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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

9 coisas sobre a Grécia

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Foram precisas quatro viagens à Grécia para perceber porquê que gosto tanto de cá estar. A revelação chegou por intermédio de uma voluntária que disse qualquer coisa como "it's weird that we work really long hours but it feels so much like a holliday". Respondi algo como "that's because Greece feels like summer". É isso, a Grécia cheira e sabe a verão. Está (muito) calor e entre turnos arranjam-se sempre trinta minutos para ir nadar, mesmo que seja às oito da noite em que o sol ainda não se pôs e estão uns 28 graus.

Não me sinto a chegar a outro país quando saio do avião e as pessoas me cumprimentam com um “yasas” ou “kalimera” porque me sinto em casa na Grécia. Por isso, aqui ficam algumas coisas que tenho aprendido sobre este país ao longo dos últimos cinco anos, algumas boas e outras menos boas (como em todo o lado):

 

O Verão é tudo

Acho que já estabelecemos isto. Mas uma coisa engraçada que nunca vi em mais lugar nenhum é que os gregos se mudam literalmente para a praia durante o Verão. Montam um toldo. Às vezes complementam-no com mesas e cadeiras e aproveitam o seu dia de praia. Ao fim do dia, voltam para casa e deixam tudo no areal para os dias seguintes.

 

A comida
A comida é boa, muito boa, mesmo num acampamento no meio do nada. Há sempre legumes do mercado, pão fresco, pesto, azeite, queijo e orégãos. A pastelaria, tanto de doces como de salgados é deliciosa e vai desde as loukoumades (uma espécie de donuts) que se comem com canela e açúcar ou com mel a doces com recheio de nozes, folhados de espinafres e queijo feta. Enfim, há pastelarias por todo o lado e é tudo absolutamente delicioso (e barato).

Além de moussaka, uma das minhas comidas preferidas é pita gyros que é pão de pita enrolado com carne (tradicionalmente porco mas também se vende com frango), batatas fritas, alguns vegetais e molho tzatziki (feito com iogurte, pepino, alho, sal e azeite). É delicioso e custa uns dois euros.

 

O gosto das pequenas coisas 
Tem mais a ver com acampar no meio do nada do que com a Grécia, mas a verdade é que a viver nessas condições a maioria das lojas só vendem produtos essenciais e outras coisas (como chocolate) só se encontram nos hipermercados a uma meia hora de carro. Por isso, qualquer tablete é uma preciosidade. O dia em que alguém comprou um balde de nutella para o campo foi dia de festa. Durou menos de 24 horas.

 

Livros
Há uma biblioteca no campo e posso atestar que quem acha que os jovens de hoje em dia não gostam de ler está enganado porque há sempre pessoas com livros na mão. No geral, na Grécia não é difícil encontrar livrarias novas ou com livros em segunda mão. A ktel, por exemplo, por muitos defeitos que tenha tem uma pequena livraria de livros usados.

 

Os animais abandonados

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É verdade que Portugal tem um problema grave com animais abandonados. Mas a Grécia consegue ser pior. Não há um caixote do lixo que não tenha uns quantos gatinhos ou uma praia onde não haja cães a dormir no areal. Basicamente, não há canis nem gatis públicos, ou seja, recolher os animais da rua não é uma preocupação do governo e este trabalho é exclusivo de associações não governamentais que vivem de doações.

 

O desprezo pelas regras

Não há regras na Grécia. Ou melhor, elas existem mas no geral servem para ser contornadas ou ignoradas. Isto é algo que me chateia muito no trabalho com as tartarugas mas a que já me habituei em tudo o resto. Por exemplo, no dia em que regressei a Portugal comprei um bilhete para o autocarro das 8:30. Já sei que isso significa que o autocarro vai passar algures entre as 8 e as 9 porque, lá está, as regras não existem. O senhor da bilheteira disse-me que, no dia anterior, o autocarro tinha passado às 7:45. Assim, a essa hora lá estava eu na paragem. Esperei e esperei. Eram 9:30 quando o autocarro passou.

