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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Um primeiro dia difícil na Grécia

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Já foi há um mês que apanhei um táxi do aeroporto para a estação de autocarros de Atenas (a ktel). Foi um erro porque apanhar o autocarro era fácil e barato mas estava de rastos e a mala era pesada. Pensei que fosse mais perto. Já sei como funcionam os táxis na Grécia. Se acham que temos dinheiro pedem o máximo possível. Se acham que somos de um país com menos dinheiro pedem menos. Pensei que me safava de pagar o máximo por ser portuguesa (como já tem acontecido).

A conversa com o taxista foi assim:

- Hello, where are you from?
- Portugal.
- Where?
- Next to Spain.
- I don't know. Are you americana?
- No, I'm not American.
- Are you sure? Your english sounds American to me.
- I watch a lot of tv shows. I'm from Portugal. You know, Cristiano Ronaldo...
- I don't know who that is. You look American.
- I'm not! I have zero dolars. Really, I've never even been to the US...
- I don't understand what you say... You sound American to me. It's 35 euro, ok?

E pronto, é esta a história de como falhei em provar que não sou uma americana a viajar pela Europa com dólares americanos e que venho de Portugal (e nem o Cristiano Ronaldo me safou...).

 ***

Eram oito da manhã quando cheguei à estação de autocarros da ktel em Atenas para seguir para a baía da Peloponnese onde ia fazer voluntariado com tartarugas marinhas (sim, outra vez). Foi quando percebi que ia ser bem mais difícil do que pensava.

Um senhor explicava qualquer coisa em grego a uma multidão de gregos e turistas. Os autocarros regressavam, as pessoas saíam e dirigiam-se à bilheteira para reaver o dinheiro.

No meio da confusão, encontrei uma australiana que falava grego (os pais eram gregos) que me explicou que havia um incêndio entre Atenas e a Peloponnese. Há uma única estrada que liga as duas e quando os autocarros lá chegavam viram uma coluna de fumo espesso que não deixava ver onde estava o fogo e deram a volta na auto-estrada e voltaram para Atenas. Ninguém sabia quando seria possível passar por aquela estrada e não havia outra forma de chegar à Peloponnese. Felizmente, a australiana tinha amigos em Atenas e ofereceu-me um sítio para passar a noite, caso fosse preciso.

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A estrada onde os autocarros tinham de passar para chegar à Peloponnese

 

Como resultado, fiquei na ktel até meio da tarde. Esta estação tem tudo o que de pior há em Atenas (e na Grécia). Sem-abrigo que entram nos cafés e comem os restos dos clientes que saíram. Ciganas grávidas (sempre grávidas) que insistem (muito) em tentar vender leques ou pacotes de lenços e que voltam a vir ter connosco de 5 em 5 minutos até cedermos. Pessoas que se encostam à saída dos wc à procura de alguém que tenha ido 2 minutos à casa de banho e deixado a mala de viagem cá fora. Ou que entram nos cafés a cada quinze minutos e percorrem as mesas vazias à procura de um telemóvel esquecido.

Eram quatro da tarde quando o autocarro partiu cheio. Quase uma hora mais tarde, o céu azul deu lugar a um cinzento escuro e avermelhado que nunca tinha visto. O ar tornou-se espesso, o condutor mandou fechar as janelas do autocarro e quase não havia carros na estrada. Os que havia passavam devagar, cautelosos e com os quatro piscas ligados. Não se via praticamente nada com o fumo. Quando saímos do fumo espesso vemos o fogo a lavrar nos montes à nossa direita, deixando para trás um rasto de queimado.

Toda a gente tira fotogragias com o telemóvel e eu encosto-me no banco pra dormir, finalmente. Minutos depois há um trovão que faz o autocarro tremer. O céu está escuro, começa a chover torrencialmente e há trovões a passar mesmo junto à estrada. Estamos no meio do nada. Não há casas, os poucos carros que vemos passam o mais rápido possível para sair da tempestade. Estão 35 graus lá fora. Só vi tempestades assim no Brasil mas ainda assim há quem negue que o tempo está a mudar.

