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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

My sister, the serial killer de Oyinkan Braithwaite

Este livro começa com a personagem principal, Korede, a ser chamada pela irmã para limpar uma cena de crime. A irmã, Ayoola, matou o namorado. Já é a terceira vez que isso acontece o que faz dela oficialmente uma serial killer.

Femi makes three you know. Three and they label you a serial killer.

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A história passa-se na Nigéria onde Korede é enfermeira e divide os seus dias entre os pacientes do hospital onde trabalha e a vida familiar. Depois da morte do pai, Korede vive com a mãe e a irmã numa dinâmica onde a família está acima de tudo. É, por isso, que ao longo do livro vamos acompanhando o dilema de Korede: deve ou não denunciar a irmã pelos crimes que cometeu (e que poderá continuar a cometer)? 

Gostei muito deste livro que, apesar de ter um tema algo sério e de se focar na relação complicada entre as duas irmãs, me fez rir em muitos momentos. É uma mistura de crime/drama com comédia que se lê muito bem. Além disso, dá-nos a conhecer a dinâmica familiar rígida da cultura nigeriana. Não é um livro extraordinário, ou não fosse o primeiro desta autora, mas é um ótimo começo e vou certamente querer ler os próximos livros que venha a publicar.

P.S. - Infelizmente, não está traduzido em Portugal, mas a versão em inglês de capa dura está na wook. Este livro foi a minha escolha de Fevereiro para o projeto literário da Rita da nova "Uma dúzia de livros". O tema era sobre famílias.

Anne with an E: a série e o livro

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Há umas semanas vi este vídeo sobre Harry Potter que toca num ponto sensível para muita gente. E se Hogwarts não passou de um produto da imaginação de Harry? E se, na verdade, Harry nunca deixou aquele quarto minúsculo na casa dos tios? O vídeo mostra uma entrevista com J.K.Rowling onde ela confessa que pensou muitas vezes nisso. Enquanto o via, também me lembrei daquele momento no último filme, em que Harry pergunta a Dumbledore se o sonho que está a ter é produto da sua imaginação. A resposta: Of course it is happening inside your head, Harry, but why on earth should that mean that it is not real?

Como é que isto nos leva até "Anne with an E"? Muito simples. Esta série da netflix, adaptada dos livros de Lucy Maud Montgomery, é uma ode à imaginação. A personagem principal, Anne, é uma orfã adoptada por dois irmãos de Green Gables, para onde vai viver. Anne vive no mundo real, mas também nos inúmeros mundos imaginários que existem dentro da sua cabeça.

Tinha estado a ler, mas o livro escorregara-lhe para o chão, e agora sonhava, com um sorriso nos lábios entreabertos. A sua imaginação viva arquitetava castelos no ar; no seu mundo imaginário decorriam aventuras maravilhosas e deliciosas, aventuras que terminavam sempre triunfalmente e nunca a envolviam em complicações, como as da vida real.

Sei que muita gente não gosta que se mude a ordem natural das coisas mas tal como já fiz para Orange is the new black e The handmaid's tale, começei por ver a série e só depois li o livro. Quando acabamos de ver uma série de que gostamos muito há uma sensação agridoce. A minha solução passa por continuar a explorar aquela história no livro (se existir). Até agora, só me tenho surpreendido pela positiva. E "Anne with an E" (ou "Anne das empenas verdes" na tradução da Relógio d'Água) não foi exceção.

Adorei a série, que tem personagens bem construídos, cenários maravilhosas e é uma adaptação muito bem conseguida da história original. Mas gostei ainda mais do livro. Começei por dar 4 estrelas no goodreads mas, como acontece com os bons livros, percebi que algumas semanas depois de o ter terminado ainda estava a pensar nele. E mudei para 5 estrelas. No final reli todas as passagens que marquei e deixo aqui duas preferidas:

Sobre a(s) pessoa(s) que somos:

Há em mim uma porção de Anne distintas. Às vezes penso que é por isso mesmo que sou uma pessoa tão difícil. Se houvesse uma Anne só, seria muito mais cómodo, embora não tivesse metade da graça.