 

As pessoas

Os gregos têm um certo modo teimoso e, às vezes, um bocadinho rude de agir mas, no geral, são muito boas pessoas. Certo dia, eu e uns amigos voluntários fomos até à cidade de kyparissia. Fomos de táxi e dissemos ao taxista que queríamos voltar perto da meia-noite e que lhe ligávamos. Ele disse que sim, claro, sem problema. Depois de jantar, pedimos à senhora do restaurante para ligar ao taxista. Ela ligou e cinco minutos depois estava ela, o marido e alguns clientes a discutir em grego. Depois de desligar o telefone, disse que o taxista não podia, porque já era tarde mas que ela própria nos levava de volta. Ainda tentámos dizer que podíamos tentar ligar a outro táxi mas os donos do restaurante já nos tinham metido no seu carro, encolhidos entre cadeirinhas de bebé. Uns vinte minutos depois chegámos e, entre repetir várias vezes "efcaristó" (que significa obrigada), ainda tentámos pagar qualquer coisa mas os senhores não deixaram.

 

Condução de loucos

Andar de táxi faz uma pessoa ficar com o coração nas mãos porque, lá está, as regras não existem. Ou então, a julgar pela quantidade de ultrapassagens, a única regra parece ser a de que quem chegar primeiro ganha. Um dia levámos um grego num dos carros da Archelon. Sentou-se no banco de trás e, ao ver que havia cinto de segurança, disse “oh, I completely forgot this existed in the back seats, no one uses them in Greece and some cars don’t even have them anymore.”

 

Estrelas cadentes

Não sei explicar porquê mas basta-me olhar uns dois minutos para o céu noturno da Grécia para ver estrelas cadentes. Imagino que seja uma combinação de vários fatores: o céu é quase sempre limpo e sem nuvens e o facto de trabalharmos no meio da natureza e longe das luzes da cidade. Vemos tantas que me esqueço quase sempre de pedir desejos. Quando o faço peço sempre a mesma coisa: que os dias (e semanas) que passo na Grécia sejam bons e que, sabendo que não podem durar para sempre, eu possa sempre regressar.

O Vimeiro e um bom livro: Call me by your name

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Não tinha vontade de ler este livro antes de ver o filme, nem depois para ser sincera. Gostei do filme, mas não adorei. Achei um filme perfeito de Verão, com uma paixão que se acende numa vila italiana. A vontade de ler este livro foi crescendo com as opiniões que li (aqui, aqui e aqui) com a procura de um livro para ler nas férias, nomeadamente na piscina do Vimeiro. Não sei como é que, tendo passado tantos Verões na zona do Oeste, ainda não conhecia a piscina do Vimeiro. Já tinha visto fotografias e quando cheguei reconheci logo a paisagem verde das montanhas ao redor. O cenário que rodeia a piscina vale bem a pena a visita. A piscina em si é de água mineral, ou seja, não arde nos olhos e é bem mais agradável do que qualquer piscina onde tenha estado. Só peca por ser pequena e por estar num sítio ventoso (ou não ficasse em pleno Oeste).

Mas, este livro. A história é simples e fácil de explicar. Élio é um rapaz de 17 anos que passa o Verão na casa de férias de família no norte de Itália. Todos os anos os pais hospedam um estudante estrangeiro que, durante esse ano é Oliver, um americano de 24 anos por quem Élio se apaixona.

O ambiente do livro, no entanto, é mais difícil de explicar. Os pais de Élio têm uma educação e cultura acima da média, que passaram ao filho, que gosta de ler autores clássicos e de tocar piano. Oliver escreve, durante o Verão, um livro sobre Heráclio (um filósofo grego) e todo o livro é uma homenagem (bem bonita) aos autores clássicos, à filosofia, ao valor do conhecimento e da reflexão. E o que é mais maravilhoso ainda é que uma história com tudo isto e que, ao mesmo tempo, é subtil e poética tenha conseguido cativar tantos leitores jovens pelo mundo inteiro.

But I also knew that I was circling wagons around my life with try again laters, and that months, seasons, entire years, a lifetime could go by with nothing but Saint Try-again-later stamped on every day. Try again later worked for people like Oliver. If not later, when? Was my shibboleth.