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A tempestade à esquerda e o céu limpo à direita junto à costa

Foram 30 minutos de tempestade. Quando nos aproximámos da Costa, o céu ficou azul e o verde cobre as encostas até à praia. Há poucos turistas aqui, a praia é selvagem. Não me admira que haja quase 3 mil ninhos de tartaruga marinha pelo areal (é a maior zona de desova de todo o Mediterrâneo). É lindíssima a Peloponnese como tudo o que já conheci na Grécia (à exceção da ktel).

Porque escrevo?

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Fizeram-me esta pergunta há uns meses e há uns meses que este rascunho paira no meu computador há espera de uma inspiração súbita às duas da manhã.

Podia escrever tanta coisa. Que escrevo melhor do que falo (verdade), que escrever me ajuda a pensar e a guardar memórias (igualmente verdade) mas não sei se isso responde à pergunta de porquê que escrevo aqui.

Eu sei que os blogs se querem leves e inspiradores mas não me identifico muito com isso. Gosto de textos, longos ou curtos não importa, de ler o que os outros têm a dizer sobre isto ou aquilo. Portanto, aqui vai uma coisa pesada que me trouxe muitas perguntas e zero respostas. Há umas semanas (meses?) uma colega da faculdade morreu e esta pergunta deixou sequer de fazer sentido.

Escrevo neste blog porque gosto e parece-me que enquanto cá estamos não há tempo mais bem dispendido do que aquele que passamos a fazer as coisas de que gostamos.

Farturas e memórias

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Comer farturas é tudo de bom. Não pela fartura em si mas porque a combinação do frito com o açúcar por cima me transporta para os dias livres da infância e para as idas à feira aos sábados de manhã com o mesmo pedido de sempre “ó avó, compra-me lá uma fartura”. A resposta era sempre a mesma “isso é só gordura!”. Minutos depois lá ia eu a passear entre barraquinhas de legumes e galinhas com os dedos sujos de gordura e a fartura nas mãos.

Também me lembro da fartura daquelas feirinhas de Verão, iguais em todas as terras, com as senhas para andar nos carrinhos de choque e aqueles jogos de acertar com a bola nos pinos para se ganhar um peluche.

Fast forward para uns anos mais tarde e as farturas (às vezes, o algodão doce) são a minha comida preferida para percorrer o parque Eduardo sétimo entre bancas de livros quando a feira chega com os primeiros dias de Verão.

Fui comer uma fartura a uma feirinha de Verão e pensei em todos estes momentos. Há euros muito bem investidos e aquele euro foi um pequeno preço a pagar por tantas memórias boas. Só veio realçar aquilo que passo a vida a dizer: o melhor da comida são as memórias que lhe associamos.

Ser turista no Porto por um dia

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Nunca tinha ido ao Porto. Imperdoável, eu sei. Entretanto, juntaram-se uma série de fatores. Havia uma exposição que não queria perder e que acabou por ser a desculpa ideal para deixar de adiar a viagem. Queria ir à Lello e passear um bocadinho para desanuviar do fim de (mais) uma época de exames e entrar em modo de férias. Fui e vim no mesmo dia aproveitando uma promoção da cp (ida e volta ficou a 30 euros). Três horas de viagem parece muito tempo mas com uma boa conversa passou a correr.

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Nem sei bem o que esperava da cidade, mas adorei tudo o que vi. Achei o Porto uma cidade linda, cheia de edifícios muito antigos e com muito para ver.

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Como boa fã de Harry Potter que sou (apesar de tardia) fui à Lello. Custou-me um bocadinho lá deixar 5 euros mas isso desvaneceu-se assim que lá entrei. É (ainda) mais bonita do que imaginava, com as escadas vermelhas, a madeira trabalhada, o vitral (maravilhoso) do teto e os livros nas paredes. Só tirava a enchente de pessoas para poder ver os livros com atenção.

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Foi um passeio dos bons. Ficou muito por ver e fazer mas isso não me chateia nada. Gostei tanto que tenho a certeza que qualquer desculpa vai ser boa para regressar.