língua, o calor sufocante, a comida (maravilhosa), as paisagens.

O mais extraordinário é que a história é verídica e baseada no livro "A trilogia de Corfu" escrita pelo filho mais novo, o Gerry. Quando cresceu tornou-se conservacionista, criou um jardim zoológico (verdadeiro) e um fundo para a conservação da biodiversidade em Inglaterra (Durrell conservation fund) que perdura até hoje. A família viveu cinco anos em Corfu que estão representados nas 5 temporadas da série. Na última, o tom leve de comédia dá lugar a um tom mais pesado à medida que a 2ª Guerra Mundial adensa. A família acabou por ter de fugir para Inglaterra quando a Itália invadiu a Albânia em 1939. 

Trailer aqui.

On the come up de Angie Thomas

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Não tenho o hábito de ler livros young adult porque não é dos meus géneros preferidos. No entanto, vi o filme "The hate you give" que é a adaptação ao cinema do primeiro livro de Angie Thomas e gostei tanto que decidi dar uma oportunidade à autora e ler o seu novo livro. Ora, o livro ainda não está traduzido em português e tenho algumas dúvidas em relação à sua tradução. Eu explico. É que «On the come up» conta a história de Brianna, uma jovem de 16 anos, que quer ser rapper. Isto significa que há muitas letras de rap (escritas pela escritora na sua juventude) ao longo do livro. Não sei se a editora que traduzir o livro também vai traduzir as letras, mas parece-me que isso vai "estragar" um bocadinho a essência do livro. Por isso, decidi apostar na versão original.

«On the come up» conta então a história de Bri, uma jovem filha de um rapper que morreu e deixou uma carreira por cumprir. É uma homenagem de Angie Thomas ao hip hop, que a inspirou a começar a contar histórias. E é, assim como o seu antecessor, uma história sobre o racismo nos Estados Unidos. Enquanto lia o livro, deparei-me com esta notícia na timeline do facebook:

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Basicamente, a história de «On the come up» começa precisamente assim. Bri é atirada ao chão pelos seguranças da escola e, porque estamos em 2019, alguém faz um vídeo deste episódio com o telemóvel que se torna viral. A partir daí, Bri tem de navegar quem quer ser versus quem os outros querem que seja numa sociedade que a tenta desvalorizar a todo o custo com base na cor da sua pele.

Gostei deste livro. Não o posso comparar com o "The hate U give" porque não o li, mas também não posso dizer que este livro me tenha enchido completamente as medidas. A verdade é que, das duas uma, ou os young adults não são para mim ou eu não os sei escolher. Este ano também li «A educação de Eleanor» e, apesar de ter gostado, ficou aquém daquilo que esperava.

A série da HBO: the case against Adnan Syed

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Não sabia nada sobre o caso real de Adnan Syed antes de ver o documentário. É um caso muito conhecido nos Estados Unidos e deu origem a um dos podcasts mais ouvidos de sempre (na série Serial).

 

É um caso complicado e cheio de detalhes mas basicamente, em 1999, uma rapariga coreana (Hae) desapareceu em Baltimore. Algum tempo depois, o corpo foi encontrado e o ex-namorado (Adnan Syed) foi considerado culpado. Foi condenado a passar o resto da vida na prisão mas ainda hoje se diz inocente. A família tem tentado a todo o custo conseguir um novo julgamento e provar a sua inocência.

Esta é uma daquelas séries que prendem desde o primeiro minuto para quem (como eu) gosta de séries como casos arquivados. Não há muitos elementos que liguem Syed ao assassinato de Hae, nem sequer há DNA ou qualquer análise forense, mas há um testemunho de um colega de liceu que diz que ajudou Adnan a esconder o corpo de Hae. No entanto, este testemunho que é (quase) a única prova contra Syed parece pouco fiável por várias razões. O documentário vai apresentando as provas e testemunhos contra Adnan aos poucos, intercalados com momentos que mostram como a família de Syed lida com o facto dele estar preso há quase vinte anos.

A minha única crítica ao documentário é que, ao pesquisar mais sobre o assunto, percebi que alguns pormenores contra Adnan ficaram fora do documentário. Ou seja, acho que é muito one-sided mostrando todos os dados a favor de Adnan e escondendo alguns dos que estão contra. Além disso, o facto da família e amigos de Hae praticamente não aparecerem parece-me uma falha grave. Não sei se não quiseram aparecer ou se o facto de terem uma opinião contrária à do documentário levou a que não aparecessem - a família de Hae acredita que Adnan é culpado.

De qualquer forma, é um documentário fantástico para quem gosta de explorar crimes reais que estão no limbo em que não se percebe muito bem se alguém é culpado ou inocente. Neste caso, parece-me muito duvidoso que, independentemente de ser culpado ou inocente, houvessem provas suficientes para condenar Syed. Recomendo muito que vejam e tirem as vossas conclusões.

Trailer aqui.