Subtil é mesmo a palavra certa para descrever este livro. Não há muita ação. Aliás, uma boa parte da narrativa passa por acompanharmos os pensamentos confusos de Élio à medida que se apaixona por Oliver. Convém ainda dizer que o livro (e o filme) se passam em 1983, uma altura em que estes pensamentos e desejos era ainda mais tabu do que hoje em dia.

Numa entrevista, o autor André Aciman explica que gostou tanto do filme que ele próprio já não conseguia pensar nos personagens que criara sem imaginar os autores que os interpretaram. O livro e o filme completam-se na perfeição. O primeiro ganha por mostrar tudo o que passa na cabeça de Élio e que o filme não consegue mostrar. O segundo mostra-nos os cenários daquele Verão idílico passado em Itália e acrescenta-lhe uma banda sonora que nos transporta para lá. Vale muito a pena, por isso, explorar os dois.

A Peloponnese (Grécia) em 12 fotografias

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Foi este o caminho que fiz (quase) todos os dias. Atravessar as tendas do parque de campismo, passar a floresta a ouvir as cicadas nas árvores e ver a praia do outro lado. Mergulhar. A praia da Peloponnese tornou-se a minha segunda casa (a primeira era o acampamento). De manhã, aproveitando as horas em que o calor ainda não sufoca, há famílias com cães e crianças a brincar na areia. As horas de calor a meio da tarde eram a minha hora preferida para fazer este caminho. O calor é tanto (por volta dos 36/38º) que só se está bem dentro de água. Às oito e meia o sol põe-se e a praia volta a ganhar vida com as pessoas que querem nadar com o sol no horizonte ou fazer paddlesurf. Para nós, era a hora de estarmos juntos, depois de um dia que tinha começado há demasiadas horas atrás.

 

A baía da Peloponnese

Se tivesse de descrever a baía da Peloponnese numa palavra seria selvagem. São quase 25 quilómetros de praia em que, tirando alguns bares e restaurantes numa das praias, quase não existem pessoas. É aqui que, nos últimos anos, se tem atingido um número recorde de ninhos de tartarugas marinhas. Este ano foram cerca de 3 mil. E foi por isso mesmo que aqui passei quatro semanas este Verão.

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As praias selvagens da Peloponnese com as montanhas ao fundo

O trabalho da Archelon

Já escrevi sobre os turnos neste post, quando fiz voluntariado em Creta. Mas como fiquei num projeto diferente (kyparissia, na Peloponnese) vou escrever sobre os turnos que são diferentes.

Os turnos de boxing

Foi o meu primeiro turno. Fiquei um bocadinho assustada quando me explicaram que era um turno de 11 horas (!) durante toda a noite. Mal sabia eu que ia ser, de longe, o meu turno preferido. Basicamente vamos para a praia às 8 da noite em grupos de quatro e inspecionamos todos os ninhos prestes a eclodir. Estes ninhos estão protegidos por caixas para que quando as tartarugas nasçam fiquem retidas na caixa e não vão para a parte de trás da praia (são atraídas pelas luzes dos restaurantes e dos hotéis). Se houver crias, estão são postas em baldes e levadas para um sítio seguro da praia (um releasing point) onde não existem luzes na parte de trás da praia. Nesse local, deixamo-las na areia e ficamos a vê-las seguir até ao mar. Voltamos a verificar os ninhos de hora a hora até às sete da manhã.

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Uma das caixas a proteger um ninho

Logo no meu primeiro turno ajudámos quase 200 crias. Muitas vezes, como passamos a noite toda na praia, vemos tartarugas adultas a desovar, calmamente, completamente alheias à nossa presença. Não intervimos, ficamos só a ver maravilhados. Só fazemos boxing na zona mais turística onde há hotéis e restaurantes que se recusam a desligar as luzes de noite (ou a mudar as luzes brancas para vermelhas, que as crias não conseguem ver). No resto da baía, intervimos o menos possível.