Sobre o luto:

Hoje (...) dei comigo a rir. Quando aquilo aconteceu julguei que nunca mais fosse capaz de rir. E, não sei porquê, tenho a impressão de que não devia. Desagrada-nos o pensamento de que qualquer coisa nos possa agradar quando alguém a quem amámos já não está connosco para partilhar esse prazer, e sentimo-nos quase que infiéis à nossa dor quando descobrimos que voltamos a ter interesse pela vida.

Recomendo muito. Este é um daqueles livros que vou guardar porque sei que vou querer reler.

A quem abandonou a minha gata

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Já foi há uns anos que estava a subir a rua para chegar a casa, depois da faculdade, e vi uma transportadora de gatos no meio do passeio. Parei e espreitei. Lá dentro estava uma gata preta, adulta, com os olhos amarelos esbugalhados para mim. Aproximei a mão e pôs logo a cabeça a jeito para receber festas. A transportadora estava aberta. Olhei à volta e não vi ninguém. Fui a uma papelaria próxima (que tinha vários gatos) e tentei convencer o senhor a ficar com ela. Não quis. Levei-a para minha casa. Não quis sair da transportadora por nada e lá ficou durante uns dias, com água e comida. Depois, aos poucos, foi saindo. Ficou tão assustada com tantas mudanças que lhe caiu uma boa parte do pêlo.

Olhando para ela acho que não mudou muito. Continua a não se entusiasmar demasiado com a minha presença. A manter o seu meio-termo de gostar de festas mas não de colo. Continua preta com uns pêlos brancos no queixo como se tivesse barba. Continua com aqueles olhos meio amarelos meio verdes que já me pregaram alguns sustos quando olha para mim no escuro.

Chamei-lhe Petra, um trocadilho com preta, a esta gata que alguém abandonou numa transportadora no meio do passeio e que me tem feito muita companhia ao longo dos anos. Gostava que tivesse havido, ao menos, um bilhete. De saber se veio da rua, se já tinha tido doenças, se estava esterilizada (não estava mas demorámos a descobrir), se tinha nome… Talvez tenham pensado que ninguém ia ficar com uma gata adulta e que ela ia ficar pela rua. Ou talvez não tenham querido saber. Não sei. O que sei é que, no fim de contas, eu ganhei uma boa companhia nesse dia e aquelas pessoas (quem quer que sejam) perderam muito mais do que imaginam.

Capas de livros: Portugal vs Brasil

Há algumas semanas fiquei encantada com este post do blog Cup of Jo que compara capas de livros entre o Reino Unido e os Estados Unidos. Acabei por pesquisar diferentes capas para edições de Portugal e do Brasil e reuni algumas das minhas preferidas neste post.

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Esta é capaz de ser uma das diferenças mais engraçadas. A capa brasileira, à esquerda, dá aos livros da Ferrante um ar de leveza e de novela. Enquanto a capa portuguesa lhe dá um ar de seriedade. Neste caso, gosto mais das capas portuguesas (tanto deste volume como dos restantes).

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Gosto muito das duas capas mas, se tivesse de escolher, optava pela do Brasil, à esquerda. Apesar de não ter lido o livro (só vi a série) acho que está mais adequada ao mistério que Margaret Atwood criou em torno de Grace.

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Mais uma série de livros em que as edições portuguesas e brasileiras têm capas completamente diferentes. Neste caso, gosto mais das do Brasil (podem ver as primeiras três aqui).

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Neste caso, nem preciso de pensar no assunto porque acho a edição da Elsinore linda. Tenho este livro e é um dos mais bonitos da minha estante. Não só pela capa mas também porque a Elsinore tem sempre muita atenção aos detalhes nos livros que publica.

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Um exemplo de duas edições recentes de um livro clássico. Gosto muito de ambas as edições, mas acho a portuguesa da Relógio d'água mais bonita (à direita na imagem).

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Neste caso, o título em português ("Uma educação") é muito semelhante ao original ("Educated") e o do Brasil foge um bocadinho ao original. Confesso que, apesar de preferir a capa portuguesa (à direita na imagem), acho que nenhuma delas se aproxima da minha preferida (esta) que é só uma das capas mais bonitas que já vi.