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A praia onde fazemos boxing e que é a mais turística da Peloponnese. À direta vêem-se três ninhos de tartarugas marinhas e as caixas, que só são colocadas ao início da noite e depois retiradas de manhã

Outro motivo pelo qual metemos as caixas são os gatos. Andamos a noite inteira na praia só com uma luz vermelha na testa (para não perturbar as crias e as tartarugas adultas a desovar) e para onde quer que olhemos vemos dois pontinhos vermelhos a olhar na nossa direção. São gatos. Há muitos e são tão espertos que escavam buracos na areia para as caixas e ficam pacientemente à espera que as crias eclodam e saiam pelo buraco que criaram. Não as comem, simplesmente brincam com elas e, claro, acabam por as matar.

Foi o meu turno preferido porque trabalhamos de noite (longe dos 40 graus do meio-dia) e porque o trabalho é muito recompensador. Quando chegamos a um ninho que acabou de eclodir pela primeira vez podemos ter logo umas 50 crias e depois temos o privilégio de as meter na areia e de ficar a vê-las seguir a luz da lua refletida no oceano em direção ao mar.

Os turnos de morning survey

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Já existiam no outro projeto mas há algumas diferenças. Este é o turno em que vamos para as praias ao nascer do sol à procura das marcas das tartarugas adultas no areal para encontrarmos os ninhos (que escavamos para identificar o local e protegemos com uma grade metálica) e de crias a nascer (que só ajudamos se necessário, ou seja, se há turistas à volta ou se está demasiado calor e podem morrer desidratadas). 

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 Crias de Caretta Caretta a sair do ninho às sete da manhã durante um morning survey

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 Crias em direção ao mar antes do nascer do sol

Se em Creta o maior problema era a grande quantidade de hotéis e turistas, aqui são os veículos na praia. Infelizmente, não são raras as vezes em que vemos buldózeres na praia ou jovens a fazer motocross. É proibido por lei (as praias de desova são protegidas pela União Europeia) por vários motivos. Quando os veículos passam pelos ninhos, a areia fica compacta e as crias, ao nascer, não vão conseguir subir à superfície e vão morrer na areia. Por outro lado, facilmente um veiculo à noite passa por cima das crias ou pode mesmo atropelar uma tartaruga adulta a desovar.

Outro problema são os cães. Há imensos cães abandonados a dormir na praia e, por muito meigos que sejam, conseguem farejar os ninhos, escavam-nos e comem as crias. No geral, num morning survey encontramos uns cinco ninhos predados e vemos quase sempre cães (às vezes, com as crias na boca). 

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 Um dos muitos lagos que existem nas praias da Peloponnese durante um morning survey

 

O acampamento da Archelon

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O acampamento da Archelon na Peloponnese

Fomos sempre mais de quarenta voluntários a partilhar um espaço reservado num parque de campismo. Entre muitos franceses e ingleses, alguns alemães, uma canadiana, uma americana, dois sérvios, alguns gregos, um costa-riquenho, uma portuguesa (eu) e um espanhol vivemos entre o reboliço de haver poucos voluntários para muitos turnos (idealmente seríamos 70 voluntários) e a calma de estarmos no meio do nada. Num sítio onde o wifi quase não funciona e onde é preciso conduzir 20 minutos para chegar a um multibanco.

É difícil explicar a cumplicidade que se gera quando se passam noites inteiras acordados num turno de boxing com outras pessoas, quando se partilha muito cansaço e falta de sono (acordamos às cinco da manhã e temos turnos de manhã, tarde e noite, com um desses períodos livres em cada dia). Quando se partilham muitos momentos de stress (quando os turistas ficam demasiado eufóricos a ver tartarugas bebés ou quando temos crias no meio da estrada e temos de mandar parar os carros). É difícil explicar que se vive muito em pouco tempo num sítio assim, onde o tempo parece quase parado só para nós vivermos esta experiência. Quando acaba e voltamos a casa, sentimo-nos vazios e sentimos a falta daquelas pessoas na nossa vida, na nossa mesa ao jantar, com cara de sono às cinco da manhã a beber doses astronómicas de café gelado, a cantar no carro a caminho de mais um turno, a partilhar uma conversa ao pôr-do-sol na praia depois de um dia que começou há demasiadas horas atrás.

O que fica são memórias e umas quantas mãos cheias de histórias que não se esquecem e que nos fazem sorrir, no regresso à vida de todos os dias. Como a história de quando um dos sérvios descobriu um ratinho dentro da tenda e foram precisas três pessoas com vassouras para o expulsar, e que depois se recusou a voltar à tenda e dormiu numa das redes durante duas noites. Ou a do cão que seguiu dois voluntários até ao acampamento e ficou por lá durante dois dias. Ou de quando fomos entregar panfletos da organização a uma praia que descobrimos assim que lá chegámos era uma praia de nudistas. Ou a da rapariga grega que comprou mastika (um produto tradicional grego que se obtém das árvores e que sabe… bom, a mim sabe-me a pasta de dentes) a pensar que todos íamos adorar e de que ninguém gostou. Ou de quando uma voluntária grega fez loukoumades e ficámos na mesa a jantar até não haver nem mais uma no tabuleiro. 

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Um dos muitos sapos do acampamento

Às vezes recebo mails de pessoas que escrevem que o que escrevi sobre a minha experiência de voluntariado as ajudou a ultrapassar o medo e a viver uma experiência semelhante. Fico sempre surpreendida (e agradecida também) mas percebo. A sério que se eu consigo fazer estas coisas, qualquer pessoa consegue. Sou bem medricas. Desenvolvi nos últimos anos um medo (pânico quase) por andar de avião, mas ando. Tenho medo de trovoada mas ela persegue-me até para a Grécia, medo de ficar doente, de me magoar, de não me dar bem com ninguém, de sentir que foi tempo perdido ou dinheiro deitado à rua... Tive experiências melhores e piores, como é normal, mas até agora nunca me arrependi e nunca me senti tão realizada como a fazer voluntariado com tartarugas marinhas. Por isso, se sentem que, de alguma forma, uma experiência deste género é algo que gostavam de fazer, vão. Se estão à procura de um sinal para se decidirem a ir, ele está aqui. Acreditem que um mês pode parecer muito tempo mas passa a correr e quando derem por ele, estão de lágrimas nos olhos a ter de dizer adeus a toda a gente.

A sombra do vento de Carlos Ruiz Zafón

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Percebi logo nas primeiras páginas que ia gostar muito da Sombra do vento. Felizmente, não me enganei. É um livro sobre livros, sobre memórias, sobre mistérios, sobre a guerra civil espanhola e sobre Barcelona. Também é um livro que nos agarra, daqueles que nos fazem querer sempre virar a página.

A história começa com um rapaz - Julián - que é levado pelo pai a um lugar misterioso, o cemitério dos livros esquecidos. O pai pede a Daniel que escolha um livro para o proteger contra o esquecimento. O livro escolhido (A sombra do vento) pertence a um autor desconhecido. A partir daqui, Julián tenta desvendar o mistério deste escritor e do homem que procura queimar todos os livros que escreveu. Tem o ritmo de um policial, está maravilhosamente bem escrito e tem frases que merecem ser guardadas a cada página.

Sobre a morte

De tanto pensar na morte, julgava Julian, tinha acabado por lhe encontrar mais sentido do que à vida.

 

Sobre as ilusões que temos dos outros 

Às vezes julgamos que as pessoas são décimos da lotaria: que estão ali para tornar realidade as nossas ilusões absurdas.

 

Sobre o trabalho (e a vida)

O difícil não é ganhar dinheiro do pé para a mão - lamentava-se. O difícil é ganhá-lo fazendo alguma coisa a que valha a pena dedicar a vida.

 

Sobre livros

Bea diz que a arte de ler está a morrer muito lentamente, que é um ritual intímo, que um livro é um espelho e que só podemos encontrar nele o que já temos dentro, que ao ler aplicamos a mente e a alma, e que estas são bens cada dia mais escassos.

 

Este livro entra certamente para a minha lista dos preferidos do ano (talvez da vida) e várias vezes me perguntei como é que me escapou durante tanto tempo. Recomendo imenso.